Como qualquer dia, na manhã de natal
Ergueu-se um sol gelado, típico do inverno
Esmorecido e belo, nessa data especial
Nunca distinguiu o céu dia terminal ou terno
Madruguei por toda a véspera preparando nossa ceia
E pela manhã a mesa já estava bem feia
Longa noite no orfanato, lua cheia a brilhar
Finalmente eu saciava minha vontade de matar
Vísceras e carne, ossos pra se empanturrar
Crianças que aturei pelo ano neste lugar
Para os malcriados essa foi a punição
Não é minha culpa se os bonzinhos saberão
Mas dizem que o Velho Noel não esquece de ninguém
Para fazer jus, pois, lhes alcançarei também
Na taiga iluminada o inferno lhes trarei
A caçada desse ano, jamais esquecerei
Desatino alguns nós, meia matilha segue afora
Manco até a troia, onde outros esperam a hora
As luzes distantes que juntos fizemos antes
Agora sinalizam meu caminho em instantes
Se vissem meu trenó com clareza, recostado
Vero saberiam, Rudolph foi inventado
A cor da lenda não passa de sangue encrustado
Rubro puro no focinho dos meus cães alimentados
Cascos galopando? Só seus corações batendo
Não por muito tempo, uivam meus esfomeados
Cada história que contei, cada amor que prometi
Ah, por este secreto momento, foi pra matá-los aqui
Largo as muletas, estatelam-se no chão
Como os bons garotos, penso rindo de antemão
Na sacola de presentes várias facas pra atirar
Apesar da idade, sei que ainda vou acertar
Os primeiros gritos começaram a ecoar
Bastou um crânio partido, com massa a espirrar
O cutelo se cravou bem na nuca do sujeito
E pude ver o corpo desfalecendo sem jeito
Os cães logo se juntaram no clamor de dor perfeito
Ri-me, só, pelo meu feriado sem qualquer defeito
Um por um os garotinhos acabaram chacinados
Então forjei minha própria morte, batina extra entre os finados
Afinal, este Noel encontrado não pode ser,
senão, não haverão mais lareiras a descer!