Esta noite eu não durmo, e nem você
maddie
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 22/07/23 11:35
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 7min a 9min
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Palavras: 1190
[Texto Divulgado] "Cinzas no Deserto" Uma história baseada em algumas histórias baseadas em histórias que tanto amamos, de coração. Bora ler.
Não recomendado para menores de catorze anos
Capítulo Único Esta noite eu não durmo, e nem você

Ren, o zumbi.

— Ren, mais quantas horas você vai ficar trancado aí no quarto?

Um Nico extremamente impaciente batia o pé em frente à porta, reclamando pela milésima trigésima quinta vez.

— Já tô saindo!

Ren mordeu a língua de leve, segurando a risada.

Que ele era um sapeca não era novidade alguma, mas a sanha de aprontar era um recorde. Depois de muitas horas de trabalho e paciência para aguentar o namorado reclamando, sua maquiagem artística de zumbi estava prontinha, e seu plano para assustar Nico também.

Como o bom maquiador artístico especializado em efeitos especiais e perfeccionista que era, ele parecia um realista zumbi protagonista de filme. Era o melhor look de sua carreira e ele aproveitaria a noite de festa para mostrar seus dotes artísticos.

Isto é, se sua pegadinha não virasse contra ele mesmo.

Limpou a garganta e se preparou para a atuação que lhe renderia o Oscar, caso realizassem a premiação no seu bairro.

Ah!!! Socorro!!!!

Berrou alto o suficiente para parecer desesperado, mas não tão alto que fosse ouvido por nenhum vizinho. Ele era um homem responsável apesar de tudo.

— Amor! O que foi? — Nico tinha transformado a impaciência em desespero e batia na porta com tanta aflição que estava quase quebrando as dobradiças.

Sem dar mais nenhum pio e tomando cuidado para nem sua respiração fazer barulho, Ren destrancou a porta e se jogou no chão, numa pose típica de zumbi rastejando no chão.

Pouco tempo depois, Nico desistiu de bater na porta e tentou usar a maçaneta. Percebendo que estava aberta, abriu de uma vez, procurando o namorado na penteadeira ou na cadeira e ficando um pouquinho mais desesperado por não encontrá-lo por ali.

Ren sabia bem que ele faria isso e não conseguiu segurar um sorriso satisfeito, mas aproveitou o timing para fazer um rugido do fundo da garganta. Nico engoliu em seco e virou o rosto para o chão devagarinho, encontrando aquela criatura bem pertinho de onde estava. Sua alma saiu e voltou para o corpo, oscilando tanto quanto sua pressão. Assustado demais até para gritar, apenas se segurou na porta, fechando ela com o próprio corpo. Tisc, tisc.

A criatura-namorado então agarrou a perna de Nico, urrando mais alto dessa vez. Aí sim a voz saiu (e a alma de novo, mas tornou a retornar, por sorte de Ren que odiaria ser um viúvo, ainda mais tão novo) e ele gritou.

Ah! Socorro! Demônio!

Com o pouco de energia vital que sobrava em seu corpo, Nico mexeu a perna, tentando tirar a mão do… coiso que o segurava. Mas era tão pouquinha que a tentativa de chacoalhão foi um chacoalhinho que mal tirava a perna do lugar.

Ren não conseguiu mais conter o riso depois dessa. Sorte sua que já estava jogado no chão, senão teria caído na gargalhada. Ele ria quase que maniacamente, enquanto Nico olhava estático para a tal criatura e de alguma forma tentava entender por que a risada era tão parecida com a de Ren. Ele ria tão alto que essa com toda certeza os vizinhos escutaram.

A crise de riso durou alguns minutos, já que toda vez que tentava parar de rir, olhava para a cara de Nico, que já estava branca feito de finado, e voltava a gargalhar.

Com muito custo, já arfando, Ren se ajoelhou, se preparando para levantar.

— Fica longe de mim, demônio! Reeeeennnnnn!

Com a barriga doendo e quase sem ar, o namorado conseguiu não ter outra crise de riso.

— Calma, Nini! Sou eu! — Se aproximou um pouco, ainda ajoelhado e sem forças para levantar.

Colocou as mãos para frente, com medo de tomar um chute, mas Nico apenas se encolheu mais para trás, soltando um gritinho de adolescente de filme slasher. O coitado já tinha lágrimas nos olhos e rezava mentalmente achando que estava no bico do corvo.

Nessa hora Ren ficou com dó, se levantou e falou calmamente.

— Sou eu, Ren, seu namorado. É só maquiagem, relaxa.

Nico não se convenceu.

— Olha, é sangue falso! — Apontou para a ferida de efeito especial que tinha no rosto e depois para o sangue falso na penteadeira. — Eu meio que sou maquiador profissional de efeitos especiais, lembra?

— Eu odeio o seu trabalho. — Foi mais um choramingo do que uma fala de fato, mas foi tudo que Nico conseguiu soltar.

Daí adiante se passaram alguns minutos de um Nico meio desconfiado e para lá de medroso e um Ren cada vez com mais dó (e menos paciência) o convencendo de que ele era ele mesmo e não uma criatura abissal enviada dos confins do Hades para lhe roubar a alma.

— Nico, pela última vez, eu sou eu! A gente vai se atrasar pra festa de Halloween!

O medo se transformou em indignação em milésimos de segundo. COMO ASSIM? Ele quase tinha ido para o beleléu, talvez precisasse de um soro, definitivamente faria um check up cardíaco… e aquele morto vivo ainda queria ir para a festa! Definitivamente era Ren.

— Festa, Ren? FESTA!?

Dessa vez quem ficou com a cara branca foi ele, mas a maquiagem tampava tudo. Ele já estava com cara de cadáver antes, de qualquer forma.

— Eu quase fui pras cucuias e você pensando em festa! — As lágrimas começaram a rolar dramaticamente, lembrando Ren de que ele estava num relacionamento sério com o maior rei do drama do país, continente e talvez do bairro.

— Nico, lembra que eu fiquei horas trancado no quarto, né? Você acha que foi fazendo o quê?

— Eu vou lá saber! Achei que você tava se arrumando igual aqueles filmes de menina adolescente, não que você tivesse fazendo essa desgraça na cara.

A cara de pastel de Ren foi parcialmente coberta pela make, mas adicionaria um teor melhor ainda na briga se pudesse ter sido vista.

— Eu trabalho com isso, Nini! Como você consegue esquecer?

— Ah, sei lá! Na minha cabeça você fazia maquiagem de fantasia e não de terror. — Cerrou os braços, tentando adicionar um ar de autoridade, mas fungou e quase voltou a chorar. — Eu nunca vi você assim!

— É por isso que eu fiz essa maquiagem, pra mostrar que eu não trabalho só com florzinhas no cabelo! — Segurou a mão do namorado, que fez uma cara de assustado de novo. — É uma ótima oportunidade de mostrar o meu trabalho, vamos, por favor.

Nico fez cara de quem ia pensar, mas não durou por muito tempo.

— E se você tirar algumas fotos e a gente ficar em casa? Eu não vou conseguir sair depois desse baque!

Ren levou a mão à testa (com cuidado, para não estragar a make), respirando fundo.

— Fazer o que, né?

Nico deu um pulinho de alegria, mas logo depois murchou de novo.

— Esta noite eu não durmo, — Soltou mais um choramingo. — e nem você!

EU? — Ren apontou para si mesmo, incrédulo.

— É! A culpa é sua! Toda hora que eu ficar assustado vou te acordar, pode ir se preparando.

Ren deu um muxoxo em protesto, mas sabia que tinha cavado a própria cova, com o perdão do trocadilho.

De qualquer forma, no dia seguinte estaria um zumbi; se não pela maquiagem, pelo cansaço e olheiras de uma noite mal dormida.

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Comentários (1)
Postado 21/09/23 18:18

Devo admitir que eu sou totalmente o Nico. Se alguém fizesse essa piada de mal gosto eu iria ter um infarte, certeza haha

Adorei que o título do texto é justamente o momento da vingança!

Muito fofo, apesar de assustador :)

Parabéns pelo texto tão bom de se ler <3

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