Gosto de pêssego
Tháiza Lima
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 18/05/16 23:10
Editado: 05/09/16 14:51
Gênero(s): Drama Romântico
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 4min a 6min
Apreciadores: 6
Comentários: 4
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Palavras: 760
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Livre para todos os públicos
Notas de Cabeçalho

Devia ser um texto romântico, acabou saindo mais... trágico que o planejado, acho -.-'' e eu tentei deixar o narrador neutro, não sei se deu certo, ahsuasu, imaginem como preferirem, boa leitura :3

Capítulo Único Gosto de pêssego

Giovanna era uma daquelas garotas por quem você se apaixonaria à primeira vista. Claro que você não faria isso, afinal, eu coloquei o tempo verbal no passado, e naquele passado, (oh, aquele belo passado) ela era minha.

Essa rapariga, com os cabelos longos e cacheados, chegava bailando em qualquer recinto. Ela possuía um ar de bailarina, uma delicadeza surpreendente, sempre na ponta dos pés para caminhar e nunca tocando os calcanhares no chão.

Giovanna tinha, se não me engano, quatorze anos quando a conheci. Menina bela, ainda no nono ano, tão inteligente!

E eu? Bom, para que falar de mim quando tenho essa musa para descrever? Giovanna era um pôr do Sol, ela demandava atenção. Ela tinha um quê de princesa, rainha das noites de lua cheia, flor de cerejeira, embora não seja flor que se cheire.

A menina, naquela época, vinha todo dia para a escola com perfume de frutas cítricas. Eu até cheguei a decorar os dias: segunda era laranja, terça era abacaxi, quarta era limão, quinta era morango e sexta-feira, pêssego. Esse último perfume combinava tanto com seu ar sutil, com sua feminilidade, com seu jeito de realeza.

Giovanna gozando de sua mocidade era sempre querida, não havia quem dela não gostasse. Quando ela reparou em mim, meu coração se encheu de felicidade! Ela havia me notado, ela havia notado quem passava horas e horas escrevendo versos nas últimas folhas do caderno, ela havia notado quem passava horas e horas desenhando personagens sem real distinção, ela havia me notado.

Aquela garota a quem sempre admirei vinha em minha direção, e disse com seus lábios manchados de glitter meu nome e uma confissão. Se eu pudesse escolher um momento para morrer, seria qualquer um menos aquele dia.

Ela, (céus, ela, essa menina!) encarando-me com seus olhos negros e gentis, disse que reparava em mim desde o primeiro dia de aula. Ela disse que gostava do meu jeito calado, das minhas expressões sinceras, da minha voz aveludada e sem real diferencial de outras pessoas da nossa idade. Ela disse que queria ser minha amiga!

Logo nossa amizade foi evoluindo, eu com minhas palavras e desenhos, ela com sua gentileza e trejeitos de princesa.

Nosso primeiro beijo foi numa sexta-feira, mesmo dia que descobri que seu gloss brilhante combinava com o cheiro do perfume que ela usava. Naquele dia, Giovanna tinha gosto de pêssego, e eu não tinha gosto de nada muito importante.

Todavia, ela demandava atenção que eu não podia dá-la. Eu devia ter sabido que uma menina tão majestosa queria ser tratada como rainha.

Eu tentei, juro que tentei. Amei-a com todas as minhas forças, com todas as minhas ações, palavras e sentimentos, mas não era suficiente. As pessoas soberbas nunca estão satisfeitas, e um dia toda a nossa magia se desvaneceu.

Foi logo no meio do primeiro ano de ensino médio, eu havia notado a diferença antes dela dizer que queria terminar.

Ela parou de vir com seus perfumes cítricos. Ela veio com um perfume doce e enjoativo, o qual irritava meu nariz. Seus lábios antigamente brilhantes se tornaram opacos à medida que batons de cores escuras os tingiam. Ela não era mais minha bailarina, minha princesa; Giovanna se tornara uma Rainha por si própria.

Por fim, inevitavelmente, essa Rainha encontrou um Rei.

Eu fiquei à margem, terminamos sem termos oficialmente começado, sem palavras e apenas ações. Seu Rei a dá atenção, tudo o que precisa. Deve pensar nela vinte e quatro horas por dia, pessoa sem nada para fazer, muito provavelmente.

Eu continuo com minhas palavras e desenhos, a Giovanna que eu conheci está imortalizada nas últimas folhas do meu caderno. Todos os dias ainda honro sua memória, e agora seu perfume e gosto de pêssego estão impregnados em mim.

"Amada, o tempo que fiquei contigo foi o mais feliz da minha vida. É uma pena que nada dura para sempre, e talvez eu não seja a melhor pessoa para colocá-la no foco de luz. Afinal, chamo atenção demais expondo meus desenhos para outras garotas, não?

Espero que esteja feliz com seu novo amor, princesa.

Ass,

Alguém que você ignora no corredor

P.S.: Você esqueceu seu perfume de sexta-feira na minha casa. Se quiser que eu o entregue, por favor, responda o bilhete, odeio quando você me ignora. Estou falando sério, eu vou ficar com ele se não disser nada. É a última vez que aviso (já que você ignorou todos os quinze bilhetes que entreguei para o Arthur).

P.P.S.: O Arthur realmente entregou todos os bilhetes? Estou começando a suspeitar que ele não entrega nenhum."

❖❖❖
Notas de Rodapé

<3

Apreciadores (6)
Comentários (4)
Comentário Favorito
Postado 19/05/16 14:09

Bah, que escrita impecável! Todas as informações estão casadas, todas as vígulas estão postas, todas as palavras estão bem escritas. Sinceramente, isso tá muito bom e enriquece muito teu texto. Parabéns por essa qualidade.

Sobre a história em si, achei legal. Eu não sou muito fã de coisa fofa, hehe, mas esse texto tá fofo e me agradou. Uma, por está bem escrito, como já disse acima, e outra pelo garoto aparentar ser uma pessoa como todos nós: que ama, sofre por amo. Que tem suas qualidades, mas seus defeitos. Isso é muito bom num texto.

Sobre o romance não dá certo, achei bom também, hahaha. Sei lá. Parece que o cara não quis entregar sua vida a outra pessoa. Isso é sensacional!

Parabéns! Continue sendo foda assim!

Postado 19/05/16 07:46

Belíssimo. O garoto que se apaixonara por Giovanna é a minha "cara". Gostei pakas do conto, sutil e leve. Delicado. O inverso completo do meu ultimo conto, hehe. Parabens!

Postado 26/05/16 23:19 Editado 27/05/16 00:34

Fico feliz que tenha gostado *u* e que bom que se identificou com o garoto, suashua. Obrigada, muito, muito mesmo :33

Postado 02/06/16 21:30

Lindo como só vc poderia fazer, Thaíza!

Postado 12/07/16 00:07

Obrigada, Joy <33

Postado 18/11/17 15:33

Li esse texto há um tempo, mas, como o site entrou em manutenção, não tive a oportunidade de comentar anteriormente.

Ah, moça Tháiza, o que dizer das tuas obras maravilhosas?

Acho extraordinário como você pega coisas do cotidiano e as transforma nas mais belas obras. Acho que ninguém consegue descrever melhor que você um amor platônico, totalmente intenso e cheio sentimentalismo. Tudo nesse texto é belo e melancólico na medida certa, o que não o faz cair no clichê habitual que encontramos em textos com este gênero.

Meus parabéns! Obrigada por sempre nos encantar com tuas obras!

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