A Preterida (Em Andamento)
6 de Janeiro
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Tipo: Romance ou Novela
Postado: 25/03/23 23:39
Editado: 31/03/23 02:23
Qtd. de Capítulos: 2
Cap. Postado: 26/03/23 01:38
Cap. Editado: 31/03/23 02:23
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 20min a 26min
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Não recomendado para menores de dezesseis anos
A Preterida
Notas de Cabeçalho

“Será que me tornei um vazio aterrorizante?” – eu debatia comigo, eu mesma e nós todas.

“Você é um eco de tudo que passou...” – respondíamos. Mil vozes perdidas.

Capítulo 2 A força

De repente, a escuridão é tudo o que sentia, como se estivesse presa em um abismo profano. Não sei mensurar ao certo, quanto tempo passei assim, pois cada vez que tentava abrir meus olhos, sentia raios, relâmpagos e trovões percorrerem meu corpo.

E então, tudo ao meu redor se tornou uma sensação incolor, com cheiros estranhos e assépticos invadindo minhas narinas. Ardia.

Sempre que eu tentava me mexer, fracassava, como se minhas mãos e pés estivessem amarrados, isso sem falar na sensação horrível e constante... Como se um tubo invadisse minha garganta.

Sufocada e aterrorizada, é como eu me sentia cada vez que recobrava a consciência.

Palavras e perguntas pairavam na imensidão incolor...

O que está acontecendo?

Onde eu estou?

Eu sou real?

Mas minha mente sempre turva, não me possibilitava descobrir nada além de sensações.

O som das batidas do meu coração, ecoavam como um tambor muito persistente e brando.

Sombras estranhas também sempre saíam e entravam naquele local – onde? – E apesar dos meus esforços para gritar, nenhuma força havia restado em minha garganta.

A cada momento, o medo aumentava, e a falta de controle sobre meu próprio corpo me fazia sentir impotente.

“Quem fez isso comigo? Por que estão me mantendo presa aqui?” – me perguntava todos os dias naquela solidão gelada, as palavras ecoavam, batiam no teto, morriam, choviam, renasciam, voltavam com mais força.

Eu tentava me concentrar em qualquer pista, em qualquer detalhe, mas tudo era uma confusão terrível. Não sabia onde estava, quem era e quem estava por perto, por detrás dos vultos...

“Será que me tornei um vazio aterrorizante?” – eu debatia comigo, eu mesma e nós todas.

“Você é um eco de tudo que passou...” – respondíamos. Mil vozes perdidas.

O tempo passava lentamente, eu comecei a notar os sons... Muitos sons de passos, calor, movimento e ardência nas veias... Mais um dia. Poucos sons de passos, silêncio, frio e muito desconforto... Noite.

Eu tinha desvendado um mistério de espaço-tempo? Era isso ou eu preferia morrer naquele instante. Não... Tinham de ser dias se passando...

A cada dia, uma nova descoberta.

Um nome sendo sussurrado, uma promessa, uma conversa entre vultos que deixavam escapar alguma informação.

Minha mente finalmente tinha começado a juntar as pistas desse mistério vital, mas cada pista que se encaixava, mais perguntas surgiam...

E às vezes, eu me deixava sonhar e acessava partes ainda mais complexas do meu eu, da minha alma, que há muito se encontrava adormecida, sem vitalidade.

Mas sonhar e fantasiar, ajudaram minha alma a sobreviver.

“Seus sonhos são imorais, Kayla!” – uma voz rude sussurrou de dentro de algum lugar escuro.

Mas ainda são sonhos, não é?

Em uma dessas possíveis noites, eu andei lado a lado com o meu fim.

Minha alma foi levada para longe do meu corpo... Arrancada de mim…

Minha alma velha... Que nem se lembrava mais de como era... Agora era obrigada a se manter assim bem calada, silenciosa, acorrentada...

Alma minha, por qual motivo me pareces tão gasta?

De que lembranças se recorda agora?

Pra que lado você pensa em fugir?

Pra quais cantos você quer correr?

Sem temer, venha...

Não é minha hora, volte para dentro do meu corpo. Eu preciso nascer de novo.

Venha ver uma nova aurora, sei que esta casa feita de carne e medos é desconfortável, mas é aqui o seu lugar.

Volte a me aquecer, a me fazer viver.

Basta de parar o vento

Basta de tentar adivinhar e contar as horas.

Apenas viva, ouça a voz que te implora:

- Você tem toda a força. Você voltará a ver a vida nas árvores, a ouvir os sons do vento, a ter algum contentamento.

Ó alma, alma minha, a vida não pode ser só seus inventos, a vida corre lá fora, agora, volte para casa. Pois esse ser, com a mente vazia, ainda te aguarda.

O diálogo com o fim, funcionou.

Em algum momento, me senti cada vez mais forte, mais viva, mais capaz de mexer os dedos das mãos, os músculos da face, mudar de posição para aliviar as dores nas costas...

Quando finalmente abri os olhos, tudo estava embaçado e estranho.

Tentei me mexer, mas senti uma dor aguda em minha perna.

Olhei em volta e percebi que não estava mais na praia.

Percebi que despertar não era muito diferente do abismo no qual eu estava antes, era só mais claro. Agora existiam pensamentos, nem sentimentos, nem emoções. Só um vazio frio e assustador.

Era como sentia naquele momento, dentro e fora da minha mente: vazia, perdida e completamente sozinha.

Respirei fundo, me acalmei.

Tentei focar em onde estava...

O quarto era amplo e bem iluminado, possuía paredes brancas com listras verdes desbotadas e o piso era sujo e polido ao mesmo tempo. Havia uma janela grande com vista para o lado de fora.

Surpreendentemente, era um jardim que estava repleto de flores coloridas. Pude ouvir o som dos pássaros cantando e senti uma brisa suave entrando pela janela.

Era menos assustador ouvir esses sons mixados, estando acordada.

Olhei em volta do quarto, notando outros pontos... Eu estava coberta de fios – nariz, boca e braços, esses fios estavam conectados a uma espécie de... Maquinário – talvez, eu não conseguia me lembrar se já tinha visto aquilo antes.

Havia muitos botões e uma espécie de espelho preto que mostrava números e linhas que subiam e desciam, tudo isso acompanhado de um “beep, beep” ritmado.

Fechei os olhos e tentei respirar fundo, lutando contra a sensação de pânico que começava a se instalar em seu peito.

Foi então que uma mulher, vestida de verde claro dos pés à cabeça, entrou no quarto com um sorriso gentil no rosto.

Ela disse algumas palavras e sua expressão parecia reconfortante.

- Você acordou! – ela sorriu – Seus batimentos e respiração já estão estabilizados, isso é ótimo!

A mulher se sentou na cadeira ao lado da espécie de cama que eu estava deitada – imobilizada e impedida de levantar.

Olhei para meu corpo.

Eu não estava mais com as mesmas roupas de antes!

A sensação de que alguém tinha me trocado, me visto nua sem eu estar acordada... O que será que fizeram comigo? Quanto tempo passou?

Sem pensar, agarrei os fios que me cobriam e os puxei, mas eles não se soltaram.

Comecei a gemer de dor, a mulher apenas observava em silêncio, mas quando percebeu que eu estava prestes a me levantar, se pôs de pé e colocou a mão sobre minha testa.

- Não se preocupa meu bem, você está segura agora. – ela tentou alcançar minha mão direita, mas eu a escondi embaixo do lençol que cobria meu corpo.

Pelos traços faciais dela, pude ver que trabalhava duro. Ela era robusta e baixa, sempre mantendo uma postura firme e confiante. Sua voz era tão calma que me dava calafrios, como se eu nunca tivesse lidado com a calma antes.

Seus cabelos pretos estavam presos e uma rede os envolvia. Ela tinha rugas no rosto e mãos pesadas.

Eu não tinha escolha, senão confiar nela.

A mulher mexeu nos fios que estavam grudados ao meu corpo, retirando os do braço e boca. Foi nessa hora que percebi que minha perna esquerda estava mobilizada e elevada por uma faixa branca que estava presa no teto.

- Você quebrou alguns ossos, mas já fizemos a cirurgia e você vai ficar bem. – a mulher percebeu minha preocupação e explicou o que havia acontecido.

Minha respiração começou a desacelerar.

Eu conseguia pensar mais racionalmente agora.

- Você... Fala meu idioma? O que aconteceu com você? De onde você veio? – ela insistia cada vez mais.

Fechei os olhos prontamente quando as perguntas começaram a brotar de todos os lados.

Eu só queria acordar daquele pesadelo.

A mulher, vendo que eu não ia falar nada, se sentou ao lado da cama novamente.

- Estamos te chamando de Maria, pois não sabemos o seu nome... Qual o seu nome? – ela sussurrou.

Desviei o olhar para a janela e para a parte de fora.

Lá fora as árvores brincavam com o vento e algumas pessoas estavam sentadas nos bancos dispostos pelo jardim.

- Bom, você sofreu um trauma e tanto... É comum não se lembrar o que aconteceu... Mas você vai ficar bem. – ela passou a mão pesada em minha testa suada, novamente.

- Você foi encontrada na Praia da Montanha Roxa, o dono da balsa te resgatou e te trouxe até aqui, ele disse que você parecia muito confusa, atordoada e muito machucada. Foi a avalanche, não foi?

Sim, a avalanche! Foi isso.

Mas me mantive em silêncio.

- Foi sim... Mas não se preocupe, logo você vai ficar bem. Eu também guardei seus pertences, você pode tê-los de volta quando receber alta.

Foi quando outra mulher entrou de supetão no quarto.

- Deixe a paciente descansar. Não importune ela com suas perguntas, enfermeira Cláudia! – essa mulher parecia ser superior, pois dito isso, Cláudia abaixou a cabeça e saiu do quarto rapidamente.

Congelei, sem esperar o que vinha pela frente.

Interagir com outras pessoas se mostrou ser muitíssimo cansativo e confuso.

Mas comecei a reparar nessa mulher... Essa já era completamente diferente da outra, estava vestida toda de branco, seus cabelos eram loiros e ela usava óculos.

- Meu nome é Doutora Astrid Hansen. Você está no Centro Médico Sul de St. Olavs, você sofreu um trauma recente e as coisas podem parecer confusas agora...

Doutora? Então eu estava em um hospital!

Neste momento, tive flashs do que parecia ser um conceito de hospital... Bem mais rústico, escuro e sem todas as máquinas e fios, apenas velhos barbudos com ervas nas mãos e poças de sangue no chão.

Mas novamente, não sabia se era uma memória verídica.

- Qual o seu nome? – ela indagou enquanto tirava apetrechos de seus bolsos.

Ela retirou um bastão branco do bolso superior de sua roupa, então o bastão começou a brilhar.

- Vou checar suas vitais. – ela não pediu permissão.

E então se iniciaram minutos angustiantes de luz nos olhos, apetrechos gelados pelo meu corpo e anotações em um caderno.

- Tudo ok... Você está bem – ela disse depois de um tempo - Mas você não me disse seu nome... Como eu vou te ajudar sem saber quem é você? – ela parou de frente para mim e colocou a mão no rosto, pensando, pensando...

- Você parece ser uma menina inteligente, já que sobreviveu a uma avalanche.

- E-e-eu... – tentei falar.

Nome?

Era... Curto... Me lembro do formato das letras.

- Meu... Nome... – estava na ponta da língua, mas não surgia.

Comecei a suar frio, eu não tinha parado para pensar sobre meu nome ainda.

- Não se lembra... – ela observou.

- N-n-não. – respondi.

- Com qual letra começa seu nome? – ela tentou.

- Não... – consegui dizer com a voz grave.

- Tudo bem, estamos te chamando de Maria, mas quando você se lembrar do seu nome, nos avise.

Eu assenti com a cabeça.

- Maria, você sabe me dizer o que aconteceu com você? – essa pergunta fez meu coração disparar.

Vulto lá em cima, queda, avalanche, queda, queda, queda, cervo.

- Caí. – meu peito gelou.

- De onde? – os olhos dela ficaram maiores.

- Vinte metros. – me lembrei da estimativa.

- Você sobreviveu à avalanche! – ela bateu palmas.

- Sim.

- Você foi muito sortuda, eu posso ser médica, mas eu teria morrido lá.

Eu preferia ter morrido lá doutora, teria sido mais fácil.

A morte é fácil.

- Seus pais devem estar preocupados. Você sabe o nome deles? – e com isso, ela me trouxe um novo pensamento insistente.

Pais.

Eu deveria saber.

Um homem de barba longa e uma mulher de rosto triste.

Nomes.

Nomes.

- Não. – confessei.

- Você é aqui de St. Olavis?

- Não.

- De onde você é?

- Tem casas grandes e antigas e tem muitas árvores... Eu acho... – nada fazia sentido, mas me orgulhei por ter conseguido pronunciar uma frase tão longa.

- Você acabou de descrever metade do país... – ela bateu na própria testa, sorrindo logo em seguida.

- É tudo que consigo me lembrar... Eu não sei quem eu sou... – comecei a chorar com a calmaria de uma pós tempestade.

- Com o tempo vamos descobrir tudo... – ela acariciou minhas costas - Agora você precisa descansar. – a doutora tirou de dentro de um armário uma seringa, picando a tampa de um frasco com a agulha que sugou todo o conteúdo transparente.

- Não vai doer nada – ela se aproximou de mim – vai ser só uma picadinha.

Então ela enfiou a agulha em uma de minhas veias, senti uma dor que me deu vontade de vomitar e um breve formigamento por debaixo da pele.

A partir daí, o sono tomou conta do meu corpo e eu apaguei.

Comecei a sonhar.

Pés infantis correndo pelo chão frio feito de madeira. Os pezinhos tropeçaram e um choro se iniciou.

Então a mulher de olhar triste veio, pegou a criança no colo.

“Nada de chorar!” – ela balançava o bebê para baixo e para cima, gritando.

O bebê não obedeceu.

“Não foi uma queda tão feia, pare de chorar!” – a altura da voz da mulher começou a subir cada vez mais.

Aguda e assustadora.

O bebê agora soluçava e estava vermelho.

“Kayla, pare com isso agora mesmo!” – ela soltou o bebê que caiu, sua pequena cabecinha bateu no chão.

E apesar da queda ter sido amenizada por almofadas, doeu mesmo assim.

A criança parou de chorar e olhou confusa para a mulher...

“Você é muito nova para ser manipuladora, Kayla.” – a mulher disse com os lábios retorcidos, antes de sair.

- Kayla! – acordei catapultada.

Olhei para fora e estava de noite.

A mulher vestida de verde deu um pulo.

- Nossa! Então você fala! – ela arregalou os olhos.

- Kayla... – a sensação de ser largada e cair no chão persistia mesmo depois de acordar.

- Seu nome é Kayla?

- Eu acho que sim... – tentava me lembrar com mais detalhes, mas minha mente se tornara um breu – Eu caí.

Vulto lá em cima, queda, avalanche, queda, queda, queda, cervo.

Fui largada.

Corri, tropecei, chorei, acusada, tão nova, muito nova para ser manipuladora.

Muito nova para ser manipuladora.

A mulher de rosto triste e de voz fúnebre.

No fundo, eu não queria ser a Kayla, agredida por chorar. Mas algo me dizia que eu era.

Não conseguia me lembrar do rosto da mulher do sonho. Mas a presença dela nas memórias do pesadelo, me apavoraram.

- Prazer Kayla, meu nome é Claudia, sou sua enfermeira.

- O que é uma enfermeira? – perguntei.

- É uma babá para adultos.

- O que é uma babá? – eu ainda estava confusa.

- É alguém que cuida de você, garantindo que você vai ficar melhor. – ela sorriu.

Comecei a ficar sonolenta de novo, meu corpo começou a pender.

Alguém que cuide de mim...

- Durma Kayla...

O bebê obedeceu.

Dias se passaram e eu aprendi muitas coisas novas sobre aquele mundo que eu não conhecia – ou não me lembrava. Policiais, repórteres, enfermeiras, médicos, muitas pessoas estavam dispostas a me ajudar a encontrar respostas, mas nenhuma das minhas memórias eram boas o suficiente para ceder uma informação que os levasse à verdade.

Depois de algum tempo, tive a sensação que eu ainda deveria estar em fuga ao invés de estar em um hospital.

- Sou uma fugitiva, eu não vim de um lugar bom. – disse a eles, confiando nos flashs aterrorizantes que possuíam minha mente hora ou outra.

Então passaram a me chamar de refugiada, disseram que quando eu tivesse alta, me destinariam a uma moradia que acolhia refugiados e pessoas desabrigadas.

Eu guardei essa informação, mas ela não significou nada por um bom tempo...

Dois meses depois, quando eu já estava andando e me sentindo melhor, me fizeram assinar muitos papéis e então, eu pude sair.

- Este é o endereço da sua moradia, em breve uma assistente social irá te visitar. E você vai começar a fazer terapia Kayla, é importante. – disse a doutora Hansen.

Eu não sabia o que era assistente social e terapia.

Mas parecia ser coisa boa, então confiei.

Um mundo novo me aguardava, o mundo além da janela do hospital.

- Você tem duas escolhas Kayla.

- Quais são doutora?

- Deixar esse trauma consumir sua mente e você nunca descobrir de onde veio, ou permitir se aventurar na própria mente. As respostas estão aí dentro. – ela apontou para a minha cabeça.

- Lembrar dói. – confessei com amargura.

- Você não é essa dor. Agora que vai sair do hospital, você pode recomeçar do zero e reescrever sua história.

- Posso? – senti uma fagulha em meu olhar.

- Com certeza, sim. – a dra. Hensen me acompanhou até a saída, me entregou uma mala com meus pertences e nos despedimos.

Encarei a primavera tímida que se formava na cidade. Entrei no carro que me levaria até minha nova casa e suspirei profundamente.

Algum dia eu entenderia tudo?

Senti que deixei tantas coisas para trás e a perda era tão evidente que meu peito estava pesado.

Como continuar vivendo uma vida da qual eu não me lembro?

Como ser alguém sendo que a impressão que tenho, é que só comecei a existir de fato, depois daquela avalanche?

Havia um buraco, algo faltando. Eu sabia o que poderia ser, mas até então, não tinha pistas reais.

Talvez eu não passasse de imaginação...

- Entre no carro, Kayla. – a doutora coordenou.

Olhei para a frente e vi...

Respirei fundo e fui andando como uma lagarta em um campo cheio de aves.

Continuei andando, ainda me sentindo grogue e confusa. Eu estava com medo e ansiosa, sem saber o que esperar do futuro.

Um homem se aproximou de mim, dizendo que era o motorista da Fundação Nova Era de Paz, seja lá o que é isso.

Ele abriu a porta do carro e me ajudou a entrar, mas eu não tinha ideia do que era aquela coisa estranha. Havia algo metálico na frente, um tipo de instrumento redondo e vazado, acoplado à um painel cheio de luzes coloridas e muitas outras coisas que eu não sabia nem ao certo como descrever.

Eu nunca tinha estado em um carro daqueles antes, nem sabia o que era, afinal, tudo que eu conhecia, eram carroças. Me senti desorientada e encurralei-me no banco de trás, me mantendo fechada.

De tão confusa que eu parecia, o homem leu meus pensamentos e começou a me explicar algumas coisas, mas as palavras pareciam não fazer sentido.

O carro ronronou e começou a se mover, me fazendo sentir como se meu mundo estivesse mudando. Havia tantos sons estranhos, ruídos mecânicos, buzinas, e um borrão gigante de cores passando rapidamente pela janela.

Eu me agarrei no banco, sentindo uma mistura de medo e fascínio.

Queria sair dali e voltar para a segurança do hospital, mas também sentia uma curiosidade crescente...

Eu queria saber o que estava acontecendo, como aquele mundo de fora funcionava.

O homem me perguntou como eu estava me sentindo, mas eu não sabia como responder.

Eu me sentia perdida em um mar de sensações desconhecidas, tentando entender o que havia acontecido comigo e como aquele carro mágico funcionava.

Quando o carro parou, eu desci e empunhei as chaves da minha casa temporária, que segundo as autoridades, eu poderia ficar até encontrar um lugar melhor.

Mas não parecia uma casa.

Era uma construção gigante, cinza e esguia, possuía um milhão de janelas e ao lado dessa construção, existiam outras iguais e mais assustadoras.

Era como uma grande colmeia de pessoas.

Dei alguns passos e bati na porta.

Havia uma espécie de botão na parede ao lado da porta e acima dele um aviso escrito: “Aperte para falar com a recepção”.

Bati de novo na porta.

E de novo.

E de novo.

- Aperte o botão, porra!!! – um berro veio lá de dentro.

O mundo novo parecia mais frio que o inverno.

❖❖❖
Notas de Rodapé

Obrigada por ler mais um capítulo!

Apreciadores (1)
Comentários (1)
Comentário Favorito
Postado 30/03/23 15:08

Essa história é muito intrigante! Está no comecinho, e já tem muito mistério.

O texto é excelentemente escrito, sua habilidade de transmitir sentimentos e vibes de forma clara involvem o leitor logo de cara! Conciso, poderoso, cativante

Amo a sua escrita!

E por favor, dê continuidade e este projeto!

Calorosamente,

Sjow

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