2018... Havia milhares de pessoas na Avenida Paulista, tantas que parecia que toda população de São Paulo decidira se reunir ali para ver a virada de ano. A queima de fogos sempre foi convidativa, um espetáculo colorido e intenso onde os fogos de artifício coloriam o céu e traziam com suas luzes e estampidos a sensação de esperança no amanhã, dando boas-vindas ao novo ano que começava.
Eu também estava lá. Mais distante de onde a festa do povo ocorria, é verdade. Contudo, do local onde eu fiquei, podia ver aquele mundaréu de gente circulando, cantando, comemorando até o momento da tradicional contagem de dez segundos para a queima de fogos, que prometia ser a mais bela de todos os tempos. Todos começaram a contar em uníssono. E eu também, com eles:
DEZ...
NOVE...
OITO...
SETE...
SEIS...
CINCO...
QUATRO...
TRÊS...
DOIS...
UM!
Nesse instante, eu apertei o botão do detonador em minha mão direita. Uma imensa explosão eclodiu do centro da multidão e diversas outras menores a acompanharam em um efeito dominó que chacinou mais vidas em um piscar de olhos do que julgava ser possível.
Todos aqueles pedaços de seres humanos voando carbonizados, todos aqueles destroços dilacerando seus corpos, aquela cacofonia ensandecida, a histeria coletiva dos sobreviventes da carnificina... Oh, Satã! Quando testemunhei aquilo, meu rosto salpicado de sangue, pó e cinzas se moveu em um sorriso. Os estrondos dos fogos e das bombas, cada qual com seus sons e cores se uniram em um espetáculo caótico e sanguinolento que nem mesmo um Doente como eu poderia conceber...
Foi tão lindo! Tão lindo... Verdadeiramente memorável, como prometeram!
"Feliz 2019", sussurrei ainda sorrindo para eles por fim. Ou para o que sobrou deles.