Minha criança morreu.
Não foi uma morte natural. Eu a matei.
Matei para que ela parasse de chorar continuamente em minha mente, implorando por uma infância que jamais virá.
Aqui, nesta fase em que me encontro, não há espaço para ela crescer.
Hoje, eu não permito que minha pequena criança veja a pessoa que me tornei:
Alguém que não alcançou nenhum de nossos sonhos, que ainda não superou nada do que nos atormentava e que ainda hoje eu luto todos os dias para acordar.
Dias exaustivos.
Noites cotidianas.
Tardes inacabáveis.
Nada muda, nada se encaixa, nada se conserta.
Estou cansada de aplicar curativos, de chorar até secar, de continuar passando remédio como se algo fosse cicatrizar.
Parece que continuo passando lâminas. Engolindo-as.
Lâminas quentes que cortam e cauterizam por onde passam, apenas para que pare de sangrar.
Eu já não aguento mais.
E minha criança... Minha doce e pequena criança interior;
Não merece ver que nosso fracasso continua se tornou rotina.
Então sim, eu matei minha criança.
Para que ela possa descansar em paz - em seu pequeno túmulo rosa e florido, sem ser acordada pelas minhas preocupações de agora, uma vida adulta.