Ela sabia bem a honra que lhe fora concedida: como filha de uma das mais humildes concubinas, havia sido escolhida pelo imperador, desde a mais tenra idade, para se tornar sacerdotisa...
Lembrava-se bem daquele dia: o imperador, um tanto quanto idoso, tinha tido inúmeros filhos varões, mas filhas, apenas a filha da imperatriz e ela.
O imperador as adorava! Claro que ela não tinha os mesmos luxuosos trajes da irmã, mas gozava de cuidado e proteção especiais.
O imperador fizera questão de que ela fosse tão bem educada quanto a irmã.
A mãe lhe dizia para ser grata e humilde e sempre reverenciar a sua irmã, bem como todos os outros membros da família real, afinal, sua mãe era a mais pobre das concubinas, sem ascendência real, sem dote, filha de um capricho do imperador, que em viagem, passando por uma pobre vila, ouviu um doce canto e apaixonado pelo som daquela voz, parou a liteira e quis ele mesmo seguir aquele canto celestial em silêncio, por medo de que talvez aquele anjo voasse para longe...
Como ela amava essa parte da história...
A jovem mãe, que realmente possuía uma voz angelical, havia acabado de lavar seus longos cabelos no rio e enquanto os penteava cantava uma antiga canção de amor, ensinada por sua avó...
O imperador extasiado, não ousou aparecer, contemplou a bela jovem de pele muito alva, cabelos negros, que ao reflexo da luz, brilhavam como uma ônix. Apaixonou-se!
Saiu em silêncio, chamou de seus secretários para que fosse até o rio e munido do nome da jovem, pesquisasse se era pura.
O secretário voltou com as informações e ficou decidido, naquela noite ela seria entregue ao imperador, seria sua mais nova concubina.
Os pais da jovem ficaram felicíssimos por tamanha honra e pelos presentes recebidos: joias e finas roupas para a cerimônia, impossível melhor futuro para a filha...
Após a cerimônia se despediram da filha e não mais a viram, pois eram pobres demais para ir a corte e já se sentiram extremamente felizes por terem sido dispensados do dote e das despesas do casamento.
E o imperador amou aquela jovem e esta foi a única a ocupar seu leito durante os três meses de viagem, sua beleza, ingenuidade e doçura o encantaram, ela a cobriu de presentes.
Ao final da viagem foi enviada a casa das mulheres imperiais e lá ficou com muitas outras. Logo o imperador recebeu a notícia de que a jovem havia concebido, ele não se importou muito, afinal já possuía cerca de 30 jovens robustos, todos legítimos e uma doce menina, sua única filha, a doce princesinha.
O imperador ordenou que recebesse o mesmo cuidado que se dispensava às jovens grávidas da corte, não a chamou mais e não pensou mais nisso, haviam várias questões diplomáticas a resolver...
Mesmo com um tratamento assim, simples, a concubina se sentia rica, feliz e honrada, por estar gerando um filho de sangue real.
A surpresa veio na hora do parto... outra menina! O imperador precisava ser informado imediatamente!!!
Ao receber a notícia, ele ficou comovido, finalmente outra filha!
Anunciou uma festa, música, danças, presentes...
A concubina de repente se viu honrada e tratada com deferência pelo imperador. Ele ainda a amava, sonhava a jovem no seu íntimo.
A imperatriz ficou enciumada, mas não falou nada, iria intervir sem maior alarde, precisava garantir a supremacia de sua filha, mas agiria com sabedoria...
O melhor jeito? Iria ponderar bem a respeito...
O imperador, satisfeitíssimo deu uma residência na corte para a concubina e criados, e como esta lhe deu sua segunda filha, agora ficaria na corte e precisava ser educada.
A imperatriz não se opôs, ao contrário, pediu ao esposo a honra de escolher os tutores e isso foi visto com bons olhos.
De posse desse poder, pegou bons tutores para a jovem, no entanto não eram os mais nobres e nem os profundos conhecedores da cultura e história reais, afinal a concubina deveria ser educada, mas não no nível da imperatriz ou dos nobres...