Cindy sempre amou andorinhas. O voo livre e o doce cantos dos passarinhos que lotaram o jardim da casa onde cresceu era como um pequeno paraíso onde sua memória lhe levava sempre que passava por um momento ruim. Só ver uma dessas pequenas aves voando já lhe rendia um sorriso, não que fosse tão difícil assim, pois ela era o tipo de pessoa que tem o sorriso fácil. Ainda assim, as andorinhas eram como um porto seguro, lhe causando um sentimento no peito de paz e tranquilidade que ele usava como verbo.

Andorinha o peito era uma expressão tão pessoal que ela talvez nunca tenha dito em voz alta (nem baixa), mas sempre lhe ronda na cabeça quando sente a mesma sensação. Até então, nunca havia sentido isso com nenhuma pessoa, somente quando observava um belo pôr-do-sol, quando fazia um arranjo mais lindo que o normal, quando tinha tempo no fim do dia para visitar o laguinho do parque e observar os patinhos. No entanto, quando seus olhos cruzaram com os de Isa, ela, pela primeira vez, sentiu alguém lhe andorinhar o peito. E, sendo sincera, havia ficado tão inebriada com a sensação que poderia olhar para ela por toda a eternidade.

Isa era como uma andorinha sem asas, mas com a mesma graça do rabinho com as duas penas se sobressaindo (no caso dela, eram os fios rebeldes de cabelo que insistiam em cair mesmo quando ela os arrumava em um coque). Ela tinha todo um jardim no brilho dos olhos e seu sorriso era como um sopro de brisa morna de Primavera. Quase uma força da natureza, quase uma humana comum. Isa era algo ou alguém que Cindy não sabia definir e não sabia dizer com palavras exatas o que sentia por ela, mas que era tão importante quanto a lembrança do jardim cheio de andorinhas de sua antiga casa.

Isa andorinha o peito de Cindy e ela faria tudo para que também andorinhasse o dela.