O príncipe leão
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Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 15/01/19 22:13
Editado: 16/01/19 10:06
Avaliação: Não avaliado
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Notas de Cabeçalho

O principe leão (a sentimental lion)

Capítulo Único O príncipe leão

“Sentimental Lions”( o principe leão)

Dois leões repousavam sob as estrelas da savana.

“Você se parece com o sol”, Namibia lembrou de ter dito isso para Tuka enquanto caçavam antílopes mais cedo do mesmo dia. De sentir o sol queimando na juba. Mas agora que a lua estava alta no céu, o único jeito de se esquentar era ficar perto da juba de Tuka.

-Sinto medo, Namibia, como nunca senti antes.

-O que houve?

-Hoje enquanto caçávamos, vi pegadas de homem, não te avisei porque não queria assustá-lo.

Namibia fitou o horizonte:

-Sim, meu pai me disse, é temporada de caça outra vez. Devemos ter mais cuidado.

-Eu sei, mas estou com um pressentimento ruim.

O vento do oceano chegou soprando suas jubas e a vegetação rasteira da savana.

Tuka fitou o horizonte dos olhos de Namibia:

-Já falou com seu pai?

-Ainda não.

Os dois se olharam, mas o olhar de Tuka persistiu mais; e o de Namibia, voltou ao horizonte.

-Acho que isso me dá mais medo do que morrer pelos caçadores.

-Não importa o que ele diga, vamos ficar juntos. - disse Tuka.

Namibia percebeu que a juba de Tuka era tão reluzente que alguns mosquitos buscavam calor ao redor dela. O resto da noite foi puro silêncio e amor, até o sol despontar no horizonte.

De manhã, Tuka foi embora, e Namibia foi encontrar Handak, o rei dos leões, na caverna:

-Pai, está acordado? - Ele temeu encostá-lo.

O jovem leão aguardou por uns minutos ele acordar, até este soltar um bocejo, que mais pareceu um esnobe rugido, e se espreguiçar.

-Pai?

-Namibia? Há quanto tempo está aí?

-Cheguei agora.

Handak bocejou mais um pouco. A luz do sol fazia sombras enormes dos dois nas paredes da caverna.

-Bom dia, pai. - disse curvando-se, apesar de odiar aquilo.

Handak passou por ele e caminhou para fora, deixando-o se levantar. Namibia, cuja mente estava dividida entre preocupação e convicção, juntou-se ao pai na beira da caverna, onde os dois saldaram o sol.

-O dia está lindo hoje. - disse Handak

-Pai, tenho que te contar uma coisa, mas não sei como dizer, parece que minha mente é limitada pelas minhas palavras. - sua voz se tornou dramática.

-Namibia. - Os olhos vermelhos do rei penetraram no olhar dele, que sentiram-se intimidados, mas não cederam.

O sol queimou mais forte. O vento moveu montanhas e desapareceu com todos os animais da savana, sobrando só eles dois.

-Eu estou com medo. Eu quero que você entenda.

-Um leão não tem medo. Namibia, fale comigo. - disse Handak , que parecia estar com mais medo que o filho.

-Você sempre me disse que eu não poderia ser rei sozinho. E eu não vou.

-O que está querendo me dizer?

-Eu vou governar com Tuka ao meu lado.

Ao ouvir isso, o corpo de Handak cresceu sobre o filho.

-Namibia, onde você passou essa noite?

-Isso não importa. Você tem que me escutar.

-NÃO! - Handak rugiu tão alto que ondas gigantescas se formaram no oceano.

Ele se aproximou mais do filho, que se sentiu cercado por todos os lados.

-Pai, meu peito dói. Estou com medo.

Handak ficou gigantesco:

-Se eu encontrar aquele leão, vou matá-lo.

Diante daquela ameaça, a postura de Namibia também ficou mais forte e ele cresceu por cima de Handak.

-NÃO! - seu rugido foi tão alto que as nuvens se abriram e se formou um arco-íris alto no céu. - Eu amo ele, e não tem nada que você possa fazer para mudar isso.

-Você não é um leão. Você não é meu filho.

Namibia não cedeu sua posição no chão, mas teve que reunir forças para continuar:

-Se ser um leão é parecer com você, eu prefiro ser uma hiena.

Handak perdeu o controle e voou suas garras sobre o filho, girando-o no chão.

EU NÃO VOU BRIGAR COM VOCÊ! - rugiu Namibia.

Usando suas patas traseiras ao seu favor, ele conseguiu empurrar o pai para dentro da caverna e correu para longe.

À distância, ouviu os rugidos do pai:

VOCÊ ESTÁ MORTO PARA MIM, MORTO!

Quando à noite chegou, trouxe a escuridão com ela. Namibia não conseguia entender porque seu pai tinha agido daquele jeito, e imaginar Tuka em perigo só alimentava seu ódio. Seu peito sangrava onde Handak tinha enfiado suas garras, no entanto sentia que a verdadeira dor era causada por algo muito mais profundo que um ferimento, e desmaiou de cansaço.

No meio da noite, ouviu alguém chamar pelo seu nome.

-Namibia.

Com um susto, o príncipe leão acordou desorientado, demorando para recuperar sua consciência.

-Namibia.

Era Tuka. Ele reconheceria aquela voz mesmo que se passasem duzentos anos.

-Tuka.

-Sim, Namibia, sou eu, você perdeu muito sangue, não se levante.

-Tuka.- ele estava forçando sua voz e corpo havia muito tempo, e ouvir a voz de Tuka depois de tudo que passou o fez finalmente ceder. - Eu te amo - e se descontruiu em lágrimas.

Os dois adormeceram juntos e passaram o resto da noite sobre a grama rasteira da savana e sob a luz das estrelas. Namibia sentiu que era impossível alguém separá-los.

Na manhã seguinte, Namibia acordou de um sonho misterioso. Nele, um leão estava morto no chão. Essa visão o fez temer pela vida de seu parceiro.

Apreensivo, o jovem leão acordou Tuka:

-Nós temos que fugir.

-O quê? Por quê?

-Handak disse que vai matá-lo na proxima vez que te ver.

-Namibia, eu vou nos proteger.

-Não, por favor, nós temos que ir agora, levante. - disse Namibia, empurrando as costas de Tuka com a cabeça

-Não, nós não precisamos fugir, eu já disse, eu vou te proteger custe o que custar. Eu não tenho medo.

-POR QUE EU SOU O ÚNICO LEÃO DA SELVA QUE ADMITE TER MEDO? - rugiu Namibia.

-O quê? - Tuka finalmente se pôs de pé.

-Tuka, eu sonhei que você morreu. E estou preocupado com você - Os dois se entreolharam diretamente.- Por favor, temos que ir agora. - finalizou.

-Para onde vamos?

-Para bem longe daqui, onde poderemos ser muito mais do que leões. Seremos o que quisermos.

-Namibia, eu nunca te abandonaria, você sabe disso.

-Vamos.

Depois que cruzaram o limite da terra dos leões, atravessaram a terra das hienas e dos rinocerontes até chegarem na selva, onde se encontrava a fronteira da savana. O sol estava brilhava no meio do céu. o clima estava quente e nenhuma folha se mexia.

-Sinto cheiro de chuva - disse Tuka.

-Acho que vêm da selva.

-Não quer mesmo voltar?

-Não.

Antes de continuar e cruzar a fronteira, Tuka sentiu algo, um presságio, seu corpo dizia que algo ia acontecer. Atrás dos dois, ele ouviu o som de arbustos se mexendo, mas praticamente não tinha vento, estavam muito longe do oceano. Ao virar um pouco seu corpo e olhar para savana pela última vez, não soube o que fazer. Foi tomado pelo medo.

-Namibia. Corre.

-O quê?

-CORRE! - Tuka rugiu e todos os arbustos sopraram de novo, revelando Handak camuflado sob um deles.

O rei dos leões voou sobre Tuka, que contra-atacou antes mesmo de ser atingido, colidindo com o Handak no ar e girando com ele pela vegetação rasteira. Quando conseguiu ficar por cima, Tuka se afastou empurrando a cabeça do outro contra o chão.

Namibia rugiu e se adiantou para frente de Tuka, sem nenhum indício de medo:

-Se afaste! Nós vamos embora.

Enquanto se punha de novo de pé, Handak espirrou sangue no chão, manchando também sua gloriosa juba.

-Como ousa atacar seu rei. - murmurou.

-Deixe-nos ir.- rugiu Namibia - Não queremos lutar.

-Ele te seduziu, Namibia, tudo isso é culpa dele. Você é um leão, ele é uma gazela. E eu vou comê-lo.

-Eu nunca vou deixar isso acontecer - rugiu Namibia.

-ENTÃO VOU MATAR OS DOIS!

Todos aqueles rugidos tinham atraído algo. Da borda da selva, Tuka, que tinha o melhor a audição mais aguçada, ouviu um som peculiar. Das folhas, a ponta de um fuzil surgiu, e atrás dela, um homem.

-Não - disse Tuka, agora colocando-se a frente de Namibia.

O princípe leão jamais tinha visto um homem tão de perto, mas conhecia o seu poder.

Os três leões paralisaram ante a mira fria do homem caída em Handak, que não parava de rugir. O vento começou a soprar de repente e o som que as folhas faziam era aterrorizante. Handak, que sempre teve o mundo inteiro pra si, teve a sensação de que ele tinha diminuído e agora estava mais perto da morte do que nunca. Tuka lembrou do sonho que Namibia teve. Namibia pensou na possibilidade de fugir, deixar seu pai pra morrer e assumir o posto de rei dos leões e viver feliz para sempre ao lado de Tuka. Era exatamente o que seu pai faria no seu lugar. Mas ele era melhor que o pai.

Handak, ao olhar seu reflexo nos olhos do caçador, disse:

-Namibia, estou com medo.

O jovem leão, que até aquele momento encarava o homem, virou o olhar para seu pai,e ao ouvir suas palavras, se enxergou nele.

O fuzil disparou, e em seguida dele um rugido que espantou o caçador de volta para a selva.

-Filho. Por quê?

-Pai...

-Agora eu entendo, filho. Eu fui um péssimo pai.

-Pai...

-O quê?

-Eu te perdoo.

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Comentários (2)
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Postado 16/01/19 19:36

Nunca me canso da sua criatividade!

Esse conto foi extremamente bem narrado e tem uma carga extremamente real sobre o cerne de toda a história, mas, além disso, a delicadeza na construção dos personagens e dos momentos que eles enfrentam, com certeza tocam o coração do leitor.

Foi uma das melhores obras que li por aqui.

Meus parabéns ♥

Postado 16/01/19 23:25

Seus comentários smpre me dão muita determinação.

De fato, com esse conto eu tentei me renovar e tentar escrever algo com mais magnitude e interpretação do que eu geralmente posto aqui, algo maior eu diria. A ideia era ser um épico, enfim.

Eu geralmente escrevo sobre mim, sobre os meus pensamentos, sabe, e acho que esse tema ser tão particular pra mim me ajudou a elaborar com sutileza mais os diálogos, por que realmente é muito sensível pra mim.

To muito feliz por vc ter gostado tanto assim, muito mesmo, por que eu escrevi com o meu coração. Obrigado!

Postado 22/09/23 08:55

Meu Deus do céu, eu estou chorando aqui...

Passei por uma situação semelhante, quando resolvi contar para os meus pais que eu estava apaixonada por uma menina.

Meu pai ficou meses sem falar comigo. Foi muito triste.

Eu não entendo porque os pais sentem tanta raiva dos filhos quando os filhos se apaixonam homoafetivamente. É amor igual, poxa, não faz diferença nenhuma...

Obrigada por fazer um texto tão sensível sobre esse tema!

A história foi linda e emocionante, sobre o poder do amor <3

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