Vinha ele, distraído, pela avenida. Quase de encontro a ele, sem ser proposital, vinha ela. Ele trazia na mão um livro de poesias.
E se viram um diante do outro. Ele então a viu, no exato momento em que ela disse:
- Onde vai você?
- Saí de casa para dar uma volta pela cidade.
E ela, ainda curiosa:
- E o que tem feito você?
Ele não se recusou a responder:
- Nada de excepcional. Mas ontem me lembrei de você.
- E então? - fez ela.
- Escrevi um poema.
- Falando de mim?
- É.
- Falando o que?
Ele tirou do bolso o poema. E o mostrou a ela.
Ela enrusbeceu. Estava escrito no último verso:
- "Você quer namorar comigo?"
Ele então não perdeu tempo:
- E então?
- Ah, vou pensar.
Passaram-se dias. Ele olhou ao redor. Só concreto. E pensou:
- Claro, e assim as pessoas ficam naturalmente frias.
Ele não tinha coragem de procurá-la. Já tinha dado o primeiro e importante passo. Cabia a ela responder.
E, não é que ele se surpreendeu. Estava ele no seu quarto, onde morava, quando ela chegou:
- Sinceramente eu não esperava você.
- Eu vim...
- E eu me alegro com isso. Trouxe uma resposta para mim?
E ela lhe ofereceu os lábios. E já estavam namorados. Então ele lhe confessou:
- Eu gostaria mesmo é de ir morar na roça.
- Por que?
- Para fugir desse sentir o concreto.
Ela tornou a beijá-lo. Ele considerou este segundo beijo como o beijo de concordância com ele.
E hoje moram os dois numa cidadezinha do interior. Onde escolheram um lote em lugar isolado. E construíram.
Aí, na roça, estão os dois morando. E ele nem precisa ir à cidade para entregar os originais de seus livros de poemas. Manda pelo correio eletrônico.
É hoje um poeta de renome. Têm ele e ela uma vida confortável.