A Noite no Caveirão
Robson Pinheiro Cruz
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 18/09/25 18:27
Avaliação: Não avaliado
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Notas de Cabeçalho

Título: A Noite no Caveirão

Autor: Robson Pinheiro Cruz

Data:02/09/2023

Capítulo Único A Noite no Caveirão

Era uma noite de breu absoluto no coração de Minas Gerais, na cidade esquecida de Muriaé. A névoa rastejava como serpentes silenciosas entre os túmulos do cemitério abandonado, envolvendo tudo em um véu de mistério e morte. Os moradores evitavam até olhar na direção daquele lugar, onde o tempo parecia ter parado e o ar carregava o peso de lamentos antigos.

Nos fundos do cemitério, oculto por uma árvore densa — um imenso pé de manga que mergulhava o terreno em escuridão, povoado por morcegos e corujas — jazia o Caveirão: um poço profundo de ossos, envolto em lendas e maldições. Diziam que ali repousavam os restos dos esquecidos, dos que morreram sem nome, sem prece, sem paz. Suas almas, condenadas à errância, vagavam em busca de justiça... ou vingança.

Catarina, uma jovem de espírito inquieto e olhar curioso, decidiu desafiar o medo que paralisava a cidade. Armada apenas com uma lanterna e coragem teimosa, ela adentrou o cemitério naquela noite silenciosa. Cada passo ecoava como um tambor de guerra contra o silêncio. O vento sussurrava segredos entre os galhos secos, e o chão parecia pulsar sob seus pés.

Ao se aproximar do Caveirão, o ar ficou mais denso. A lanterna piscou. O silêncio foi quebrado por um sussurro gutural, como se a própria terra estivesse tentando falar. Catarina congelou. Sentiu olhos invisíveis cravados em sua alma. Tentou correr, mas o chão a prendeu como raízes vivas.

Do poço, mãos esqueléticas emergiram, cobertas de terra e ódio. Elas a agarraram com força sobrenatural, puxando-a para o abismo. Catarina gritou — um som agudo, desesperado, que cortou a noite como uma lâmina. Mas ninguém ouviu. A cidade dormia, ignorando o sacrifício que acabava de acontecer.

Desde então, no Caveirão ouve-se uma voz feminina em lamento. Às vezes, a névoa toma forma. E às vezes... alguém desaparece.

Dizem que Catarina agora é parte do poço. Que seus olhos observam cada visitante. Que ela espera pelos incautos em meio aos ossos. E que, se você ouvir seu nome sussurrado pelo vento... se prepare. Já é tarde demais.

❖❖❖
Notas de Rodapé

Muriaé, Minas Gerais – Cidade real localizada na Zona da Mata mineira, conhecida por sua tranquilidade e tradições. No conto, ela ganha tons sombrios e sobrenaturais, contrastando com sua imagem pacata.

Caveirão – Nome fictício dado ao poço de ossos, inspirado em lendas urbanas brasileiras que envolvem cemitérios e locais de descarte de restos mortais. O termo evoca tanto o medo quanto o mistério.

Pé de manga – Elemento simbólico no conto. Árvores frondosas como mangueiras são comuns em cemitérios antigos e, aqui, representam o véu entre o mundo dos vivos e dos mortos.

Névoa como serpentes – Imagem poética que remete à ideia de algo vivo e traiçoeiro, reforçando o clima de suspense e a presença de forças ocultas.

Sussurros guturais – Recurso sonoro usado para criar tensão. Em narrativas de terror, sons inexplicáveis são gatilhos clássicos para o medo psicológico.

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