Nas florestas geladas da Islândia, dois jovens guerreiros treinavam lado a lado, unidos pelo ritual milenar. Mas apenas um foi escolhido pelos deuses para proteger o povo. Após os combates, fugiam para seu refúgio secreto — uma caverna no alto da montanha de pinheiros, onde o vento cantava histórias antigas.
Neemer, de corpo esculpido como o martelo de Thor, cabelos longos como as crinas dos cavalos de guerra, era reverenciado por sua beleza divina. O outro, de pele alva e olhos azuis como o gelo eterno, o observava com desejo e devoção.
— Por Odin, Neemer... teu corpo é como o de um deus. Quando estou em teus braços, sinto que nenhum inimigo pode me alcançar. Viveria mil vidas ao teu lado, mesmo que os deuses me amaldiçoassem por isso.
— Então beija-me, guerreiro. Que teus lábios queimem minha pele como o fogo de Muspelheim. Que tua boca me tome como um campo de batalha, e teu desejo me vença como um exército.
— Quero sentir-te dentro de mim, como a lâmina que atravessa o escudo. Que sejamos um só, como o aço e o punho. Que os deuses nos olhem e saibam: aqui há amor mais forte que qualquer guerra.
O fogo crepitava no fundo da caverna, lançando sombras dançantes sobre os corpos entrelaçados. O cheiro de pinho e suor preenchia o ar, como se a própria natureza testemunhasse o encontro dos dois guerreiros.
Neemer aproximou-se lentamente, seus olhos ardendo como brasas sob a luz da chama. O general, deitado sobre a pele de urso, estendeu a mão com reverência.
— Que os deuses fechem os olhos esta noite, pois o que sinto por ti não cabe nas runas nem nas lendas.
Neemer ajoelhou-se, tocando o rosto do amado com a delicadeza de quem segura uma espada sagrada.
— Que minha boca seja teu templo, e meu corpo, tua oferenda. Que cada toque seja como o trovão de Thor, e cada suspiro, como o canto das valquírias.
Os dois se uniram como se o mundo lá fora não existisse — como se o frio da Islândia se rendesse ao calor que emanava deles. Era mais que desejo: era destino, era guerra vencida, era amor selado em sangue e honra.
Abraam, general do clã, observava com fúria a insurreição dos rebeldes. A traição era intolerável. Os subversivos haviam violado as leis sagradas dos lycans, e a punição seria definitiva.
No coração da fortaleza, Neemer ajoelhou-se diante do altar lunar. Seu corpo começou a se contorcer em espasmos violentos. Veias saltavam, ossos estalavam, e a pele se rasgava como tecido velho. Os gritos que escapavam de sua garganta já não eram humanos — eram rosnados primitivos, carregados de dor e fúria.
A mandíbula se projetou para frente, os dentes se alongaram em presas afiadas. Os olhos explodiram em luz dourada, e a espinha se arqueou, quebrando e se reconstruindo com estalos grotescos. Garras negras substituíram os dedos, e a pelagem prateada irrompeu por todo o corpo. A transformação era brutal, visceral, como se a própria natureza exigisse sofrimento em troca de poder.
Quando o ritual chegou ao fim, Neemer ergueu-se como um titã lupino, envolto em fúria e poder. Seu uivo rasgou o céu da Islândia como uma lâmina, ecoando entre os vales e anunciando o julgamento dos traidores.
Os rebeldes tentaram escapar pelas florestas congeladas, mas a sombra de Neemer os perseguia como um presságio inevitável. Um a um, foram caçados — não havia clemência, apenas sentença. Cada golpe era um veredicto dos deuses, cada mordida, uma execução selada em sangue.
Abraam, com olhos de aço e coração ardente, liderava os soldados fiéis, varrendo os últimos focos da revolta. Mas foi Neemer quem encontrou o instigador — o traidor que havia semeado o caos. O inimigo tentou implorar, mas o ódio ainda queimava em seu olhar. Neemer hesitou por um instante... e então avançou com fúria ancestral, cravando as garras no peito do traidor, como se arrancasse a própria mentira do mundo.
Ao amanhecer, Neemer retornou à forma humana. Seu corpo, coberto de cicatrizes e glória, exalava o cheiro da vitória. Abraam o viu surgir entre a névoa, como um deus renascido. Sem dizer uma palavra, ajoelhou-se diante dele — não como soldado, mas como amante.
Neemer o ergueu com mãos trêmulas, e seus olhos se encontraram como duas tempestades colidindo. O silêncio foi quebrado por um beijo feroz, faminto, como se o mundo estivesse prestes a ruir. Eles se agarraram com desespero, como guerreiros que sobreviveram ao fim dos tempos.
Na caverna sagrada, entre peles e brasas, seus corpos se encontraram com loucura e reverência. Era mais que desejo — era destino. Era o amor de dois vikings que desafiaram a morte, os deuses e o próprio tempo.
E naquela noite, sob a lua cheia, o nome de Neemer foi entoado... mas o coração de Abraam batia como tambor de guerra, dizendo: “Ele é meu.”

