A Última Bruxa
Robson Pinheiro Cruz
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 17/08/25 21:23
Avaliação: Não avaliado
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Notas de Cabeçalho

Título: A última Bruxa

Autor: Robson Pinheiro Cruz

Data:17/08/2025

Capítulo Único A Última Bruxa

A floresta negra reverberava os gritos da multidão. Corriam como caçadores atrás de Damiana, que tropeçava entre raízes e sombras, ofegante, o corpo exausto. Diziam que era bruxa — e talvez fosse. Seus olhos âmbar guardavam mistérios, seus cabelos ruivos ardiam como fogo, e sua beleza era tão intensa que muitos a comparavam à própria Afrodite.

Todos os domingos, Damiana ia à missa na pequena igreja de Salém. O jovem padre Arnold, também inquisidor, não deixava de notar sua presença. Ela parecia deslocada entre os fiéis, como uma flor exótica num campo de trigo.

— Senhorita Damiana, que manhã divina... Sua tia não tem vindo às missas. Está tudo bem? — Ah, padre Arnold... Ela anda adoentada. A idade pesa.

Ele hesitou, mas não conteve o impulso: — Preciso visitá-la. Não consigo deixar de notar... até as flores a invejariam.

Damiana corou. Ela também não deixava de reparar no inquisidor: alto, olhos azuis como o céu antes da tempestade, voz firme, corpo forte, barba cheia. — São seus olhos, vossa santidade... — disse, tentando disfarçar o rubor.

Mas os olhares da vizinhança eram afiados. Murmuravam que Damiana usava feitiços para seduzir o padre. Que sua beleza era obra das trevas.

Dias depois, Arnold foi visitar Emengarda, a tia-avó de Damiana. A casa era simples, cercada por flores e ervas medicinais que se espalhavam até a borda da floresta.

Damiana surgiu como um raio de sol entre as árvores. Arnold mal respirou. Não sabia que estava sendo seguido por homens do vilarejo, escondidos atrás de uma carroça.

O dono da taverna, que já havia tentado contratar Damiana para fins nada nobres, sussurrava com ódio: — Essa megera me enfeitiçou. Não consigo tocar minha esposa sem pensar nela.

Arnold, tomado por um impulso que nem a fé conteve, segurou a mão de Damiana e a beijou. Ela correspondeu. Foram flagrados. — A bruxa enfeitiçou o inquisidor! — gritaram.

Arnold foi preso por heresia. Damiana, por bruxaria. A fogueira já estava montada. A praça se encheu de vozes e pedras.

Mas quando tudo parecia perdido, Emengarda surgiu. Seus olhos brilhavam como relâmpagos. Ela ergueu os braços e, com palavras esquecidas pelo tempo, invocou uma tempestade.

O céu se rasgou. Raios caíram ao redor da praça. O fogo se apagou. As correntes se romperam.

Damiana correu até Arnold. Ele a abraçou como se o mundo inteiro fosse aquele instante. Em meio ao caos, fugiram pela floresta, deixando para trás a fumaça, o ódio e os gritos.

Dizem que nunca mais foram vistos. Que vivem em algum lugar onde o amor é mais forte que o medo. Onde a fé não condena, e a magia é apenas outra forma de beleza.

E que, nas noites de tempestade, se escuta ao longe o riso de uma mulher ruiva e o canto de um homem que um dia foi inquisidor — e escolheu amar.

❖❖❖
Notas de Rodapé

Salém – Embora remeta aos famosos julgamentos de bruxas nos Estados Unidos, o vilarejo aqui é fictício, evocando o clima de perseguição e superstição da época medieval europeia.

Damiana – Nome associado à planta afrodisíaca Turnera diffusa, usada tradicionalmente em rituais e como símbolo de sensualidade e poder feminino.

Padre Arnold – A dualidade entre fé e desejo é representada por sua papel como inquisidor e homem apaixonado, refletindo o conflito entre dogma e humanidade.

Emengarda – Nome germânico que significa “protetora da casa”. Sua figura representa a sabedoria ancestral e a força das mulheres que guardam saberes esquecidos.

Tempestade final – Elemento simbólico que marca a ruptura entre opressão e liberdade. A natureza, aqui, age como aliada da justiça poética.

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