Eu sempre fui um homem do interior. Mesmo depois de anos vivendo na capital.
Vim para a capital para arrumar um emprego e depois voltar.
Mas viver na capital o que eu arrumei para fazer foi a datilografia.
Escriturário, se chamava a minha profissão.
E aí não dava mais. Como escriturário o que eu mais fazia era escrever.
Escrever relatórios. Escrever cartas. Escrever e escrever.
E burramente me casei. O que deu em divórcio. E fui perdoado.
Hoje estou aqui solteiro. Sem precisar inventar desculpa para ninguém.
E cresci mais como pessoa. E agora envelheci.
E velho de setenta e um anos já tenho pouco mais de vinte anos de literatura.
Digo assim: Literatura, como arte. Porque me aconselharam abandonar tanta modéstia.
E imodesto, quando estou em casa digo: Escrever, vaidade das vaidades.
Talvez seja. Mas é gostoso ser um escritor do interior.
É, porque hoje eu vivo no interior.
E não encaro o escrever como profissão.
Ganho pouco e não me prostituo literáriamente.
O que é satisfatório. E em mim aumenta um pouco a vaidade.
E vaidade, vou vivendo e escrevendo.