A Flor de Santharis. (Em Andamento)
Alenz07
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Tipo: Romance ou Novela
Postado: 13/11/25 00:43
Qtd. de Capítulos: 1
Cap. Postado: 13/11/25 00:43
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 4min a 6min
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Não recomendado para menores de dezoito anos
A Flor de Santharis.
Notas de Cabeçalho

O Reino de Brinwald

Brinwald é um reino marcado pela divisão entre fé e poder. Suas muralhas guardam tanto os templos dos Deuses do Norte quanto os mercados profanos onde a prata e o sangue se misturam. O povo é supersticioso, teme o místico e reverencia os monges da Ordem do Sol, entre eles os noviços como Elric — homens ensinados a temer o desconhecido, mas que raramente o compreendem.

Capítulo 1 A Taberna do Cão Negro.

A névoa ainda não se dissipara quando Elric cruzou os portões de Brinwald. As ruas, estreitas e lamacentas, cheiravam a peixe podre e ferrugem.

Do mosteiro, restava-lhe apenas o silêncio — e um pequeno saco de moedas presas sob a túnica. Ouro e prata, deixados por Padre Aldred, “para a travessia”, dissera ele antes de calar-se de vez.

Elric não sabia ao certo o que buscava primeiro: companheiros ou coragem.

Mas sabiam-lhe dizer que ambos se encontravam no mesmo lugar — a Taberna do Cão Negro, o antro onde aventureiros e mercenários bebiam até esquecer seus próprios nomes.

O lugar exalava fumaça, cerveja azeda e um calor pegajoso que colava nas roupas.

As mesas eram pedaços de madeira rachada, e os rostos ali — homens de barba grossa, mulheres de olhar cansado — pareciam entalhados em pedra e pecado. Elric aproximou-se do balcão, tentando ignorar as risadas e os olhares curiosos.

O taberneiro, um homem largo como um barril, o mediu de cima a baixo. — Noviço? — perguntou, limpando um caneco com um pano encharcado.

— Já não — respondeu Elric, mais baixo do que pretendia. — Procuro viajantes. Homens que saibam lidar com o mar.

— Mar? — o taberneiro arqueou a sobrancelha. — O único mar que esses conhecem é o de cerveja.

Alguns riram por perto. Elric engoliu a vergonha e abriu a bolsa de moedas sobre o balcão.

O som do metal calou as gargalhadas.

— Pago em prata e ouro, — disse ele — a quem for digno de confiança. — o taberneiro o olhou por um instante, e então inclinou-se.

— Ouro atrai dentes afiados, rapaz. Cuidado com o que mostra.

Foi quando a música mudou.

Uma melodia leve e melancólica escapou do canto mais escuro da taberna. Uma voz feminina, rouca, mas bela como uma oração antiga, começou a cantar:

“Nas terras onde o sol não dorme,

Corre o rio sem nome e cor.

Ali o vento traz promessas,

E o chão se abre em flor.

Mas ai daquele que ousa colher...

Pois colhe junto o próprio ardor.”

Os dedos dela dançavam sobre um alaúde gasto, e cada nota parecia pesar mais que o vinho servido.

Era Maeve Darran, a barda nascida do fogo de Brinwald — cabelos em brasas ruivas, pele salpicada de sardas e olhos negros, profundos como poços.

Elric sentiu o peito apertar.

A canção falava de coisas que só ele deveria saber. Da flor. Da jornada.

Seria acaso… ou ironia divina? — pensou olhando-a. Maeve terminou a melodia e aproximou-se, o alaúde pendendo no ombro.

— Bonita bolsa essa, noviço. — disse, com um meio sorriso. — E mais bonita ainda a conversa que ouvi. Uma viagem ao Oriente, não é?

Elric se sobressaltou.

— Estava ouvindo? Aliás, já conhece o oriente?

Maeve sentou em cima do balcão riu e respondeu uma das perguntas:

— Eu apenas improvisei do que ouço aqui e... — ela olhou para toda a taberna, antes de continuar em um tom mais calmo e comedido.

— Difícil não ouvir quando o ouro canta mais alto que o alaúde. — respondeu ela, ajeitando-se ao balcão. — Ouvi dizer que busca companheiros. Pois bem, encontrei-me voluntária.

— Não aceito mulheres nessa jornada — replicou, firme, mas sem convicção. — Será longa, perigosa.

Maeve deu uma risada curta. — Homens morrem em viagens perigosas todos os dias. Mulheres, ao menos, sabem cantar antes de morrer.

Elric desviou o olhar.

— Eu não tenho como pagar muito e uma barda, é desperdiçar dinheiro, quando eu preciso mesmo é de uma espada.

— Não quero seu ouro. — ela interrompeu. — Sei me custear. — Passou o dedo pela borda do copo. — Onde há taverna, há ouvidos. E onde há ouvidos, há moedas.

Elric suspirou. — Ganha bem aqui. Por que partiria?

Maeve o fitou com os olhos sombrios.

— Porque é um inferno cantar pra homens que só sabem olhar pra minha pele e não pra minha música. — A voz vacilou, mas não cedeu.

— Sonho em ver o mundo. O mar de lava que dizem existir no sul, as águas salgadas que engolem navios, os animais com presas de marfim... e as pessoas do Oriente, com olhos pequenos e palavras sábias.

Elric a observava — e algo dentro dele se movia.

Naquele instante, ele percebeu: Aquilo era fé.

Não a fé dos monges ajoelhados em pedra fria, mas a fé viva, ardente, que fazia uma mulher sonhar com terras invisíveis, das quais só ouvia falar da boca de possíveis mentirosos.

Ela fala de mares e monstros como quem fala de Deus— pensou.

Mas talvez seja assim que o divino se revela — não nas orações, mas na fome de ver o que está além.

Maeve estendeu a mão.

— Então? Posso ir?

Elric hesitou por um momento que pareceu uma eternidade.

Depois, segurou a mão dela.

— Se for por fé… então que venha.

❖❖❖
Notas de Rodapé

As Guildas e o Mar Oriental

Brinwald sobrevive pelo comércio. Suas guildas — companhias de mercadores, mercenários e exploradores — enviam expedições para além do continente, em busca das terras do Oriente. Poucos voltam. Os que retornam falam de cidades douradas, mares vermelhos e desertos onde o vento canta nomes de mortos. Para o povo, essas histórias são delírios; para aventureiros, promessas de fortuna.

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