Primeiro Capítulo
Há séculos, sussurros sobre a lendária lança de Osíris ecoavam entre os mais destemidos aventureiros e arqueólogos. Dizia-se que essa arma, forjada pelos deuses do antigo Egito, possuía o poder de destruir demônios e conferir habilidades extraordinárias a quem a tocasse. Feita de um metal desconhecido e adornada com inscrições mágicas que amplificavam seu poder, a lança podia perfurar qualquer criatura maligna e dissipar sua energia maléfica. Segundo as antigas inscrições hieroglíficas, ela era protegida por uma poderosa magia que a mantinha oculta nas profundezas de um templo perdido nas areias do tempo. Aqueles que ousaram se aproximar dela foram consumidos pelos seus medos interiores e pela loucura, sucumbindo diante da aura misteriosa que a envolvia.
Contudo, uma profecia ancestral proclamava que somente os escolhidos, cujos corações fossem puros e com determinação inabalável, conseguiriam encontrar a lança e desvendar seus segredos ocultos. Esses eleitos poderiam abrir portais entre o passado e o presente, manipulando o tecido do tempo e do espaço conforme suas vontades, recebendo dons mágicos e ampliando seu conhecimento.
Inúmeros indivíduos ao longo dos séculos se lançaram em busca da lendária lança de Osíris. Cada um enfrentou desafios e armadilhas que protegiam o templo sagrado onde a lança repousava adormecida. Ela aguardava pelo toque daqueles capazes de despertar seu poder e cumprir o destino traçado pelos deuses. Mas essa lança não era apenas uma arma para combater as trevas; era um artefato com um propósito maior do que se podia imaginar.
Dr. Haversham, arqueólogo e historiador de vasta experiência, exibia orgulhosamente seu distintivo. Alto e magro, com cabelos grisalhos e olhos penetrantes por trás dos óculos de aro metálico, carregava consigo o conhecimento acumulado ao longo de anos de pesquisa. Sua barba bem cuidada parcialmente cobria o rosto. Vestia uma camisa de linho bege com bolsos extras para guardar seu notebook e caneta. Uma corda inseparável pendia de suas costas, enquanto um colete marrom com diversos compartimentos e um cinto de couro com fivelas prateadas completavam seu traje. Suas calças resistentes eram ideais para aventuras arqueológicas, e ele calçava botas de couro surrado. Carregava uma mochila repleta de ferramentas e equipamentos para escavações e pesquisas, além de ostentar um chapéu de aba larga, um relógio de bolso e uma bússola antiga.
Sua presença exalava sabedoria, determinação e fascínio pela história. Estava sempre pronto a desvendar os mistérios do passado.
O local onde Haversham finalmente encontrou a lança de Osíris era um oásis escondido entre as dunas intermináveis, no Templo de Abu Simbel. Construído pelo faraó Ramsés II, esse templo é um dos mais famosos do deserto egípcio. Suas estátuas retratam Ramsés II e sua esposa Nefertari, enquanto relevos e hieróglifos narram as conquistas e a vida do faraó. Lá, no coração do deserto, num lugar cheio de mistérios, a lança aguardava, pronta para revelar seus segredos aos escolhidos. Sob o sol escaldante, que queima o céu azul sem nuvens, o calor parece sufocar qualquer forma de vida que se atreva a desafiar a implacável natureza do deserto.
No coração desse oásis, ergue-se um antigo templo de pedra, cujas paredes estão cobertas de hieróglifos e enigmáticas inscrições. Essas marcas narram a história da lança de Osíris e a maldição que recai sobre aqueles que ousam perturbá-la. O ar está carregado de mistério e energia mística, enquanto Haversham se aproxima do altar onde a lança está fincada na rocha, brilhando à luz do sol.
O silêncio do deserto é quebrado apenas pelo som do vento sibilante e, ocasionalmente, pelo eco de uma tempestade de areia se aproximando. Haversham sente uma mistura de excitação e receio enquanto se prepara para desvendar os segredos antigos que estão prestes a ser revelados com a descoberta da lança de Osíris.
O artefato começa a fluorescer num tom azulado, mas quando Haversham se aproxima, ele se afunda numa espécie de areia movediça. Nesse momento, surge um grande chacal, faminto e raivoso. O homem não se abala, como se se comunicasse com o animal, encarando-o nos olhos. Com habilidade, consegue que o animal pegue a corda que estava em suas costas. O chacal puxa a ponta da corda, atravessando uma pilastra e depois outra, fazendo um nó.
Haversham escapa da armadilha de areia movediça e acaricia o animal faminto, oferecendo-lhe um pedaço de carne desidratada para saciar sua fome. Ao entrar em contato com o artefato, sente uma energia misteriosa emanar da lança de Osíris, percorrendo seu ser e infundindo-o com uma vitalidade renovada. Era como se a própria essência da vida estivesse sendo canalizada através do objeto antigo, revitalizando cada célula de seu corpo. Não havia mais dúvidas: o historiador possuía uma conexão especial com aquele artefato. Parecia inevitável que ele fosse um dos predestinados a desvendar os segredos ancestrais que a lança guardava, segredos escondidos por eras, aguardando pacientemente o momento de serem revelados por alguém digno.
Porém, Haversham sabia que o artefato jamais poderia continuar naquele local. Algo em seu íntimo falava: uma viagem longa e quase infindável vinha pela frente. O aventureiro partiu em busca do caminho, como que direcionado pela lança, que o orientava como uma bússola.
Após alguns dias, o arqueólogo encontrou-se diante de uma ilha protegida por paredões de gelo maciço que nunca derretiam. Essa ilha estava localizada na região norte do continente europeu, na Islândia. A proximidade do Círculo Polar Ártico implicava dias mais longos no verão e mais curtos no inverno, com ocorrência da aurora boreal e do sol da meia-noite.
Os imponentes portões esculpidos em madeira nobre representavam uma estrutura colossal e antiga. Eram rústicos, com detalhes entalhados ao longo de sua extensão, adornados com um arco de pedras cristalinas que brilhavam sob a luz, guardando a entrada com grandiosidade. Ao abrir os portões, uma imagem magnífica e curiosa se revelou: uma densa floresta, sem neve, com uma estrada de pedras brancas que levava diretamente a uma colossal pirâmide. A luz irradiava da pirâmide, tocada pela aurora boreal, exalando sabedoria e magia antiga. Era um lugar encantado e misterioso, guardado por espíritos de guerreiros que protegiam cada perímetro.
Segundo lendas, a magia contida no templo de Apolo em Hiperbórea mantinha o resfriamento da terra. Bóreas, o vento do norte que trazia o inverno desde as eras primevas, foi o berço das primeiras civilizações. Conforme as histórias, seres divinos desciam do espaço, sem que se soubesse ao certo se eram anjos, deuses ou Anunnaki.
Numa terra distante e inexplorada, onde a relíquia estaria segura, o templo do deus Apolo encontrava-se em uma pirâmide. Todo o espaço ao redor era coberto por uma densa floresta tropical, formando um jardim verde e majestoso, com flores multicoloridas e exóticas adornando o local. O cenário era banhado por um imenso rio profundo e cachoeiras de águas mornas, criando um espetáculo de cores e luzes.
Após sua jornada épica e repleta de desafios, o arqueólogo Dr. Haversham finalmente chegou ao templo, o santuário dos quatro elementos. Lá, foi recepcionado pelos sacerdotes de Apolo que, em agradecimento pelo seu ato nobre, permitiram que ele visse de perto a misteriosa estátua do deus em seu santuário. Subindo uma escadaria de pedras cristalinas, no centro do templo, uma abóbada se abria. A luz fulgurante e magnífica da aurora boreal descia sobre a estátua de Apolo no altar, criando uma aura divina que tirava o fôlego.
A estátua retratava Apolo em toda a sua glória celestial. Seus longos cabelos dourados caíam em cachos perfeitos sobre os ombros, e seus olhos eram como duas estrelas brilhantes, penetrando a alma de quem ousasse encará-los. A pele de Apolo tinha um tom radiante de marfim, suave e perfeita, como a de um deus imortal. Seu rosto exibia um sorriso enigmático, como se soubesse de segredos que nenhum mortal poderia compreender. Nas mãos, segurava uma lira dourada, instrumento de sua divina música, pronta para começar a tocar a qualquer momento.
A estátua parecia estar viva, quase pulsando com energia e poder. Seus traços eram tão perfeitos que era difícil acreditar que aquela não era a própria divindade diante dos olhos dos adoradores. Conectava os mortais ao divino e inspirava reverência e respeito. Ninguém poderia ficar indiferente diante daquela imagem majestosa de Apolo no altar.
Antes de retornar ao Egito, embora por algum motivo desconhecido ele nunca tenha retornado, Haversham pernoitou alguns dias na mítica Hiperbórea.
Assim, a lança de Osíris encontrou um novo lar no Templo de Apolo, guardada em um baú de madeira maciça e prata, feito especialmente para ela. Lá, permaneceu protegida pelos sacerdotes milenares da antiga divindade. A história da lança de Osíris e sua jornada até o templo de Apolo em Hiperbórea tornou-se um mistério tão fascinante quanto a própria relíquia.
Na verdade, o que ninguém sabia era que o artefato criado pelos deuses tinha um propósito.
Continua...

