A Maldição do Rio Muriaé
Robson Pinheiro Cruz
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 19/07/25 20:13
Editado: 21/07/25 20:27
Avaliação: Não avaliado
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Notas de Cabeçalho

Título:A Maldição do Rio Muriaé

Autor:Robson Pinheiro Cruz

Data:19/06/2025

Capítulo Único A Maldição do Rio Muriaé

Muriaé, cidade de morros sinuosos e noites quentes, guarda segredos que não aparecem nos mapas, apenas nas lendas sussurradas pelas bocas dos vivos. O rio que atravessa a cidade, calmo de dia, murmura outras línguas à noite. Línguas antigas, indígenas, de dor e sangue.

Dizem que, no tempo da colonização, os bandeirantes tentaram atravessar o rio. Os mosquitinhos que infestavam a margem, aparentemente inofensivos, traziam febre. Mas não era qualquer febre. Era a febre da maldição de um espírito torturado que protegia o rio. Uma entidade vingativa, transmutada num enxame voraz.

Eles riram. Mataram os índios. Cavaram com as mãos um pequeno altar de pedra sob a margem. Enterraram o corpo de uma jovem xamã chamada Cauarim, acusada de envenenar as águas com feitiçaria. A cada gota do seu sangue derramado, o rio ficou mais escuro. E naquela noite, pela primeira vez, o céu sobre Muriaé não teve lua.

No futuro atual...

Séculos depois, a cidade cresceu sobre esse solo amaldiçoado. Prédios, praças, escolas. Mas o altar segue lá. Enterrado. Respirando.

Nos últimos anos, moradores do bairro da Barra começaram a relatar um ronco estranho vindo do rio à meia-noite. Um barulho que parecia uma mistura de zumbido de mosquito com choro humano.

Pessoas começaram a desaparecer perto da ponte. Seus corpos jamais eram encontrados, apenas o eco de gritos afogados.

O ritual de Zina

Uma médium da cidade, Dona Zina, foi até as margens numa sexta-feira de lua minguante. Levou um espelho virado para o leito escuro e ofereceu pinga, vela preta e sangue de galinha preta.

No reflexo, viu a menina Cauarim, agora de olhos ocos, pele esverdeada e dentes apodrecidos, arrastando almas até o fundo do rio. Atrás dela, o enxame sob a forma de um mosquito humanóide, erguendo-se com asas em forma de mortalha e uma voz que perfurava os ouvidos como picadas:

“A cidade será alimento. Muriaé pertence ao rio. Ao meu enxame.”

Durante as cheias do bairro da Barra...

Desde então, quando chove em Muriaé, a água sobe e engole casas e ruas inteiras como se procurasse alguém.

Um rosto pode ser visto na água por alguns segundos. E dizem que quem olha por mais de sete segundos... desaparece nas águas turvas do rio.

❖❖❖
Notas de Rodapé

[1] Cauarim — Nome fictício com sonoridade inspirada em línguas indígenas brasileiras. Pode remeter a “caá” (folha) e “arim” (espírito), sugerindo conexão entre natureza e ancestralidade.

[2] Mosquito humanóide — Figura alegórica que mistura características de inseto com forma humana, representando entidades de maldição. Esse arquétipo é comum em mitologias que envolvem pragas e vingança espiritual.

[3] Altar sob a margem — Práticas como ocultar corpos em rituais simbólicos têm paralelos em histórias de sacrifício e encantamento presentes em culturas da América Latina durante e após o período colonial.

[4] Bairro da Barra — Um dos bairros reais de Muriaé, frequentemente afetado por enchentes. A associação com eventos sobrenaturais intensifica o mistério e torna a lenda ainda mais crível para moradores locais.

[5] Ritual da Lua Minguante — Em tradições esotéricas, a lua minguante é considerada propícia para banimentos, encerramentos e invocações ligadas ao mundo dos mortos.

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