Melancolia
Holzwarth
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 18/08/17 14:19
Editado: 19/08/19 21:58
Gênero(s): Cotidiano Reflexivo
Avaliação: 9.5
Tempo de Leitura: 1min
Apreciadores: 14
Comentários: 9
Total de Visualizações: 1331
Usuários que Visualizaram: 21
Palavras: 200
[Texto Divulgado] "O Jarro De Carne" O recém formado doutor Haward, inicia sua jornada de trabalho ao lado de seu mentor. Juntamente com sua equipe, ele inicia um experimento que mudara, para sempre, o futuro da humanidade.
Livre para todos os públicos
Notas de Cabeçalho

Eu enviei esse texto para um outro site de escritores amadores como um "especial" de dia dos pais, mas ele não seria de fato especial se meu pai não tivesse a oportunidade de lê-lo. Essa pequena narrativa recebeu uma nota bem elevada na primeira semana de publicação — mais elevada do que ela tem agora. Exatamente 200 palavras feitas segundo um relato de Dona Alzira (com um pouco do que eu queria expressar na época em que as produzi). Espero que goste de Melancolia.

Capítulo Único Melancolia

Ninguém vai de roupas para a praia.

Era possível prever quem é que seria o próximo a me dizer que ninguém vai de roupas para a praia, mas, com o tempo, todas as pessoas se acostumam com o corriqueiro, não importa quanto demore. Eu me acostumei com isso, e eles se acostumaram comigo; eu me acostumei com as brigas, e eles se acostumaram a brigar como gladiadores; eu me acostumei com a violência fria de suas palavras, e eles se acostumaram comigo deixando a casa a cada discussão — tanto que nem perguntam mais aonde eu vou, porque eles sabem.

Eles sabem que, quando eu me afastava de seus gritos, era para lá que eu ia; para o vazio da areia, para debaixo do céu e do sol, vestindo as mangas de meus casacos. Eles sabem que, quando eu me afastava de tudo, o mar era o único alguém que eu buscava; não os buscava porque não tinha motivos ou vontade; porque meu desabafo é silencioso, com os pés na areia e a maresia nos cabelos.

E, quando o maior dos silêncios voltava a abrandar-me a mente, poderia ouvi-lo aos meus pés, chiando sob o mormaço cinzento em sua própria melancolia.

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Apreciadores (14)
Comentários (9)
Comentário Favorito
Postado 20/08/17 01:42

Sabe aquele aperto que dá no coração e a vontade de chorar para amenizar essa situação? Então, é assim que me encontro. A dor do protagonista é palpável, e a maneira como toda essa negatividade se tornou rotineira é triste e cruel, porque nos faz lembrar que não é apenas em um texto que acontece, mas em muitas famílias.

E talvez seja por isto que cada leitor irá se identificar, seja pessoal ou amigavelmente. Não é aquela melancolia de deitar a cabeça no travesseiro e esquecer, porque tudo não passa de ficção, mas aquela melancolia de ter a consciência do quanto é normal se refugiar em algo por não aguentar a realidade.

Isso é demonstrado fielmente aqui. O escape do protagonista é justamente o mar, a calmaria das ondas. Em cada briga um pouco de si morre e adormece, dando lugar a essa vazio cruel denominado melancolia.

Belo texto, moço. ♡

Postado 19/08/17 08:54

Olá moço Holzwarth!!

Esse foi um belo texto!

Bem triste, muito sentimental... Que faz com que os leitores sintam a melancolia latente em cada palavra!

Foi uma linda homenagem!

Deve ser bom ter para onde fugir quando as coisas estão mal... Mas acho que eu particularmente gostaria de fugir para uma floresta solitária...!!

Parabéns pelo texto moço!!

Um abraço, Meiling!!

Postado 20/08/17 02:30 Editado 24/08/17 00:28

Ao terminar esta leitura tão bela e soturna, só pude me perguntar sobre as vezes em que não há um refúgio para abrandar os impactos físicos/emocionais que a Existência impõe... E o quanto isso é recorrente e danoso em muitos casos. Em muitas vidas...

Parabéns por esta criação/homenagem tão reflexiva, onde o menos se tornou muito mais!

Atenciosamente,

Um ser refugiado nas trevas e no isolamento, Diablair.

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Postado 24/08/17 14:53

É sempre bom ter um refúgio, um mar, para escapar daquilo que, muitas vezes, é doloroso demais para se suportar. A realidade, por si só, é dolorosa, fere e machuca.

Agradeço pelos elogios, e fico feliz que tenha gostado da minha singela homenagem em forma de texto!

Holzwarth

Postado 21/08/17 19:18

Seria bom que por aqui tivesse um mar para onde "fugir". Um lugar mais barulhento que o caos interno e mais silencioso que a mente gritante.

É um ótimo texto. Triste na medida certa. Parabéns!

Postado 24/08/17 22:28

Simplesmente maravilhoso, arrebatador e melancolico! Diria algo além disso, mas me identiquei tanto que talvez palavras não sejam suficientes para descrever o sentimento que flui dentro de meu peito.

O texto tem uma dose perfeita de melancolia, meus sinceros parabéns, moço!

Postado 13/11/17 15:48 Editado 13/11/17 15:49

Eu me sinto até envergonhada de ler coisas tão preciosas que tu escreve, tudo tão puramente melódico, tão puramente catastrófico.

Esse texto pra mim, foi como se eu estivesse afundando e me deparasse com outro corpo afundando junto a mim, lado a lado, talvez até dando uma espiadinha pelo canto dos olhos fechados - não que seja ótimo achar outro alguém tão melancólico e triste como eu, mas de fato, é bom saber que não se está sozinho.

(eu tô ficando louca aqui, perdão aaaaa)

O mar nos leva para vários lugares, trás tudo o que conhecemos e dele surgiu a vida. A água é renascimento, talvez a sensação de afogamento, seja na verdade a gente apenas aprendendo a nadar.

De pouquinho em pouquinho.

Como sempre, parabéns pela singela genialidade contida nessas linhas.

Postado 15/11/17 15:52

Um pequeno e singelo retrato de rostos sem nome, que já se olharam nas águas do mar, apenas isso.

Fico feliz que tenha gostado — e você não está sozinha nessa, acredite. Esse texto tem um valor sentimental muito grande pra mim, por diversos fatores, na verdade. Mesmo que a pessoa para quem escrevi isso não possa lê-lo nunca, fico imaginando o que aconteceria se ela o visse e me visse agora, afundando numa praia deserta.

Sinceros agradecimentos pelos seus elogios e pelo comentário!

Postado 05/02/18 13:31

Ótimo texto! É bem profundo e reflexivo enquanto a linguagem ultilizada é simples e condizente com a atmosfera criada. Meus parabéns!

Postado 12/02/21 12:00

M8, não sei qual respaldo tu tem sobre as religiões e modelos espirituais neo/ortodoxos pagãos but, esse conto teve um significado absurdamente pessoal pra mim, empregado sob esse mesmo contexto.

A ideia de que a natureza é uma manifestação divinida e transcendental que pode gerar mais profundidade do que qualquer relacionamento interpessoal é uma ideia somente compreensivel a quem realmente experienciou isso.

Enquanto o mar e a areia foram os destiladores de dor do protagonista, arvores e grama já foram os meus.

Incrivel conto, partner. Aqueceu meu coraçãozinho nesse começo de tarde.

Postado 14/02/21 12:27

Ótimo texto!

Realmente tem horas em que a solidão a beira mar é o único lugar que a alma deseja e onde se consola.

Deve ser um grato privilégio morar a beira mar...

Confirme fui lendo seu texto pude ouvir o barulho das ondas...

Obrigada por compartilhar conosco.