Kanima
Robson Pinheiro Cruz
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 04/07/25 09:39
Editado: 06/07/25 16:57
Avaliação: Não avaliado
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Notas de Cabeçalho

Título:Kanima

Autor:Robson Pinheiro Cruz

Data:20/03/2025

Capítulo Único Kanima

O ar frio de Serro, em Minas Gerais, parecia carregar o peso de um segredo antigo. Naquela noite, a quietude das montanhas foi brutalmente rasgada. João, outrora um pescador de sorriso fácil, agora era uma figura distorcida, seus olhos faiscando com um brilho que não era humano. As unhas, antes cegas, rasgaram o peito de Joana, a esposa com uma precisão medonha, e o som, abafado, ecoou no silêncio da casa. O coração ainda morno e pulsante foi entregue nas mãos da filha pequena Eveline, um presente de despedida tão cruel quanto incompreensível. A menina, com a face banhada em lágrimas mudas, sentiu o calor vital esvair-se em sua palma. Não havia gritos, apenas um silêncio aterrorizante que abraçava a dor e o espanto.

Dias antes...

No canto da cidade, onde as sombras eram mais densas, as feiticeiras se curvaram sobre o artefato asteca. Suas vozes, em cânticos quase sussurrados, tentavam desvendar os segredos do vaso de barro. No momento em que a última barreira cedeu, não foi uma luz que brotou, mas uma escuridão rastejante, libertando as criaturas de seus aprisionamentos milenares. A Kanima, rápida e furtiva, deslizou para a noite, um vulto reptiliano em busca de sua próxima vítima.

À beira da lagoa, o velho pescador, alheio ao horror que se desenrolava, arremessava sua linha na água escura. A paz foi quebrada por um movimento ágil e violento. O ataque foi silencioso, brutal, a Kanima assumindo sua forma mais horrenda, e o pescador caiu, sua vida esvaída no leito de pedras.

Mas a Kanima, essa criatura de instintos selvagens, parou diante da criança. Talvez fosse a aura de desespero, ou o peso do coração em suas mãos, mas algo na menina a fez hesitar. Um estranho laço se formou ali, uma conexão profana. A criatura, movida por uma obediência inexplicável, entregou-se. A criança, ainda em choque, sem compreender a extensão do poder que agora possuía, ergueu a mão. E a Kanima se tornou seu instrumento, um terror à espreita nas vielas de Serro, agindo sob o comando silencioso de uma mestra que a dor e a tragédia haviam forjado. A cidade, antes pacata, agora guardava em suas montanhas e becos o segredo de uma criança e sua besta.

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Notas de Rodapé

Kanima — criatura lendária mencionada em registros fragmentados associados às mutações de licantropia. Diferente do lobisomem, o Kanima manifesta-se em seres marcados por traumas profundos, assumindo forma reptiliana e comportamento servil. Dotado de garras envenenadas capazes de paralisar suas vítimas, o Kanima não busca matilha, mas um mestre. Algumas versões sul-americanas contam que foi invocado por um padre para punir assassinos, tornando-se instrumento de justiça brutal e silenciosa.

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