“Pelas marcas de pneu nas suas costas
Vejo que também andou se divertindo
Ora, mas pior seria se pior fosse, pois”
- As mulheres são criaturas do sexo feminino. – Cantou o rapaz atrás da menina ruiva.
O professor de biologia parou de escrever no quadro e se virou para encarar o aluno, sentado na segunda carteira na fileira do meio. Aquele aluno geralmente não abria a boca, mas no dia, enquanto o professor executava uma canção de sua época de adolescência, o rapaz se juntou na cantoria.
Todos os alunos se viraram para encarar o pobre do garoto, que devolvia o olhar sem entender qual era o problema. Claro, ele estava copiando toda aquela coisa de platelmintos e nematelmintos, porém, isso era motivo de ele não acompanhar a letra de uma das músicas da lista de mais tocadas de seu celular na última semana?
- O mundo é tão pequeno... – Ele murmurou, o rosto vermelho depois de até a menina ruiva, por quem tentava se convencer de que sentia alguma coisa, virou a cabeça curiosa com o que estava acontecendo. Só de perceber os olhos dela o fitando, ele desviou a face e focou no desenho da estrutura corporal de uma lombriga, o som do risinho dela ecoando em sua mente.
- Que eu lhe procuro e não lhe acho. – O professor voltou a escrever no quadro, cantando aquela música estranha. O resto da turma se acalmou, de volta à rotina de escutar as melodias incomuns e agora mais o murmúrio baixinho daquele garoto tão tímido.
- Onde você andou? – O garoto balbuciou, levantando os olhos para os cabelos volumosos da menina à sua frente. Ele aspirou aquele aroma de morango e framboesa do shampoo dela, o qual era usado toda terça e quinta. Segundas e quartas era dia de abacaxi, e sexta-feira ela vinha com um perfume caro, pois logo depois da escola ela se encontrava com o namorado para almoçarem juntos.
O perfume do namorado dela era sempre o mesmo: nenhum.
- Você me vê todo dia, Raminho. – A garota o respondeu, um quê de riso em seu tom. Quando o sinal tocou a ruiva saiu saltitando de sua carteira até a porta, sem nem virar para olhar para o rapaz que a observava abobalhado.
O professor se aproximou dele, um brilho perigoso em seus olhos, e o encarou enquanto o garoto terminava de arrumar seu material e se levantava para ir para casa.
- Olhe, Pedro, se você nunca dizer a ela o que sente, ela vai continuar brincando com você.
O rapaz, nomeado Pedro Ramos, encarou-o e disse com a maior convicção que conseguiu.
- As mulheres são criaturas do sexo feminino.
Logo, saiu porta afora se encontrar com seus outros amigos, entre eles um rapaz chamado André que roubara seu telefone celular e estava escutando a mesma música que o menino Ramos cantara na sala. Coincidência? Pior seria se pior fosse.