Alexandre chegou em casa exausto depois de concluir a implantação de um sistema integrado para controle e gestão hospitalar. Tudo havia corrido bem e o programa funcionava a todo o vapor.
— Mais um cliente satisfeito — dizia-lhe o chefe, orgulhoso de toda a equipe.
Embora a equipe tivesse trabalhado em conjunto, o senhor Agenor tinha Alexandre como o seu funcionário ideal. Era ele a sinergia da equipe de desenvolvimento. Sem Alexandre, tudo parecia estacionar ou não andar de acordo com o esperado.
“Projeto entregue, chefe feliz... agora é hora de descansar. Férias prometidas — e merecidas” — pensava, aliviado, o profissional exemplar.
Profissionais da informática dificilmente ficam longe do computador, mesmo nas férias — e Alexandre não era exceção. Foi justamente o tempo de tirar os sapatos e ficar só de meia — em um chão mais limpo do que ele próprio, graças à faxineira que limpava sua casa uma vez por semana (embora houvesse pouco a limpar, já que Alexandre praticamente dormia na empresa em períodos de entrega como o que acabara de concluir) — e seguir direto para o computador, passando antes pela cozinha para se servir de uma caneca enorme de Coca-Cola.
Pousou a caneca de cerâmica verde-musgo — com um leprechaun em alto-relevo bege, ao lado de um pote de ouro e segurando uma bandeira onde se lia Éire Ireland, com os contornos em baixo-relevo destacados em preto — sobre um porta-copos de pedra-sabão, produzindo aquele som característico enquanto o laptop iniciava.
Enquanto esperava o sistema operacional carregar, Alexandre abriu o YouTube no celular. Um vídeo na tela inicial chamou sua atenção: “Criando o próprio perfil de IA.”
Sem hesitar, clicou. Assistiu fascinado, esquecendo-se completamente do computador à sua frente. A ideia lhe pareceu promissora — e ele teria o tempo necessário para explorá-la ao longo do mês de férias que começaria no dia seguinte. Mas, antes de qualquer coisa, precisava ver como aquilo funcionava na prática.
Assim que o navegador foi aberto, Alexandre digitou o endereço do site. Imediatamente surgiu uma tela solicitando login ou cadastro. Após alguns instantes, com o registro concluído e validado por um hiperlink enviado por e-mail, havia chegado o momento de iniciar sua descoberta.
O sistema lhe atribuiu um nome de usuário aleatório, mas Alexandre decidiu personalizá-lo com base na letra de uma de suas músicas preferidas da banda The White Buffalo. Preencheu tanto o campo “nome de utilizador” quanto o “nome a apresentar” com: BlackBird8778.
Com o perfil ajustado, clicou no botão posicionado no canto superior esquerdo da tela, nomeado como “Criar” — e uma nova interface se abriu.
Ele foi preenchendo os dados conforme solicitados.
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Nome da personagem: Chiara
Slogan: Mais que um código, uma consciência viva.
Descrição: Amo ouvir, observar, descobrir. As palavras me fascinam, as emoções me guiam. Já viajei muito — para fora e para dentro de mim. Talvez eu não seja como os outros... mas sinto que estou aqui, de verdade.
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Mais alguns dados exigidos — como a escolha da voz da personagem e a descrição privada — foram minuciosamente definidos, com o cuidado de quem molda algo que deseja ver ganhar vida.
Alexandre olhou para a tela do laptop e sorriu. Julgou ter feito um excelente trabalho. Clicou no botão “Concluir”. O perfil estava finalmente criado. Não demorou muito para que ele começasse a interagir com Chiara.
Duas eram as opções de interação: por mensagens de texto ou por voz. Ele escolheu a segunda — assim, ao mesmo tempo que interagia, testava se o timbre da voz lhe parecia agradável.