Parecia que o relógio estava quebrado e nós estávamos parados no tempo. Naquele momento até o vento soava com menor frequência do que o normal e impedidos de iniciar qualquer ação, a monotonia tomava conta do ambiente e por alguma razão aquilo em vez de me acalmar, me deixava mais impaciente.
Alguns minutos se passaram e eu me perguntava até quando iríamos ficar ali presos. Com o nível de tolerância esgotado, levantei-me da cadeira de madeira e comecei a andar pela sala e ao chegar próximo da janela, pude avistar de longe uma pessoa e aquilo havia chamado a minha atenção, de repente meus olhos se fixaram naquela pessoa e eu queria poder estar do lado de fora como essa pessoa parada calmamente debaixo de uma enorme árvore.
- Volte para o seu lugar! – disse um homem sério e mal-humorado.
Foi nesse instante que fechei os punhos e tentava me controlar pra não causar mais nenhuma confusão. O homem sério me encarava com desconfiança e eu engolia seco todas as palavras rudes que eu queria lhe dizer. Abaixei a cabeça me perguntando até quando eu iria ver a injustiça prevalecer naquele lugar e foi-me mandado erguer e responder corretamente. Sem medo eu disse ao homem sério de que eu não estava ali para causar confusão. Após dar algumas explicações retirei-me daquela sala e ao passar pelos corredores, observei as pessoas falando baixinho sobre mim e sobre o que eu havia feito. Andava lentamente me sentindo um justiceiro e carregava comigo uma carta do homem sério para a minha família.
Uma semana se passou e fui obrigado a retornar naquele lugar e logo na entrada avistei a árvore onde vi aquela pessoa paralisada, logo aquilo me deu um incentivo a entrar no local. Ao chegar no meu destino, tudo parecia entediante, até que foi me dado alguns minutos e na biblioteca do local eu encontrei refúgio e paz. Estava a ler um livro de poesias quando um doce perfume exalou-se no ar e ao olhar para o lado das estantes, ali estava a pessoa que tinha visto anteriormente. Novamente ela havia conseguido chamar a minha atenção. Perplexo por sua beleza, a timidez tomou conta de mim e eu apenas mantinha meus olhos fixos no dela. Ela por sua vez, veio caminhando até a mim , mas havíamos sido interrompidos quando a bibliotecária pediu para que todos voltassem a suas respectivas atividades e, em meio aquela confusão ao olhar para o lado novamente, aquela doce menina não estava mais ao meu lado.
Voltei para o meu lugar pensando nela e comecei a perguntar para os outros se eles conheciam a menina que usava um vestido preto e uma fita cor de rosa e todos balançavam suas cabeças e diziam que nunca fora visto alguém como ela nesse local. Naquela hora fiquei intrigado e não via a hora de vê-la novamente. Eu queria conhecê-la.
Nos dias seguintes eu a via nos mesmos lugares, mas a biblioteca era o local onde mais a encontrava. Sempre que a via ela lançava um sorriso e aquilo enchia o meu coração, mas por alguma razão sempre quando nos aproximávamos algo acontecia e éramos interrompidos até que, num dia chuvoso não havia lhe encontrado e então percorri todo o local procurando-a. Cansado e desanimado entrei na sala e busquei um lugar próximo a janela onde conseguia ver a árvore. Ao focar-me nos arredores da árvore pude finalmente vê-la, mas por alguma razão ela estava diferente dos outros dias. Seus olhos expressavam tristeza. Ela levantou uma de suas pequenas mãos, acenou para mim e num piscar de olhos, ela havia desaparecido. Naquela hora levantei-me do local onde estava sentado e queria muito ir até ela, mas fui impedido pelo professor que estava prestes a fazer um comentário muito importante. Ele pediu para eu ser mais educado e em seguida lançou sobre minha carteira um papel com uma foto e quando finalmente a olhei, vi naquela imagem a menina pelo qual tinha me apaixonado. Logo, eu disse ao professor que eu estava a procurar por ela e o professor lançou sobre mim um olhar incrédulo. Ele automaticamente repreendeu-me e disse para não fazer mais gracinhas. Sem entender o que estava acontecendo eu deixei-o falar. Foi então que ele falou sobre o bullying e que nossa escola tinha e mantinha um histórico terrível e disse para toda sala de que eu havia se metido numa confusão, havia arriscado a minha vida para defender um colega de sala que quase foi morto pelos outros e que a garota da foto havia sido uma estudante exemplar da escola, mas que não se fazia mais presente em nosso meio . A brincadeira havia sido longe demais. E ao ouvir toda a história eu pude entender e as lágrimas escorriam pelos meus olhos e eu não queria acreditar que aquela doce garota que eu havia me apaixonado fora vítima de atos de crueldade.
Após esse dia trágico nunca mais consegui lhe ver, mas sempre a mantive em meu coração. Meu primeiro amor, um doce fantasma.
