entrego estes ossos à harmonia
todas as vezes que corro pelas escadarias
até encontrar meu lugar secreto
aonde desabo
aonde sempre me entrego a um imenso
turbilhão de dores
guio-me para dentro
aonde repouso estes meus ombros
esfarelados
em uma pilha de preocupações
e, incrivelmente,
estes momentos me são belos
posso deitar-me em meu jardim de pesadelos
e admirar a estupidez humana
a qual faço parte
posso cair no sono,
enquanto meus lábios e olhos não cessam o choro
vivencio isso oitocentas vezes por semana
cada vez que o sol se põe
a insônia é a minha mais dolorosa vergonha
eu me torno um monstro
passível a crimes imaginários
por mais que me doam os ossos,
o prazer em poder esguelar em silêncio e sozinha
ainda é deleitável
posso crescer,
posso me esticar,
deslizar pelas paredes
destruir os pisos
arrancar-me sangue dos olhos
e consequentemente,
me acalmar...
são momentos eternos
harmoniosos
entre a calma e o pesar
não, eu não quero remédios
eu prefiro ter o prazer
de poder enfrentar
a dificuldade de respirar
tudo é macio.
o ódio me abraça
a calma me devora,
somente desta forma,
posso existir.