Sonambulismo
Matheus Andrade
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 05/08/17 01:15
Editado: 27/03/18 00:40
Gênero(s): Suspense
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 4min a 6min
Apreciadores: 3
Comentários: 3
Total de Visualizações: 1012
Usuários que Visualizaram: 5
Palavras: 751
[Texto Divulgado] "O Jarro De Carne" O recém formado doutor Haward, inicia sua jornada de trabalho ao lado de seu mentor. Juntamente com sua equipe, ele inicia um experimento que mudara, para sempre, o futuro da humanidade.
Não recomendado para menores de dezesseis anos
Capítulo Único Sonambulismo

Era meia noite e vinte e cinco minutos e a maior parte da família estava adormecida. Cinco pessoas viviam no quarto. Naquele momento, pairavam sobre o lugar bons sonhos e amargos pesadelos. Vinícius sempre gritava ou balbuciava frases sem sentido, portanto era fácil descobrir se ele sonhava ou se tinha pesadelos. Matheus e eu, contudo, estávamos bem acordados como de costume a essas horas. Esta era mais uma noite ordinária para nós; eu assistindo Bates Motel em minha cama, e ele na cama vizinha vendo Black Mirror. Ouvi ruídos que vinham do quarto do pai e da mãe dos três — de Matheus, Arthur e Vinícius — e duvidei que Matheus tivesse ouvido o mesmo, porque ele nunca percebe nada e parece um retardado.

Arthur acordou e se mexeu na cama, sentando-se ao mesmo tempo em que os barulhos ressoaram no quarto vizinho. Não estranhei o movimento, já que a família toda é sonâmbula. Não era diferente o mais novinho; os olhos dele nada irradiavam, estavam vazios, provocando a certeza de que aquilo era mais um de seus tragicômicos ataques de sonambulismo. Pausei o episódio que se desenrolava no celular para observá-lo, tentando desvendar qual era o sonho da vez, pois era mais divertido do que assistir às minhas séries — ele ainda estava sentado e em estado letárgico.

Alguns passos ressonaram na porta do quarto dos pais deles. Vladimir, o pai, costumava levantar às noites para pegar alguns remédios ou beber água, por isso naturalmente pensei que fosse ele. Seus passos costumavam serem muito velozes — com exceção de agora. Esperei alguns momentos e Arthur continuava em seu transe, a porta do quarto a frente continuava aberta, com as luzes apagadas. O pai, no entanto, não saiu. Assusto-me fácil e a única reação que pensei foi olhar para Matheus pra observar a sua reação.

Olhei para trás e o vi levantando da cama e percebi que seu irmão Vinícius fazia o mesmo. Os dois dirigiram-se em passos lentos, passando ao lado da cama que eu dividia com Arthur, o mais novinho, e este finalmente teve uma reação: também levantou e acompanhou-os na letárgica caminhada em direção à saída do quarto. Meus olhos ficaram atentos à janela do quarto que dava para o corredor — ela facilitava a observação, visto que por algum motivo desconhecido e inexplicável era feita de vidro transparente. Por que caralhos uma janela de um quarto é inteiramente feita de vidro? Fica a indagação.

— Matheus! — exclamei num murmúrio bem audível; estava intrigado com aquilo.

Dei conta neste momento de que não apenas os três tinham se posto em pé desta forma, mas todos os cinco da família. Estavam andando no mesmo passo lento em direção à cozinha que ficava à esquerda do quarto — achei que fosse uma palhaçada, ou torci para que o fosse —, foram passando no corredor visível pela janela. Não diziam nada.

A luz da cozinha acendeu.

Tentei ficar quieto e sossegado na cama, dissimulando uma calma que eu não tinha. Aguardei alguns segundos, quase um minuto, para entender o que faziam; enquanto isto, tentei novamente assistir a série, mas as imagens eram apenas emaranhados de cores vermelhas, verdes, marrons, todas trêmulas, e paisagens ondulantes e desconexas que não me diziam nada além do que já estava se passando na casa. Minha mente não ficava atenta a nada que não fosse à loucura em redor. É uma palhaçada, é claro, eles combinaram hoje mais cedo. Mas eles nunca fizeram nada parecido. Estranho. Não, não é uma palhaçada. HAHAHA, é sim... Será? Mas minha madrinha não faria uma brincadeira dessas; ela teria pena, eu pensava. Por fim, desisti da minha tentativa sem noção de assistir série numa situação daquelas.

A luz da cozinha apagou.

Novamente observei a janela que dava para o corredor. Um silêncio madrugador ensurdecia-me, deixava-me afobado. Eu tentava perceber algum movimento por entre as sombras da janela, silhuetas que me indicassem onde eles estavam, ou algum ruído menor que fosse, pelo menos um lento resfolegar provocado por passos. Mas por alguns momentos não tive resposta.

Uma silhueta cruzou pausadamente o caminho da vidraça.

Ela tinha companhia. Outra e depois outra e duas mais. A primeira a entrar no quarto foi a minha madrinha. Brandia algo em seus punhos que não pude perceber o que era inicialmente, porque a escuridão me impedia. Depois entraram os outros vultos silenciosos a me observarem. Um após o outro. Eram os cinco. Desbloqueei o celular para usar a luz e entender o que acontecia. Eles me cercaram.

Os cinco apontavam facões para mim.

❖❖❖
Apreciadores (3)
Comentários (3)
Postado 05/08/17 15:31

Olá, moço!!

Adorei muito a idéia do texto!!!

Sonambulismo sempre me fascínou!!!

Só fiquei triste e um tantinho decepcionada em não saber exatamente o que aconteceu na cozinha, e se existia algum motivo para toda a família querer matar o protagonista!

Mas de qualquer modo, super amei a história!!!!

Um abraço!

Meiling!

Postado 06/08/17 22:03

Olá, Melling! Muito obrigado por comentar, e pela sinceridade :D

Minha intenção, talvez má sucedida, foi narrar por meio do narrador-personagem um ato sem explicação eminente, já que a única coisa que este narrador sabe é que a familia dos padrinhos inteira é sonâmbula.

E no final deixei a imaginação do(a) leitor(a) completar. Para o leitor realista, a família certamente apenas sofreu uma louca alucinação coletiva sonâmbula. Para os leitores surrealistas, as explicações são várias.

Abraço :D

Postado 09/08/17 17:24

Huummmmm sendo assim, acho que pensei em muuuuitas explicações bem surrealistas para os motivos!!

Me desculpe por ter entendido de forma equivocada sua intenção, e ter criticado! Mas de qualquer modo foi uma crítica construtiva, pois adorei muito esse texto!!

Postado 14/08/17 11:42

Tanto as críticas quanto os elogios são bem-vindos, porque para criticar ou para elogiar é necessário que se tenhaatenção ao texto, e isto me basta. E faz com que eu fique feliz: alguém deu atenção ao meu texto. heheheh

Novamente, agradeço! Abraços

Postado 16/01/18 11:01

Eu gostei da forma como terminou. Foi uma coisa diferente.

Parabéns!

Postado 27/03/18 00:35

Muito obrigado pela leitura :D

Postado 18/01/18 00:33

Que obra sensacional. Li do início ao fim completamente fisgada na narrativa. O suspense que permeia pelas palavras é instigante e, em alguns momentos, beira ao terror psicológico.

Consegui acompanhar cada movimento, apavorando-me juntamente com o narrador conforme a trama chegava ao ápice. As palavras foram muito bem colocadas, tornando assim os detalhes mais intensos.

A família não é nada normal, mas fiquei com um tiquinho de medo, pois tenho problema de sonambulismo. Cruzes, sai pra lá! KKKKKK

Obra maravilhosa, moço! Parabéns ❤

Postado 27/03/18 00:37

Muito obrigado!!

Acredite, todas as personagens são reais. Conto a história do ponto de vista de um amigo que mora comigo e com minha família. Na realidade, só meu pai que é livre do sonambulismo.

Escrevi a história pra assustar meu amigo. uahsuah

Muito obrigado.

Abraços