Por que você me trata dessa maneira?
Com tantas palavras vazias,
que me enfiam por debaixo de uma grossa camada de gelo?
Por que o olhar embriagado,
e o falar entredentes?
Por que as horas vazias,
e os "eu te amo" que murcham e se vão
com o vento?
Você não tem tempo,
ou você não tem coragem?
Você não tem dinheiro,
ou você não tem capacidade?
Eu sou a retardada,
ou você que é incapaz
de lidar com os próprios erros
e tentar viver em paz?
Quantas horas,
e lágrimas,
e rezas,
e letras,
e mortes internas
mergulhadas em silêncios,
eu gastei com você?
Você poderia contá-las?
Você poderia agradecer à elas?
Você poderia medir toda a minha paciência,
e pegar minhas lágrimas nas pontas dos seus dedos sujos,
quando eu pedir por um grão do seu amor fajuto?
da mesma forma como eu fazia,
quando você chegava
e eu achava desumano,
te deixar abandonado...
Você poderia, quem sabe,
dizer que se importa e, provar da minha dor?
Se viciar no meu amor ao invés de se viciar
em risadas estúpidas e dezenas de reais jogados
em cima de um balcão
grudento
de cerveja e molho de pimenta?
É isso que te preenche?
Você tem plena certeza?
Você está cansado?
Você está falido?
Não te sobra mais nada?
Deus se esqueceu de olhar para a sua vida?
É isso que você pensa?
É isso que você quer?
Com seus sorrisos tristes
e sua carência por mulher?
É isso que você procura?
Nessas noites banhadas a luxúria?
É pra isso que você trabalha?
Que descuida da sua pele?
Que faz queimar suas retinas?
Que faz sangrar os seus tímpanos?
Pra quem que você vive?
Por que você não pode parar de mentir?
Não te queima a língua,
maldizer tanto as pessoas que te amam, assim?
Não te dói a alma?
Jogar num saco de lixo,
quem poderia estar agora,
com você,
na sua casa,
te observando entorpecido
às três da madrugada?
"Me leia essa história"
entre lágrimas você disse
e eu li e reli duas vezes aquele livro,
olhei para trás,
você já tinha ido.
Suas palavras, são como aquela facada,
que eu recebi de você, uma vez num sonho;
suas palavras são como um saco plástico,
sujo de merda,
que nada na beirada da calçada.
Eu sim, te amo verdadeiramente,
faço e deixo de fazer,
pois me preocupo com o que você pensaria,
eu sim,
dou o melhor de mim,
eu sim,
não tenho dinheiro,
nem saco, nem tempo
nem nada,
nem amor inesgotável;
você deve pensar que é fácil
ser a filha que você quer apresentar,
para todos os seus amigos ricos,
e pra sua nova namorada vulgar.
De repente, você sabe tudo sobre mim,
como eu canto bem, e como eu escrevo bem,
como eu fui a melhor aluna (naquela escola que eu quase repeti)
como eu sou linda e descolada,
e como você tem sorte, por ter uma filha
de aparências,
igual a mim.
Me desculpe, acho que você reprovou nesse teste.
Errou tudo sobre mim.
Errou sobre nós.
Você nos ateou fogo,
e agora, você nos aluga,
a cada quinze dias,
para mostrar a todos, como você é o melhor
e mais legal progenitor de todo o mundo.
"Ah, mas você tem sorte de ter um pai assim"
- E os dois anos atrasados de pensão?
"Ah, seu pai te apoiaria"
"Prefiro que você seja prostituta, filha"
"Ah, mas sua mãe é que é a careta da família!"
"Mãe, divórcio é uma benção, sou feliz por ser sua filha"
"Você não pode sair de casa, daqui a pouco chove, cadê sua mãe? Por quê ela não está cuidando de vocês?"
- E quando que você cuidou da gente?
"Sua mãe deve ser lésbica, ela nunca vai conseguir ninguém melhor do que eu!"
"O que essas mulheres pensam quando namoram com ele? Elas querem ele só por quê ele tem um pinto? Um vibrador tem melhor efeito"
"Tá vendo a sua amiga toda feliz, menino? Ela me adora e eu adoro ela, eu sou um bom pai"
"O senhor só é pai às vezes, né?"
Aonde está você?
Aonde você vai estar?
Você me liga às dez da noite,
dizendo que teve um sonho e que precisa viajar
E lá se vão minhas lágrimas indispostas,
molhando a camisa,
a alma,
o travesseiro,
a cabeça dos meus gatos.
Você aparece revoltado,
eu não atendo o celular?
Você não atende nenhum critério,
tem como demitir um pai?
Mas, eu apenas não compreendo,
meu coração foi cruelmente,
quebrado por você,
e mesmo assim,
se um dia,
você sumir,
eu sei que vou chorar,
e lamentar,
e me culpar,
qual é o seu jogo?
Para quê me usar...?
Não faz mais diferença,
pode gritar a vontade,
eu não te escuto aqui de dentro,
vou fingir estar dormindo,
vou fingir estar ouvindo,
vou me espelhar em você,
papai querido.
Cuspa na calçada,
bata os pés na guia,
faça birra como muleque,
pois é isso que você é,
uma velha criança birrenta:
Não um bom homem,
não um bom amigo,
não um quase cristão,
não um bom pai,
você é apenas
tudo
- o que sempre falta.