Jamais vou esquecer
A noite que passei com você,
O quarto iluminado por velas vermelhas
Que emanavam o aroma das mais férteis cerejeiras.
E mesmo que o seu apartamento estivesse sentindo
A falta de alguns móveis,
Era aconchegante demais estar lá...
Mas foi necessário somente o simples estralar do interruptor
Para revelar nossos verdadeiros desejos (monstruosos)
Não existia (naquele) momento a pressão de mentir
Só permaneceria no ambiente
O extinto animal crescente em dois corpos
(a ambição de ter um ao outro nas posições mais incomuns).
Mais rápido que recuperar o folego,
Depois dos beijos demorados e muitas vezes doloridos,
Foi o tirar de roupas por todos os lados.
Contudo, os arranhões ou roxos beijos em seu corpo
Não seria assim tão fácies de tirar,
Mas seriam ótimas lembranças (não?)
Em meu corpo só sobrou meus brincos dourados
E um colar que não parava de pular,
Pelo mesmo motivo (muito bem conhecido)
Eu não conseguia parar de tremer ou morder forte meus lábios...
Até quando poderia suportar tudo aquilo?
Por muitas vezes você parava tudo
Para ficar a olhar intensamente meu corpo
Como se não acreditasse em minha simples existência,
Mas o potencial de destruição
Que seus olhos causavam sobre o meu ser
Era inconfundível...
A angustia de ver tamanha afeição em mim,
Fez com que eu por um minuto
Imaginasse um futuro ao seu lado,
Ter frutos de um amor que poderíamos nutrir
Com um simples sorriso no café da manhã
Ou com um beijo de "bem-vindo de volta" à noite.
Seria uma bela vida florida
Contudo, morreria
Deixar-me-ia mais rápido do que me encontrou,
A deriva no mar sem fim que é minha vida.
Por obsequio, eu não posso negar
Que seus olhos escuros me davam um frio na barriga
Assim como aquele sorriso que fazia toda a vez
Que mexia comigo em momentos distraídos.
Sabe, agora olhando a obra de arte que eu fiz
não me arrependo da minha decisão.
Com a decisão de aceitar o desejo (maior) em minha mente,
"Se está com fome, mata um homem é come..."
Deitado no carpete novo,
Eu lambi seu rosto rindo sem parar
Enquanto entrelaçava suas mãos com as minhas
Sobre a sua cabeça.
Enfim, mordisquei sua bochecha
E mostrei a você a minha verdadeira fome
De pouquinho em pouquinho
Fui tirando da sua orbita ocular
E engoli seu globo ocular tão saboroso
Que desceu inteiro pela minha garganta...
De todo o sangue que nos sujou
Eu não pude evitar "limpar"
Justo o que caiu em seu rosto tão sério e pavoroso,
Quase pensei em parar,
Mas o roncar de meu estômago vazio foi alto demais.
(devora-lo era minha única saída?)
Eu perguntei entre um sorriso sedutor:
"Você me daria o seu coração?"
Você fechou seu então único olho e respondeu:
"Sim, todo seu" e sorriu.
Inevitável era engolir a seco aquela resposta,
Então, simplesmente, cravei fundo e sem volta minhas presas em seu pescoço.
Por um tempo recebi seu sangue sem muito esforço,
Bebendo como de uma torneira.
(era suavemente doce)
Mas só líquido não saciaria a minha maldita fome,
Por isso, arranquei todo o pedaço mordido.
Pude mastigar rápido a sua macia carne
Para, então...
Não esquecer de mostrar ao resquício da sua consciência
Para que servia as unhas grandes
Depois de arranhar um pouco, rasguei seu abdome
E coloquei minha mão para pegar o MEU coração,
Com raiva por não achar a minha propriedade ou de mim mesma,
Mostrei tamanha força ao quebrar seu tórax
E comer o ainda previamente pulsante membro
Que espirrava um pouco mais de sangue em tudo.
Depois que notei,
Não haver mais nenhum resquício de vida em seu corpo,
Foi impossível pensar em qualquer coisa.
Eu havia perdido a fome... e a culpa era sua.