Lucyan andava pelas ruas como quem carrega um cadáver dentro do peito. O nome dela era Alya — e mesmo morta, era mais viva do que qualquer som que ainda habitava aquela cidade. Seu rastro era perfume na memória, e o silêncio gritava o nome dela em cada esquina onde o mundo fingia seguir.
Na encruzilhada de néon e silêncio, ele encontrou as Damas da Noite — criaturas tão belas quanto perigosas, cada uma com o perfume de uma flor que só desabrocha quando morre. Entre elas, estava a Mulher dos Cabelos Brancos, com olhos cor de maldição e voz feita de deserto.
“Tudo tem um preço,” ela disse, com um sorriso que parecia sussurrar segredos a cadáveres. “Teu corpo poderá morrer, mas tua alma... vagará a troco de vingança.”
Antes que Lucyan pudesse responder, ela soprou um pó negro em seu rosto — e o mundo virou um espelho quebrado.
Visões explodiram em sua mente como granadas silenciosas: corvos rodopiando em espiral, os algozes de Alya sorrindo entre chamas, e o som do seu próprio coração… um tambor de guerra ensanguentado.
Quando voltou a si, a dama não estava mais lá. Havia apenas um corvo. Imóvel. Observando. Antigo como um segredo não dito. Desde então, ele o segue. Silencioso. Fiel. À espera da hora da morte… e do retorno.
Lucyan veio com o barulho do vento — mas era o som do passado que realmente o acompanhava: choros abafados, tiros que nunca cessaram, beijos interrompidos por sangue.
Tinha cicatrizes onde antes havia palavras. E no ombro, sempre ele — o corvo, companheiro das horas que não passam. Como se dissesse:
“Você morreu, mas ainda tem uma última coisa a dizer.”
Seu nome era esquecido pelo mundo. Mas sua memória? Afiada. Viscosa. Perfurante.
Então ele andou. Por vielas que fingiam esquecer. Pela praça onde o riso fora proibido. Até o portão de ferro onde ela havia caído.
“Eu não vim por vingança,” ele sussurrou. “Vim por lembrança. Porque há mortos mais vivos que os vivos.”
E os corvos vieram. Milhares. Rodopiaram no céu como uma maldição viva. Até que o azul virou carvão. E então… o grito ecoou.
Um grito ensurdecedor. Um trovão feito de amor dilacerado. E foi nesse grito que os culpados tremeram — não pela morte que viria, mas pela verdade que se recusava a permanecer enterrada.
Dedicado aos que perderam alguém… e se perderam junto.