Eu, recém chegado do interior, procurei onde morar.
Achei, com a ajuda de uma tia. Ela era proprietária de um pequeno apartamento.
Me alugou o imóvel, a preço módico. E eu já estava empregado, numa empresa que me garantia.
Eu ia todo mês onde minha tia morava, e lhe pagava pelo aluguel.
E enquanto eu trabalhava eu estudava.
Para o que eu queria, na capital era difícil eu me arranjar.
Então me lembrei porque eu tinha vindo.
Eu estudava no interior, procurei lá mesmo escrever.
Mas quando eu fui ao grêmio literário do colégio, o grêmio tinha sido fechado.
Então me senti decepcionado. E voltei para o interior.
A realidade do meu país estava mudando.
Antes era tudo censurado. Então era por isso que o grêmio literário tinha sido fechado.
Cheguei ao interior de volta. Mas era outro interior. Não o interior onde eu tinha nascido.
Me instalei. Enquanto eu trabalhei, juntei dinheiro. O bastante para me acomodar aqui no novo interior.
E quando dei por mim, as portas se abriram. É que na capital eu tinha feito algumas publicações.
Publicações de trabalhos literários meus, que de um modo ou outro tinham lá seus méritos.
Claro, quem deixa de ler um trabalho premiado?
E veio a primeira Academia do interior, me aceitando no seu quadro social.
E hoje sou Acadêmico três vezes.
E sou acadêmico de carteirinha. O que equivale a dizer que sou escritor do interior, de carteirinha.
E vou te contar, na capital eu sofri como ninguém. Adoeci e fui para o hospital sozinho.
Hoje, aqui eu posso me cuidar. Tudo mais perto e mais fácil.
E as pessoas todas sabem quem sou eu.
E estas vitórias e a de ser um escritor do interior.
E reconheço, Deus me recompensa a cada segundo.

