Vim correndo pra matar teu tédio,
Pra te ver sorrir por aqui
E desabar pelo teu quintal
Pra te presentear uma flor de Jasmim
E dizer que contigo o dia não vai mal.
Vim correndo pra deixar a correria para atrás,
Pra te dizer que te quero longe nunca mais,
Pra ser, Nos colos e arredores teus,
O pouco que com os outros não sou.
Vim para matar todos os segundos de saudade
Que se estenderam por uma semana inteira,
Todos aqueles gastados pensando,
E que quanto mais pensava, mais passava.
Vim e, agora, não me retiro do teu lado,
Que tua fragrância, tão arrogante e mundana,
Me quer perdido no olfato.
Não descolo do nariz teu que o meu toca por inteiro
Que me faz feliz teu riso
Quando o vento vem, baderneiro,
E lança teu cabelo sobre o rosto meu.
Não ouso mudar meu horizonte de visão,
Teus olhos, cristalinos, refletem-me calma,
Perco-me na composição cor-de-mel de tua íris,
Que parece dançar e mover-se,
Contornar-se e destoar-se
Ao som, ao fundo, de Wonderall de Oasis.
Teu recitar tão claro, arrastado e sussurrado
Incitam-me a audição,
Recitas Drummond
Com calma e paixão sem igual,
Perco-me em pensamentos com tua eloquente voz
Até que a última estrofe se apresenta,
Olho para ti antes de recitá-la
E sinto o que precede o tempo
Enunciar a meu coração:
"Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão."
Perco-me sentido por sentido
E perdido no abismo de ser
E pertencer a quem também tenho
Sinto todo sentimento de posse se esvaecer
E penso:
"A posse é para quem possui,
Mas decidiu por se conter,
Quem sente a abstração do corpo
Sabe que conter a alma não é uma opção,
Tocar o intocável do outro
É ser tocado com a mesma imensidão."