Nada é para sempre.
Vitória Turbiani
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 09/08/16 10:25
Editado: 09/08/16 10:27
Avaliação: 9.64
Tempo de Leitura: 6min a 9min
Apreciadores: 8
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Palavras: 1102
[Texto Divulgado] "Desejo Insano — Versão Hot" No camarim número 6, entre espelhos quebrados e fantasias rasgadas, Rafael ainda veste a pele do monstro — literalmente. Quando Dênis, o produtor, entra no recinto, o que começa como provocação teatral se transforma em um ritual de instintos primitivos. Desejo Insano é um conto de terror queer onde o medo e o desejo se confundem, e o palco se torna território de caça. Quando a luz apaga, não há mais personagem — só carne, suor e pulsação.
Livre para todos os públicos
Notas de Cabeçalho

Primeiro texto meu que eu coloco tudo, tudo mesmo, o que sinto em relação a algo/assunto. Pois bem, espero que gostem. Tudo que foi escrito nesse conto veio do meu coração. E eu.. Bom, realmente ainda sinto muita, muita falta da minha "amiga" retratada como Mary no texto.

Enfim, boa leitura a todos. Casa queiram uma trilha sonora: https://www.youtube.com/watch?v=RxabLA7UQ9k

Beijos <3

Capítulo Único Nada é para sempre.

— Hey! Vamos logo, Sammy! Não quero me atrasar por sua causa!

As risadas e os passos rápidos de duas crianças enfeitavam as ruas que passavam. Ah, infância. Que época boa de se viver... Ainda mais quando se tem uma amiga-irmã que dizia sempre estar ao seu lado, não importando o que acontecesse. No caso, as únicas preocupações que as duas tinham eram: castigos de suas mães e/ou enfrentar aquele grupinho de garotas metidas que se achavam as melhores.

— Calma, Mary! Eu estou sem fôlego!

A mais alta riu baixo e desacelerou, dando meia volta e caminhando até a menor que respirava profunda e rapidamente.

— Relaxa, tá? Se recomponha. Vamos mais devagar agora e quando chegarmos na aula eu digo para a senhora Elsa que eu quem atrasei.

— Mas...

— Shh. Somos amigas, não somos? Não vou te deixar levar outra advertência.

O sorriso de Mary iluminou os olhos castanhos da menor que também sorriu. A loira era, para Sammy, sua heroína – sempre a salvava e, segundo as palavras dela, sempre a salvaria.

Então, recompondo-se, Sammy segurou a mão de sua irmã e ambas partiram para a escola, conversando sobre tudo e, ao mesmo tempo, sobre nada.

— Mary, me explica uma coisa?

— Pode dizer, Sammy. O que é?

— Por qual motivo nenhum garoto olha pra mim e todos olham para você?

A loira olhou para a menor, suspirando. Estavam, agora, com treze anos. Puberdade. O momento da vida das pessoas que começam os problemas relacionados ao amor e a segurança de ser quem é mesmo indo contra os rótulos da sociedade.

E Mary tinha, agora, um grande problema para lidar. De fato, os garotos só tinham olhos para ela e não para Sammy. A menor era tímida, um pouco gordinha, rotulada como a estranha e esquisitona da escola por causa de seus gostos. Já ela, a loira dos olhos azuis, era a bonequinha extrovertida e tagarela. Aquela que sempre fazia tudo do modo mais perfeito e chamava a atenção dos outros por conta de sua personalidade.

Sammy e Mary eram diferentes. Diferentes ao extremo. E, mesmo assim, parecia que nada abalava a irmandade das duas.

— Ora, Sammy. Quem liga pra esses idiotas?! Olha só pra você, uma garota linda e completamente inteligente. Não se deixe abalar por essas coisas.

Sammy desviou o olhar e deu um sorrisinho amarelo. As lágrimas ameaçaram a escorrer, mas ela segurou. Não iria chorar na frente de Mary. Nunca.

— É... Tem razão.

— Sammy, preciso te dizer uma coisa...

Mary estava olhando para baixo e parecia tremer um pouco. A menor engoliu em seco e esperou, sentindo o vento bagunçar seus cabelos cor de chocolate.

Estavam no quintal da casa de Mary, comendo morangos com chocolate – preparados pela loira, que era excelente, até mesmo, na cozinha.

— O que, Mary...?

— Eu vou me mudar.

— Ora, mas isso não é bom?! Você sempre disse que não gostava de morar nessa casa. Agora terá uma nova!

— Sim, eu sei... Mas... Eu quis dizer que vou mudar de cidade.

Ao ouvir aquilo, Sammy largou o morango que estava em sua mão e ficou encarando Mary. Mal respirava e não sabia o que dizer ou o que fazer. Estava perplexa, sem reações. Sentiu seu corpo começar a tremer e seu coração a bater mais rápido. O desespero instalou-se nela.

— O que...? Como.... Como assim...? Você vai me deixar...? Eu vou perder você? É isso...?

— Não! Sammy, não vou deixar você. Vamos nos falar pelo celular e pelo facebook, eu prometo! Você não vai me perder.

— Mas... E na escola? Com quem vou ficar? Vou... Vou ficar sozinha lá... Completamente sozinha...

— Não vai! A Isabel ficará com você. Ela gosta da gente, esqueceu?

— Ela gosta de você, Mary. Ninguém lá gosta de mim.

A loira abaixou a cabeça e nada mais disse. Aquilo, para a menor, significou o adeus. Então, virando-se, Sammy correu para fora da casa de sua amiga, chorando e com o coração apertado.

Sammy andava lentamente pelas ruas do centro da cidade. Tinha, agora, seus dezenove anos. Estava cursando Direito numa faculdade em sua cidade e namorava um rapaz que a amava verdadeiramente. Era visível tal sentimento só de olhar nos olhos dele. O cabelo da garota estava, agora, com luzes. Loira. Em homenagem a Mary.

Ela parou em frente a uma sorveteria e sorriu tristemente. Lembrou-se de quando ia tomar um milk-shake com a sua amiga-irmã e sentiu as lágrimas escorrerem. Tratou de limpá-las logo, não queria que seu amado a encontrasse assim.

— Quatro anos e meio...

Ela sussurrou para si mesmo o tempo que se passou desde a mudança de Mary. A maior cumpriu sua promessa. Elas conversaram por um bom tempo pelo celular e facebook, porém, aos poucos a distância entre elas fora aumentando. Não fisicamente, mas, sim, sentimentalmente. As irmãs se tornaram colegas e estava no ponto de tornarem-se apenas conhecidas.

Então, ao olhar para frente, seu coração deu um pulo e parou. Lá estava ela. Sua irmã. Sammy sorriu ao vê-la e deu um passo para atravessar a rua e ir correndo até Mary para abraça-la. Era o que mais queria na vida.

Porém, algo a fez recuar. Mary não estava sozinha; ao seu redor encontrava-se um grupinho de cinco pessoas. A loira ria e sorria, divertindo-se com eles. Deveriam estar conversando sobre algo bem engraçado enquanto esperavam por alguma coisa, já que estavam sentados numa mesa do lado de fora da lanchonete.

Sammy sentiu-se vazia. Sentiu-se solitária. O choque da realidade acabara de bater em sua face. Por qual motivo Mary não avisou que voltaria para a cidade? E se ela sequer tivesse saído e inventou uma desculpa para se afastar dela?

Trincando os dentes, a menor tentou engolir o choro mas não conseguiu. A dor em seu peito era tão forte que ela sentia vontade de arrancar seu coração. O sentimento de solidão e tristeza ficavam cada vez mais forte.

Dando uma última olhada para Mary, Sammy percebeu que a loira estava olhando para ela. Por um instante, a menor teve certa esperança. Sua irmã a chamaria ou iria correndo até ela para saber o motivo de estar chorando.

Mary desviou o olhar e voltou a rir e sorrir com seu grupinho.

Sem palavras e completamente machucada, Sammy virou-se e voltou a andar. Dessa vez, cabisbaixa, chorando e praticamente se arrastando até o local de encontro que marcara com seu namorado.

— Nada é para sempre...

Ela sussurrou para si mesma e deixou-se cair sentada no banco da praça. Teria que dar muitas explicações para Marcel. Mas, no momento, ela apenas queria chorar. Chorar até suas lágrimas secarem-se e a dor em seu peito, pelo menos, diminuir.

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Postado 09/08/16 11:46

Eu estou triste, muito triste! Que texto chocante foi esse? T-T

Cada palavra transfere o sentimento de perda e saudade de uma amizade que foi verdadeira. Passar por isso é algo muito ruim, porém nos ajuda a entender a ideia de que nada dura para sempre. Você expressa MUITO BEM para o leitor o real foco do texto criando e descrevendo situações que podem acontecer com qualquer um no momento mais inesperado. Acho que o fato desse sentimento de ausência ser retratado de uma forma tão simples, torna cada palavra fantástica.

Te parabenizo por essa escrita verdadeira e carregada de sentimentalismo. Nem tenho palavras suficientes para descrever o quão incrível ficou essa obra.

Parabéns, Vitória!

Postado 13/08/16 14:29

Obrigada, Sabrina! Muito obrigada mesmo.

Esse texto é... Minha vida, recentemente. Toda vez que leio ele (tenho mania de ler e reler meus textos. Todos eles) me dá um aperto no coração... É doloroso demais perder alguém. É agonizante.

Enfim, muito obrigada mesmo. <3

Postado 09/08/16 10:33

Excepcional, Vi! Meus muitíssimos parabéns e minhas lamentações, também.

É sempre ruim ter de simplesmente esquecer alguém que você achou que estaria lár para sempre.

Esquecer o inesquecível, o que perdura e amarga é, certamente, arrasador.

Postado 09/08/16 10:50 Editado 09/08/16 10:51

Muito obrigada, Gio. Muito obrigada mesmo. <3

Postado 09/08/16 14:46

Ai senhorita... doeu tanto ler seu texto...!

Passei por algo quase semelhante uns anos atrás. É o pior sentimento do mundo passar do lado da pessoa na rua, e nem sequer poder falar ''oi'' , sentindo-se insignificante perante os novos amiguinhos dela...

Ela sempre me mandava textões gigantes pelo facebook no dia do meu aniversario, e eu mandava para ela também. Agora, infelizmente não tive coragem de ''excluir'' ela (que por algum motivo sádico também não me excluiu), e tenho que ver os textões gigantes que ela manda pros novos amigos, e que esses amigos mandam para ela...

Mas fazer o que, temos que aceitar que as vezes precisamos deixar algumas coisas para trás, e nesse caso ela me deixou.

A vida é assim...

Meus infinitos parabéns pelo texto maravilhoso Srta Vitória!!!

Um abraço, Meiling!

Postado 13/08/16 14:31

Estou passando por isso agora Mei. É exatemente o que você disse em seu comentário... E eu sei que eu tenho que aceitar isso tudo, mas... Caraca, não tem como. Ela era, de fato, minha irmã. Como ela dizia, "somos irmãs siamesas".

Muito obrigada, Mei. <3

Postado 11/08/16 15:45

Personaficação da tristeza é esse conto - e de outras coisas mais que o horário não permite dizer! Nossa, eu pude sentir o vazio da Sammy. Quando eu leio esse texto só me vem à cabeça a imagem das pessoas importantes pra mim fazendo o mesmo. E quando eu imagino isso, sinto exatamente o que ela sentiu. Um vazio enorme...

Muito bom, Vic. Boa sorte no desafio! E que bom que voltou a postar! <3

Postado 13/08/16 14:33

No momento em que escrevei, deixei de me chamar Vitória e passei a me chamar Tristeza. Haha. Obrigada pelo comentário, Joy. <3

Postado 13/08/16 14:42

Que triste ;-----------;

Poxa, a história deveria ter um final feliz. :(

Postado 13/08/16 14:43

Mas é pro torneio, poxa D:

Aah, Juh.... Se todas as histórias tivessem finais felizes... Seria tão perfeito...

Postado 13/08/16 14:54

Sniff :c Vem cá, eu te abraço!

Postado 19/08/16 02:13

O mais interessante é que seus textos nos mostram mais da autora por trás da obra, nos mostra suas experiências de forma subjetiva e como ela consegue se expressar artisticamente. Perder pessoas importantes é uma barra, elas sempre vêm e vão, sempre voltam quando lhes convêm e sempre nos machucam ou nos dão esperança com isso. Mas o que podemos fazer? Como podemos lidar com isso? Sinceramente? Você mostrou como, sentindo a decepção e frustação, lindando com ela como sua essência acha melhor de lidar. Chorando, gritando, socando algo, levando numa boa, ignorando, etc etc. Toda forma de lidar é válida, contanto que isso faça o protagonista consiga amadurecer.

Bom texto, continue assim e espero que poste mais :')

Postado 22/08/16 22:46

Não pago internet pra você vir e ferir meus sentimentos de uma maneira tão linda que eu pediria pra machucar mais um pouco, poxa, que texto lindo, e sentimental, meu coração está em frangalhos, mas meu eu poético está apaixonado, parabéns, lindo.

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