Afável
maddie
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 21/02/23 13:59
Editado: 05/03/23 12:23
Gênero(s): LGBT Romântico
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 4min a 5min
Apreciadores: 1
Comentários: 1
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Palavras: 700
Não recomendado para menores de catorze anos
Capítulo Único Afável

Tomas e Álvaro gostavam de fugir do vilarejo durante os dias de sol. Deixavam as ovelhas no pasto e subiam pela montanha correndo, brincando, gritando, sorrindo; tudo aquilo que não podiam fazer em seu vilarejo.

Álvaro gostava, especialmente, quando o moreno segurava em sua mão e o guiava pelos campos. Se pudesse, passaria toda a eternidade cruzando a grama e as margaridas com o toque delicado, mas forte o suficiente para não soltar, da mão de Tom na sua.

Depois dos campos, um pouco mais de floresta e logo estavam no topo da montanha. Álvaro jamais havia se aventurado até ali, mas desde que fora pela primeira vez com Tom, não conseguia deixar de pensar na vista. O mar era até então apenas uma história que contavam a ele, ele nunca havia visto sua imensidão azul, suas ondas, os barcos que iam e vinham e eles praticamente só conseguiam enxergar seus mastros. Foi num desses que Tomas havia chegado até ali, por essa razão Álvaro achava-os ainda mais especiais.

O único lugar que Álvaro gostava mais do que o topo da montanha e mais do que os campos de margarida era a clareira onde se deitavam quando estavam preguiçosos demais para chegar até o alto. Era afastada o suficiente para ninguém achá-los, perto o suficiente para voltarem depressa e banhada pelo sol o suficiente para se sentirem como parte do verão. Verão, essa palavra Álvaro havia aprendido com Tomas, eram os tempos quentes como aquele, os favoritos do garoto dos cabelos cor-do-sol. Cor essa que Tomas achava linda, intrínseca de Álvaro, ele já havia falado isso uma vez. Mas era um segredo, o garoto jamais poderia falar para ninguém.

Por este dia e este segredo Álvaro gostava tanto da clareira. Ali, deitados na grama tão verde que doía os olhos, atirados ao sol quente e impiedoso, eles trocavam segredos que só eles sabiam, que só eles diriam, que permaneceriam para sempre apenas em suas memórias, no verão e na árvore que Tomas havia marcado. Álvaro gostava de segredos, mas somente daqueles que mantinha com Tom.

Se o paraíso existisse, seria a mais alta e verde montanha, onde eles poderiam subir e ver o mar por inteiro. Não se importava se sua mãe reclamava sobre como era perigoso deixar as ovelhas sozinhas, ou sobre quando voltava queimado de sol, e nem sobre como não deveria andar com o forasteiro. Desde que Tomas chegara naquele lugar as coisas haviam melhorado tanto. Álvaro jamais havia sido tão alegre na vida.

Gostava de conversar com o forasteiro, especialmente quando ele o ensinava coisas novas, coisas de além-mar e que Álvaro jamais saberia se ele não estivesse ali. Gostava de ouvir seu vocabulário diferente e aprender novas palavras, então Tom sempre dizia a Álvaro coisas bonitas e o ensinava os seus significados.

Numa dessas vezes, Tom disse que amava estar ali, e que amava o verão, e que o amava, mas não explicou o que significava. O garoto dos cabelos solares não pediu por explicação nenhuma, pois o brilho em seus olhos disse que era uma palavra boa e, se amar era algo bom, Álvaro estava feliz por ouvir isso. E ele sabia que aquilo era verdade, pois o brilho nos olhos de Tom não mentia, o brilho em seus olhos era sincero — esta era outra palavra que ele aprendeu com Tomas quando ele disse que, sinceramente, se pudesse passaria a vida toda ali.

Álvaro não sabia o que era amar, mas se soubesse, diria que amava as tardes que passava com Tomas. Álvaro conhecia a palavra afável; delicado, bom. O toque da grama sob suas costas era afável. O toque do algodão de suas roupas brancas era afável. O toque das mãos de Tomas nas suas, suas gargalhadas, o som de sua voz o chamando pelos campos, quando subiam ao topo da montanha apenas para contar quantos barquinhos havia no mar, os segredos que segredavam somente um ao outro, tudo isso sob o sol ardente das duas horas da tarde, tudo isso era afável.

Álvaro amava tudo que era afável, embora não conhecesse a palavra amar, e Tomas, era para si o mais puro significado que aquela palavra de seis letras poderia ter. A-fá-vel.

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Notas de Rodapé

continua em: http://www.academiadecontos.com/texto.php?id=7638

Apreciadores (1)
Comentários (1)
Postado 17/03/23 17:53

Que coisinha mais fofa!!

Principalmente a imagem de cenário que foi se criando na minha mente enquanto eu fazia a leitura, tudo tão bonito com o campo e as flores!!

Adorei esse romance afável <3