Aqui estou eu a escrever. E não me canso de festejar, fiz pouco mais de vinte anos de letras.
E escrever, para mim, é a delícia das delícias. Hoje ainda não fiz idéia do que vou contar.
Então me ponho a lembrar de uma tia. Dizia ela:
- A vida separa.
E não é que separa mesmo? Dos primos todos que tenho e tive não os vejo nem sei desde quando.
E por estes dias para trás faleceu um. Era um primo querido. Podem não acreditar.
E por que digo que podem não acreditar? Vou tentar contar. Os fatos são poucos.
Vim para Belo Horizonte, com 17 anos de idade. Tínhamos eu e ele a mesma idade.
E ele foi para o Rio de Janeiro. Passamos longos anos sem nos ver.
Até que ele voltou a nossa cidade natal. Que é São João del Rei.
Eu soube que ele custou um pouco a se readaptar à aquela cidade natal.
Mas enfim ele veio até nós, eu e minha mãe, e perguntou:
- Tia, eu ainda sou da famíllia?
Ao que minha mãe respondeu:
- Claro que é, que bobagem é essa?
Eu pensei: meu pai deixou ao morrer a nossa casa. Como ponto de partida, foi ótimo.
E nós todos lá em casa trabalhamos. Hoje aqui estou, a perseguir a minha escrita.
Eterna perseguição, essa, a de ser um escritor.
E sei também que nenhum escritor é grande porque ele assim o quer.
E eu nem quis ser um grande escritor de muito renome. Tanto que digo:
- A cada vez que escrevo, estou recomeçando.
E isso para mim é um exercício de humildade.
Olho para o Marco e vejo um trabalhador também. É o meu primo.
E humildade para mim é uma virtude.
Tive grandes oportunidades na vida, e vim dar com os costados nesta Academia de Contos.
Mas sou feliz hoje. Como tenho sido há desde não sei quando.
Mas o Marco faleceu. E fico me lembrando:
- A vida separa.
Esse não é um dito exato. Tem-se que entendê-lo.
Ao dizer que ela separa, tem-se que pensar que ela é uma estória que corre no tempo.
E que um dia acaba. Isto vale para mim também. Mas estou feliz por registrar isto.