"Não há mais saída...
Faz dias que mal saio do meu quarto. Não há fome. Nem sede. Nem lágrimas. Mal reconheço a mim mesma ou este local ao encarar o espelho. Antes, com todo esse azul e decoração radiante, aqui era meu refúgio. Agora, só parece um bom lugar para despertar desse pesadelo sem fim.
As imagens e sensações ficam se repetindo feito um trailer do Inferno na minha cabeça, sabe? E a cada vez que isso acontece, me sinto mais imunda, enojada, humilhada, desesperada, perdida. É uma dor que nunca vai caber dentro de mim e isso me destrói além de qualquer explicação ou crise de choro. Aquele cara não tinha... Ninguém tem o direito de fazer essa monstruosidade com alguém! Ele destruiu minha vida de uma forma impossível de reverter!
Eu não aguento mais... EU NÃO AGUENTO... MAIS...!
E agora que a história se espalhou, ainda tem pessoas querendo fazer com que eu me sinta culpada pelo que aconteceu, como se eu tivesse de algum modo induzido ele a... Pelo amor de Deus, que diabo de racicínio doentio é esse?! A culpa não foi minha, nem de onde eu estava, nem do que eu vestia!
O estuprador é ele! ELE!
Só que quem vai morrer sou eu. Se bem que já estou morta por dentro desde aquele maldito dia e parece que o mundo nunca vai parar de me enterrar.
Eu não aguento mais...
Me perdoa mãe. Me perdoa, pai. Me perdoa, maninho.
Amo vocês. Pra sempre."
***
Horas depois, ao arrombar a porta do quarto da jovem, o pai dela encontrou o cadáver da filha sentado no chão em meio à uma grande poça de sangue oriundo dos braços severamente retalhados. A carta de despedida estava colada na parede onde jazia o corpo.