Eu sou mulher

da mesma forma que

o tomate é uma fruta

acho que algumas

pessoas já duvidaram

como se eu fosse

uma espécie fajuta

Mas, me tive verde metade da vida

e fui transmutando, aos poucos

entre formas, tamanhos

e cores

Caí numa tarde,

desprendida

do galho

fui parar em

alguns pratos

e dizem que é

pra isso mesmo que eu

sirvo, mas, ainda me indago:

- Qual é o gosto,

ou como é o gosto,

que eu devo ter?

Acho que você

é quem decide

escolher, não é?

Coloque um pouco de sal

ou então acrescente açúcar,

me misture no meio

de suas criações culinárias

Com o tempo, percebi, mesmo

que é muito fácil

me ter sem casca, conservada,

enlatada,

ou me ter morna

mole e derretendo...

Mas me abocanhe

madura, firme e

direto do pé

aceite, por fim,

minha natureza,

tudo de rubro que

sou, por dentro,

- a versatilidade

que trago à mesa...

Salive-me

lado a lado, e descubra

o gosto do doce

do azedo, do salgado

e do amargo

deixe o terroso e fresco umami

surpreender suas papilas

e, como mil maravilhas,

sinta minhas sementes macias

na ponta da língua

Crave a mandíbula

e perceba que

mesmo em temperatura

ambiente

ainda gelo seus dentes

e, ou você

repete

ou me cospe

ou engole de uma vez

sem pensar muito

na textura,

me deixando descer pela

garganta

temendo que seja veneno,

seu palato contendo,

é, eu entendo...

É um pouco

complexo demais

ser do tipo rara, silvestre

oblonga e rasteira

surgir do ovário de uma

flor que pode

dar frutos uma vida

inteira...

É uma existência carnal

que traz um por quê essencial

visceral, mas

tão trivial e efêmero...