Quando folhas caem (Em Andamento)
Brienn
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Tipo: Romance ou Novela
Postado: 28/12/22 22:46
Editado: 28/12/22 22:49
Gênero(s): Cotidiano Drama
Qtd. de Capítulos: 2
Cap. Postado: 28/12/22 22:49
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 6min a 9min
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Palavras: 1111
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Livre para todos os públicos
Quando folhas caem
Capítulo 2 Murillo

A disciplina extracurricular de ciências naturais fazia parte do seleto grupo de matérias que tinham sucesso no segundo turno. Acompanhada por ciências exatas e a equipe poliesportiva, era uma boa alterantiva para os alunos que tem tempo livre. Todo encerramento alguém do clube fica responsável por manter os projetos até o ano seguinte e esse ano fiquei com a limpeza e manutenção. Com tudo organizado era só preciso colocar para secar, olhando para as vinte peças em cima da bancada constatei quantas idas e voltas teria que fazer nesse calor tenebroso. Escutei batidas na porta e uma garota entrou na sala marcando o chão recém limpo.

- Saberia me dizer onde é o laboratório de informatica?

- Terceiro piso 302, mas acho que já fechou.

- Eu preciso carregar meu celular, você tem alguma tomada livre?

- Olha - Pensei bem se queria realmente ficar esperando alguém carregar o celular por conta do compromisso. – tenho que terminar algumas coisas e não posso te deixar ter acesso ao laboratório sozinha, talvez tenha sorte com a equipe de exatas.

- Eu posso te ajudar, enquanto isso meu celular carrega um pouquinho, pode ser? – ela entrou na sala e entregou o celular e o carregador, olhei para eles perplexo.

- Eu... preciso colocar essas vidrarias para secar, vamos dividir em quatro grupos de cinco e colocar nas mesas do pátio. – liguei o celular em uma das bancadas.

- Me chamo Amanda – ela estendeu a mão que encarei antes de cumprimentar.

- Murillo. Limpe os pés antes de entrar na sala, vou te mostrar como deve posicionar as vidrarias.

Amanda era uma punk, no mínimo. Seu cabelo rosa e a gargantilha mostrava o total desrespeito com as normas básicas escolares e como provavelmente seus pais deviam ser bem ricos. Enquanto eu indicava para ela podia sentir seu olhar focado no celular como se fosse a coisa mais importante do mundo inteiro.

- É isso, você pega essa e eu vou pegar outra, aí é só me seguir.

- Nunca te vi pela escola, sabia?

- Provavelmente por que estudamos em classes diferentes.

- Qual sua turma?

- 20A, e a sua?

- To na 20D, vim pra cá no começo do ano.

- Bem vinda.

- Acho que é a primeira pessoa que me diz isso – ela sorriu - estuda aqui a muito tempo?

- Na verdade sim, sou da primeira tuma do colégio. Pode colocar nessa mesa aqui. – apontei para a que estava ao meu lado – você veio de qual escola?

- Eu sou da capital.Querpegar as outras caixas antes de a gente arrumar?

- Pode ser. Te olhando assim dá pra dizer que você é da capital, tirando que não tem sotaque.

- Eu escuto bastante isso, acho que é por que fiz fono. – ela abriu a porta da sala, batendo o pé antes de entrar - cara, aqui dentro tá tão bom com o ar.

- Só essas e a gente volta.

- O que o grupo de ciências naturais faz?

- Analisamos plantas, fazemos extratos, investigamos possíveis doenças da horta, coisa assim. Te interessa?

- Não, mas parece divertido.

- Não é divertido. Pode colocar logo na frente da outra – coloquei a minha na mesa e começamos a organizar as vidrariais da caixa. – posso te fazer uma pergunta?

- Depende da pergunta. – ela repetia meus motimentos.

- Por que se veste assim?

- Me visto como gosto.

- Não te incomoda os outros olharem?

- Eu sou mulher, sempre vão me julgar pela aparência indepentende do que eu usar. Podemos voltar.

- Sim, eu levo as caixas vazias. – empilhei as quatros uma sob a outra - Foi uma boa resposta.

Caminhamos em silêncio, não por que achei ela estranha mas por não saber o que responder, reparei em como suas mãos estavam fechadas. Assim que chegamos ela abriu porta mas ficou do lado de fora, esperando. Coloquei as caixas na bancada e peguei carregador e celular.

- Se quiser entrar no clube no próximo ano ia ser bem legal – entreguei para ela.

- Seria legal – ela sorriu dissolvendo a tensão que tinha ficado, olhou para o celular e colocou no bolso – tenho que ir.

- Obrigada pela ajuda.

- A gente se vê.

Assim que saiu de vista comecei a limpar as marcas de sapato que tinham ficado, o relógio na parede mostrava que ainda eram três e dez, tempo suficiente para trocar de roupa, fechar as coisas e ir para a secretária entregar as chaves. No caminho repareo de canto a garota de cabelo rosa abraçada a um rapaz, devia estar esperando ele sair do treino.

- Boa tarde Ana, aqui estão as chaves do laboratório 107, amanhã a Beatriz que vai ficar responsável.

- Certo, só assina a folha de devolução.

- Sabe se já tem alguém me esperando ali na frente? – rabisquei o papel e devolvi para ela.

- Não, mas pode esperar na poltrona da recepção se quiser.

- Obrigada.

Ia dar 17h30 e nada. Ana já tinha recolhido suas coisas da secretária e começava a desligar as luzes. Eu poderia ir apé e avisar que estaria em casa, mas tinham marcado data e hora a mais de um mês que viriam vê-lo, e se eu decidisse ir e aparecessem do nada? Peguei o celular para rever as ultimas mensagens de mais cedo, “estaremos ai” e “a gente te busca as 16h” era a prova de que estava tudo certo, será que mandar uma mensagem ia entregar como estou desesperado? Minha respiração começou a oscilar junto com o formigamento na ponta dos dedos que pareciam azuis, e se eles tiverem desistido? Não seria a primeira ou a segunda família, tão pouco a terceira. Meu coração dói, fisicamente.

- ..., Murillo!?

- Oi, desculpa.

- Preciso fechar a secretaria, mas pode esperar ali na frente.

- Obrigada, mas acho que vou embora.

- Posso pedir um uber.

- Vou andando, mas obrigada mesmo assim.

O caminho para casa era rápido, me sentia um idiota bem vestido. Eu sei que não deveria continuar aqui, meu corpo sabe disso mas, ainda sim, cá estou eu acreditando e sobrevivendo a tudo isso como se magicamente fosse melhorar. Meu celular despertou avisando que já eram 18h e ao invés de ir para casa decidi parar na praça, olhando pra cima enquanto me aproximava o grande jacarandá ostentava toda sua capacidade de existência, me inundando de inveja. Sentei num banco virado para a rua e abri a mochila para pegar a àgua e o remédio, “[...] alguém já conseguiu ir até lá em cima?” fui pego de surpresa quando reparei que haviam duas pessoas sentadas no banco encostado ao meu, “do jacarandá? Acho que não, ele deve ter uns 500 metros...” obviamente que estavam falando da árvore tosca, ele tem só 62, “dizem que o topo é tão perto do céu que se fizer um pedido deus atende na hora.”. Fui obrigada a rir, se isso fosse verdade a árvore já teria escada rolante.

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