Sim, a primeira conclusão a que se chega, tratando-se da Corvinal, é que corvinos são sempre os destaques no ambiente acadêmico. Alunos excelentes, com notas impecáveis e histórico escolar invejável. Entretanto, não é bem assim que a banda toca (e eu espero conseguir demonstrar o porquê).
Prepare-se pra acompanhar a minha — incrivelmente torta — linha de raciocínio.
1. Quem são os alunos da Corvinal?
"Ou será a velha e sábia Corvinal,
A casa dos que tem a mente sempre alerta,
Onde os homens de grande espírito e saber
Sempre encontrarão companheiros seus iguais."
— Chapéu Seletor
Os alunos da Corvinal são sagazes, sábios e criativos; costumam ter uma excelente memória e geralmente aprendem com facilidade.
2. O que é ser um bom aluno?
No universo de Harry Potter, o sistema de ensino é bem similar ao que temos hoje na maior parte do mundo: um professor por matéria, alunos sentadinhos em suas mesas, apostilas, matéria sendo copiada nos pergaminhos, trabalhos para entregar, notas mínimas. Temos os N.O.M.s e N.I.E.M.s — qualquer semelhança com o ENEM e vestibulares não é mera coincidência. Para esse sistema, bons alunos são aqueles que cumprem os prazos, atingem notas altas em todas as matérias (ou na maioria delas) e que se comportam como é considerado adequado — nada de explodir salas de aula, correr pelo castelo ou se esgueirar pelos corredores à noite.
Algum desses critérios, eu te pergunto, é um avaliador eficaz de inteligência, sabedoria ou grande espírito? Respondendo à minha própria pergunta: não. Assim como sabemos, hoje, que a inteligência humana é muito mais que testes de Q.I. e notas alcançadas na escola, também podemos estender essa compreensão ao universo de Harry Potter. O sistema de ensino atual é exatamente o mesmo sistema de ensino instituído pelos fundadores de Hogwarts há mais de mil anos. Não houve grandes alterações na estrutura educativa e, até onde me consta, não parece haver muitos teóricos da Educação trabalhando em novas maneiras de se abordar o ensino em Hogwarts.
Assim, ser um bom aluno não é sinônimo de ser uma pessoa inteligente, sábia ou de grande espírito. Bons alunos podem ser pessoas apáticas, meros receptores de um conteúdo engessado que não forma pensadores, mas repetidores de fórmulas. Alunos "comportados", que se submetem às regras, nem sempre são aqueles com aguçada curiosidade e vontade de explorar, descobrir e compreender. É por isso que não gosto muito da ideia de alunos bons ou ruins. Há apenas pessoas que se adaptam ou não ao sistema educacional e isso pouco ou nada se relaciona à inteligência.
3. Afinal, o que significa ser um corvino?
Ser um “bom aluno” não garante nenhuma das virtudes da Corvinal e, portanto, sucesso acadêmico não pode ser considerado uma característica da Casa. O sucesso acadêmico costuma ser facilitado pelas virtudes do corvino, isso é certo, mas baixo desempenho acadêmico de maneira alguma torna alguém mais ou menos merecedor de pertencer à Casa. Pessoas inteligentes tiram notas baixas. São reprovadas na escola. Pessoas sábias não são apenas as que você encontra dentro de uma Universidade (para ser sincera, a grande maioria dos acadêmicos não costuma ser muito brilhante). A grandeza de espírito não está subjugada às páginas de um livro.
Para ilustrar melhor o que quero dizer, tomaremos como exemplo duas personagens: Hermione e Luna.
Em certo momento, Hermione menciona que o Chapéu Seletor considerou seriamente colocá-la na Corvinal. Conversando com minha irmã a respeito, chegamos à conclusão de que, apesar da Hermione apresentar a maior parte das virtudes da Corvinal — mais que o suficiente para pertencer à Casa —, faltava-lhe a mente aberta. Em diversos momentos ela é extremamente intransigente quanto a fontes “extra-oficiais”, como o livro do Príncipe Mestiço ou as aulas de Adivinhação.
Hermione era extremamente rígida quanto a prazos, leituras obrigatórias e notas. Seu interesse pelo conhecimento é certamente impressionante, mas sua urgência em alcançar metas, atingir notas altas e se destacar na hierarquia social acadêmica sempre foi maior que o amor pela sabedoria (basta lembrar do episódio do Príncipe Mestiço, quando ela se irritou profundamente com o Harry pelo reconhecimento que ele recebeu do Professor Slughorn). Isso não significa que sua vontade de aprender seja menos válida, apenas acrescenta outros fatores às suas motivações. Ela jamais aceitaria ser menos que perfeitamente adequada.
Luna Lovegood, na contramão, é uma das personagens que melhor representam a essência da Casa Corvinal. Ela não tem grandes ambições acadêmicas, não se importa muito com o status quo e certamente não liga se suas opiniões e interesses não são convencionais. Sua inteligência, sabedoria e sagacidade estão profundamente atreladas ao seu amor pelo conhecimento, da maneira como ele se manifestar, despido de regras ou aparências. Sempre gostei de imaginá-la como uma aluna desinteressada em prazos, provas e outros meios de avaliação, pois ela sabe que livros e apostilas são apenas instrumentos na busca incessante pelo saber.
Para Luna, todos os pontos de vista são válidos. Ela é capaz de se permitir olhar as coisas por outro ângulo (muitas vezes, literalmente), pois sabe que não há verdade absoluta no mundo. Essa é outra característica da Corvinal: a verdadeira sabedoria é compreender que não é possível conhecer tudo. Estar ciente de que ser humano significa ser limitado e falho. É não se deixar iludir pela falsa ideia de que somos qualquer coisa além de ridículos.
Como diria Sócrates: só sei que nada sei.
Resumo da Ópera: alunos da Corvinal costumam ser "bons alunos" porque as virtudes da Casa facilitam. Isso não significa que ser um bom aluno seja uma das características da Casa.
Essas foram minhas considerações a respeito desse tema. Espero que tenha feito algum sentido ~haha
Talvez eu esteja viajando na maionese, afinal, essa é uma interpretação completamente pessoal sobre a Corvinal. Adoraria saber sua opinião ❤ receber comentários sempre melhora meu dia em 200%
Como funciona isto aqui? Preciso de, no mínimo, 100 caracteres para descobrir.
Decidi digitar 100 em algarismos, não por extenso - cem - por pura falta de opção. Ambas as formas têm 3 caracteres e você já deve ter notado que estou enchendo linguiça por aqui.