Estávamos ali meio à toa. Eu disse:
- Eu leio muito.
Ele ouviu e me perguntou:
- E também escreve?
- Claro, escrevo.
Ele ficou meio sem jeito, mas se recuperou. E perguntou:
- Já publicou alguma coisa?
- Publico sempre.
E ele sorriu. Eu sorri junto.
E eu acrescentei:
- Já ganhei, inclusive, alguns prêmios
E ele:
- Ah. é.
E nós ficamos em silêncio. Eu pensando que nossa conversa era boa, disse:
- Tudo começou quando eu trabalhava e resolvi voltar para a escola.
- Escola de que?
A conversa tomava um rumo bom.
- Faculdade de Filosofia.
- Nossa!?
- Nada, fiz provas de admissão e passei.
Ele permaneceu em silêncio.
- Eu já tinha cursado Filosofia até certo ponto. Mas abandonei o curso.
- Abandonou? Disse ele surpreso.
- Sim.
E eu continuei:
- Mas voltei. E lá conheci a minha última namorada.
Ele então voltou à carga:
- Foi então por isso que voltou?
- Nada, eu sempre tive pretensões literárias.
- Ah, é...
- E vou contar para você, foi difícil.
- Foi difícil o que?
- Foi dificil construir minha pequena carreira de escritor.
E ele coçou a cabeça e me disse:
- Escritor? Que chic!
- As pessoas acham chic. Mas eu que sei.
- ...
Como ele não disse nada. Eu dei uma pausa no meu falar.
Mas continuei:
- Hoje tenho mais de vinte anos de escritor.
Ele me olhou, boaquiaberto. Eu disse a ele:
- Não fique assim. Qualquer um pode, basta ter persistência.
- Eu posso? - ele perguntou.
Ao que eu respondi:
- Claro que pode. Mas a vontade tem de ser sua.
- Porque?
- Um pouco de influência dos outros, mas se a gente não quiser de verdade, nada feito.