O Segredo da Caixa
Robson Pinheiro Cruz
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 16/09/25 17:01
Editado: 16/09/25 18:18
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 3min a 4min
Apreciadores: 0
Comentários: 0
Total de Visualizações: 90
Usuários que Visualizaram: 1
Palavras: 572
Livre para todos os públicos
Notas de Cabeçalho

Título: O Segredo da Caixa

Autor : Robson Pinheiro Cruz

Data:16/09/2025

Capítulo Único O Segredo da Caixa

Marcy chegou ao Museu da Kasbah com o coração acelerado. A jovem historiadora, na casa dos trinta, estava eufórica. Naquele dia, reencontraria Magnum — seu antigo namorado e atual instrutor. A amizade entre os dois havia se fortalecido após a morte trágica dos pais de Marcy. Magnum, um homem de presença marcante, na casa dos quarenta, exalava charme: corpo atlético, cavanhaque bem aparado, olhos negros intensos e tranças nagô. Por onde passava, atraía olhares.

— Magnum, você está atrasado... o que aconteceu? — perguntou Marcy.

— Perdi o avião, Marcy. Um descuido meu — respondeu ele, sorrindo.

Ela então notou o baú de madeira ao lado dele.

— Que baú é esse? Parece... pesado.

— É um artefato sumério. Na verdade, uma caixa. Ainda não a abri. Esperei por você.

Curiosa, Marcy o acompanhou até o hotel. No quarto, colocaram a caixa sobre a mesa. Era belíssima e sinistra, coberta por inscrições cuneiformes e desenhos alegóricos. Quando Magnum girou a manivela, uma melodia dissonante começou a tocar — suave, mas perturbadora.

De repente, uma nuvem de moscas emergiu da caixa, seguida por um odor fétido e sufocante. As luzes piscaram e o quarto mergulhou em trevas. O som da melodia se intensificou, e então... ele apareceu.

O palhaço.

Sombrio, grotesco, com olhos de serpente e dentes de tubarão. Em segundos, atacou o casal. Marcy tentou gritar, mas foi silenciada. Magnum lutou, mas foi vencido. Ambos foram estripados, degolados, e arrastados para dentro da caixa — como se ela fosse um portal para algo muito pior.

O quarto ficou em silêncio. Apenas o som da manivela girando lentamente permanecia. Sangue escorria pelas paredes e pelo carpete.

Dois dias depois, o inspetor Raul Vasques chegou ao hotel, acompanhado do historiador Dr. Elias Mourad, especialista em artefatos mesopotâmicos. O quarto estava lacrado, mas o cheiro ainda impregnava o ar. No centro, a caixa permanecia intacta — como se nada tivesse acontecido.

O inspetor folheava o diário de Marcy, encontrado entre os pertences. Elias observava a caixa com olhos arregalados, como se reconhecesse algo que jamais deveria ter sido tocado.

— Isso não é só uma peça antiga — murmurou Elias. — É a prisão de uma entidade. Ou pior... um convite.

Raul ergueu os olhos.

— Um convite pra quê?

Elias respirou fundo, e então começou a contar:

Dizem que nos tempos antigos, quando os deuses ainda caminhavam entre os homens, viveu Kushim — um astuto comerciante sumério. Ambicioso, mas ingênuo, ele foi ludibriado por Pazuzu, o demônio dos ventos pestilentos. Ao perceber o engano, Kushim recorreu a um mago sinistro, que forjou uma caixa de madeira encantada, feita para conter entidades malignas. Com coragem e desespero, Kushim aprisionou Pazuzu dentro dela.

Mas o mal não se extingue — apenas muda de forma.

Com o passar dos séculos, a criatura aprisionada começou a se transfigurar. Primeiro, assumiu a aparência de um bufão grotesco, com risos que ecoavam como lamentos. Depois, tornou-se um palhaço sombrio: pés de bode, corpo humanoide, mãos com garras afiadas como lâminas, dentes serrilhados de tubarão e olhos de serpente que hipnotizavam quem ousasse encará-lo.

A caixa, envelhecida mas viva, emitia um som hipnótico — uma melodia dissonante que atraía os curiosos. Bastava girar sua manivela para que o bufão emergisse, sorridente e silencioso. Mas à meia-noite, ele se transformava no verdadeiro demônio: o palhaço infernal.

O inspetor ficou em silêncio. A caixa parecia pulsar, como se escutasse cada palavra.

— E agora? — perguntou Raul.

Elias olhou para ele, pálido.

— Agora... ela está aberta. E o demônio está solto.

Continua...

❖❖❖
Notas de Rodapé

A melodia dissonante que emana da caixa é descrita em textos sumérios como “a canção do esquecimento”, usada em rituais de exorcismo e invocação.

Pazuzu, embora conhecido como demônio dos ventos, também era invocado para afastar outros males — uma ironia cruel em sua prisão.

Kushim é o primeiro nome registrado da história humana, encontrado em tábuas de argila datadas de 3000 a.C. — um comerciante, talvez um alquimista, ou um tolo.

A transformação do demônio em palhaço grotesco remete ao arquétipo do “bufão sombrio”, presente em mitologias de diversas culturas como símbolo do caos disfarçado de alegria.

A caixa não possui fechadura. Apenas uma manivela. Porque o mal não precisa de permissão — apenas de curiosidade.

Segundo o Dr. Elias Mourad, artefatos como este não devem ser destruídos. Apenas esquecidos. Mas o esquecimento é uma arte que poucos dominam.

O cheiro descrito no quarto é semelhante ao de enxofre e carne em decomposição — comum em locais associados a aparições demoníacas.

A inscrição lateral da caixa, traduzida por Elias, diz: “Aquele que gira, gira o destino. Aquele que escuta, escuta o fim.”

O inspetor Raul Vasques desapareceu três dias após o relatório. A caixa foi transferida para um cofre subterrâneo. Mas relatos indicam que a melodia ainda pode ser ouvida... mesmo com o cofre trancado.

Esta história é baseada em relatos reais, documentos históricos e lendas mesopotâmicas. A caixa pode ser fictícia. Ou não.

Apreciadores (0) Nenhum usuário apreciou este texto ainda.
Comentários (0) Ninguém comentou este texto ainda. Seja o primeiro a deixar um comentário!

Outras obras de Robson Pinheiro Cruz

Outras obras do gênero Drama

Outras obras do gênero Mistério

Outras obras do gênero Sobrenatural

Outras obras do gênero Suspense