Eu me sento na grama molhada, ignorando os calafrios que sobem conforme a minha roupa vai ficando fria pelo contato com a água. Ao contrário, eu quero mais: quero ficar mais fria. Tiro os tênis e as meias e deixo meus pés afundarem no verde-musgo e, em seguida, na terra gelada. Olho para cima e me sinto em casa, rodeada por pinheiros verdes e por nuvens cinzas e cheias. Eu retorço meus dedos na terra, ouvindo o barulho dos insetos e o balançar das folhas e dos galhos. Ao longe, enxergo montanhas e colinas, cobertas pela névoa branca.
O clima não é agradável para muitos, mas para mim parece um lar. Estou sozinha com meus pensamentos. Fecho os olhos e só enxergo troncos, caules verdes e raízes grossas. Nada é mais instigante do que observar as gotas de chuva escorrendo pelas folhas. É nesse espaço-tempo que eu me reconheço; é onde sei onde estou. É quando não há nada e o nada é reconfortante. Longe assim, com o mapa e a bússola descansando no solo ao meu lado, é quando não tenho ninguém. Não existem laços aqui, todos os rostos conhecidos desaparecem na névoa e eu me sinto tão enraizada quanto o pinheiro mais forte dessa floresta. É quando posso ser quem eu quiser e expressar tudo o que eu quiser: é quando grito, choro, rio e não existe ninguém que desaprove. As árvores são minha plateia, a terra me absorve aos poucos e as nuvens descarregam o que estou sentindo.
Eu poderia ficar aqui para sempre. Poderia nascer e morrer aqui, deixando a terra me tragar, pele por pele, órgão por órgão, sentido por sentido. Eu poderia permanecer de olhos fechados pelo restante da minha breve existência, tremendo de frio, suportando a chuva escorrendo por mim, a escuridão da floresta à noite e os lobos me farejando, certificando-se de que estou, ainda, nesse plano.
Imagino meu corpo criando uma silhueta na terra, afundando com cautela, me levando com carinho ao submundo de Perséfone, onde tudo é feito de almas perdidas, lamúrias e fogo. Me sinto tão alheia que, se fosse queimada viva, não soltaria nem um grito sequer. Eu olharia a fumaça subindo, imponente, e acompanharia minha alma se dissolvendo junto a ela. Me percebo tão longe que, se fosse julgada como uma bruxa, pegaria todas as ervas do campo e as queimaria comigo, como se fossemos uma coisa só.
Penso, então, que gostaria de ser parte do verde, do marrom e do cinza. Desejo ser parte do musgo que cobre as árvores, do solo que abraça as raízes ou da água que evapora para o céu. Gostaria de ser algo, qualquer coisa que não fosse eu. Penso que preferiria me abster de qualquer sinal de consciência. Tenho a certeza instantânea de que não fui feita para ser parte de qualquer outra coisa que não essa floresta.
Eu nasci para morrer aqui.