Os pensamentos da jovem cigana Marisol a revisitavam. Seu coração ardia de paixão por Ismael, o escravo negro fugido, cuja beleza e força ela admirava secretamente. Mas seu amor proibido era uma afronta aos inimigos do vilarejo, que desejavam destruir tudo o que fosse diferente ou ameaçador.
Desesperada para proteger Ismael e seu povo, Marisol buscou a ajuda de uma antiga feiticeira chamada Adalanta, conhecida por seus poderes sombrios e seu conhecimento ancestral.
Juntas, realizaram o ritual proibido—uma conjuração que uniria forças ocultas para vencer os invasores americanos e seus aliados.
Na calada da noite, sob um céu sem estrelas, Marisol e Adalanta entoavam um encantamento sumério, arrancado dos confins do tempo. O vento rugia, uivando como um presságio sombrio—o mundo natural resistia ao que estava prestes a acontecer.
Ismael, amarrado ao altar, sentia o calor do próprio sangue pulsando sob a pele. Algo invisível roçava sua carne, como dedos gelados percorrendo sua espinha. A energia negra ao redor tremeluzia e se torcia, como se tivesse vontade própria.
Então, o primeiro estalo.
Um grito se perdeu na garganta de Ismael. Seus ossos se dobravam em ângulos errados, seu corpo se convulsionava como se fosse estraçalhado de dentro para fora. A pele se rasgou, não por um corte, mas por um nascimento brutal—como se algo estivesse emergindo das profundezas de sua própria carne.
A criatura irrompeu.
Imensa, com músculos pulsantes e um olhar que queimava como ferro incandescente. O ar se tornara espesso, sufocante. O rugido que escapou de seus lábios foi um trovão selvagem, um som que reverberou na floresta e reverenciou a noite.
E então, o massacre começou.
Quando o sol nasceu, a névoa se dissipou lentamente, revelando o que restava do vilarejo. Um cemitério de carne e ossos espalhados pelo solo encharcado de sangue.
Nenhuma voz, nenhum sopro de vida.
Somente Ismael.
Nu, de pé no centro do massacre, sua pele coberta pelo vermelho profundo de todos aqueles que haviam habitado o vilarejo. O sangue secava em sua pele como marcas eternas do ritual que o havia transformado. Seus olhos, outrora humanos, vagavam pela destruição sem reconhecimento, sem arrependimento, sem memória.
A floresta, silenciosa, observava.
E assim nasceu a lenda.
Continua...

