— Era pedir demais que você conseguisse, não era?
A voz ríspida corta o ambiente. A mulher elegantemente fuma enquanto olha para o ser jogado ao chão – para mim. O desprezo é passível; o ar é abafado, sufocando-me. Não há nada que eu possa fazer. Não há nada que eu possa sentir.
Nada mais me assusta além do meu vazio.
— Você sempre volta para cá — ela pontua — o fim do poço é sua casa. Fracassado.
Meu coração bate dormente. Meu pulmão me aperta. Ela se afasta, mas eu suplico, em gestos, para que fique. Não me deixe só, por favor. Eu não aguento mais ser sozinho. O peso da minha alma é insuportável. Meus pecados, meus erros, meus fracassos. Sou tão pouco que beiro ao nada, à escória.
A mulher parte sem hesitar. O tick-tick do salto ecoa no ambiente, prendendo-se à minha mente vazia. Abraço-me à medida que o frio se instala, sem a quentura dos cigarros a me esquentar. Por que, dentre todas as pessoas, eu me sinto tão só quando estou com você?