Alguém escreveu uma vez: ''Amor só existe a dois. Amor sozinho chama-se tristeza.'' Calum podia dizer por experiência própria que essa era a mais pura verdade. Essa mesma tristeza retratada na frase massacrava seu peito incessantemente há seis anos, desde que se viu completamente apaixonado por Ashton.
Eles se conheceram em uma boate e a atração foi instantânea mas, algo a mais cresceu em Clysyn, algo que não deveria nem ter surgido. Zynn deixou bem claro desde o começo que o que ambos teriam não passaria de uma relação casual mas, não existe nada mais iludido do que um coração apaixonado.
Calum lutou, fez de tudo para conquistar o amado, porém, tudo isso foi em vão e agora ele estava ali, deitado em sua cama, observando o rapaz à sua frente, relembrando o que acontecera mais cedo enquanto o mesmo dormia em seus braços.
Após o fim da transa, Zynn mal se recompôs e já se colocou de pé, vestindo as roupas para ir quando ele segurou sua mão, pedindo-o para ficar.
— Não posso. — Calum o olhou nos olhos e riu nasalmente.
— Você não quer, é diferente. — abaixou a cabeça, passando suas mãos por seus cabelos para em seguida, voltar a encará-lo. — Você nunca quer ficar. — sussurrou.
— Nós já falamos sobre isso, Thomas, o que temos é algo físico, mas você insiste em querer colocar sentimentos aqui. Sentimentos que não existem vindos de minha parte. Sentimentos que nunca existirão. — cada palavra que Ashton dizia agia como uma dose do pior de todos os ácidos, corroendo e destruindo Calum lenta e dolorosamente. — É por isso que acho melhor pararmos com isso, não está lhe fazendo bem e mesmo não gostando de você dessa forma, eu me preocupo.
— Não. — falou desesperadamente. — É questão de tempo Ash, você vai me a... — não pode completar a frase, pois foi bruscamente interrompido por Fletcher.
— Eu não vou te amar, Calum. Isso — apontou para o rapaz e depois para si mesmo — já tem seis anos. Seis. — enfatizou. — Se eu não te amei até agora, eu não vou mais te amar. Entenda e aceite. — respirou fundo. — No futuro verá que tudo o que eu disse foi para o seu bem e me agradecerá. — sentou na cama, passando a mão nos cabelos de Clysyn, que já chorava. — Acho melhor eu ir. — se levantou para sair, mas o moreno segurou sua mão e após soluçar, disse em um sussurro:
— Fique só essa noite. — o cacheado ia se pronunciar quando foi interrompido. — Não, Ashton, me deixe falar. Eu só preciso de uma noite, só isso. Só para saber como seria a sensação. Apenas uma noite. Eu não me importo que seja uma farsa, eu não vou conseguir te esquecer se não fizer isso. — havia uma enorme súplica entre as lágrimas acumuladas no olhar frágil de Calum, como se a existência dele dependesse de um "sim" vindo do rapaz à sua frente, e, de certa forma, dependia. Clysyn sentia que não poderia mais existir se Zynn partisse e o deixasse sem saber o que seria ser amado por tal, mesmo que tudo fosse uma atuação, que nada fosse real. Ele precisava de pelo menos uma encenação romântica antes do fim desse trágico teatro no qual uma parte de si morria no final. — Apenas hoje, aja como se me amasse para que eu possa seguir em frente. — foi a vez de o coração de Ashton se apertar, ver Calum naquela situação o deixava mal consigo mesmo, mas ele sentia que era um mal necessário para ambos. Estavam presos em algo que não iria para a frente e ele sabia que a culpa era dele, era isso o que mais o entristecia.
— Tudo bem, eu ficarei. — falou após algum tempo em silêncio, vendo um pequeno sorriso no rosto de seu companheiro e então, deitou ao lado do moreno, deixando-se envolver pelo abraço lhe dado.
Ele sentiria falta daquilo, mas, com toda certeza, não mais que Calum.
[...]
Já era madrugada e Clysyn ainda não havia conseguido pregar os olhos, brincava com os cabelos de Ashton enquanto o mesmo tinha um sono tranquilo ao seu lado.
Olhou o horário no relógio em sua cabeceira. 4h27m. Decidiu se levantar e preparar algo para o café da manhã, já que não encontrava uma maneira de dormir. Na cozinha, preparou omeletes, bacon, suco de uva e os colocou sobre a mesa, junto com o cereal favorito de seu amado.
Sua cabeça estava uma bagunça e, vez ou outra, se pegava chorando por saber que estava preparando, na verdade, um banquete de despedida.
Já eram mais de cinco e meia da manhã quando sentiu seu sono finalmente aparecer, então voltou para seu quarto, deitando em sua cama e em seguida, envolveu Ashton em seus braços, adormecendo.
Fletcher acordou algum tempo depois e ao sentir o abraço de Calum, sorriu. Se retirou dele cuidadosamente para não acordar o moreno e se pôs sentado ao lado do mesmo, acariciando seu rosto.
— Sinto muito por não ser capaz de te amar. — sussurrou. — Acho que isso não aconteceu por que, no fundo, sei que não sou digno de você. — com um sorriso de lado, se aproximou do rapaz. — Adeus, Thomas. — e então beijou sua testa, saindo do cômodo, depois da casa e automaticamente, da vida de Calum, finalizando sua participação como um dos protagonistas da peça.
Ele saia dali rezando para que logo virasse apenas um figurante, algo quase imemorável, pelo bem do garoto a quem acabara de abandonar.
Ele nunca esqueceria Clysyn, mesmo que não da maneira que queria, o moreno era uma parte boa e importante de sua vida, sempre seria.
Enquanto Ashton chegava em sua casa, Calum acordava sentindo falta de algo que antes estava em seus braços e, ao se dar conta do que era, soube que aquele "algo" era alguém e que esse alguém nunca mais estaria ali novamente.
Se sentou na cama. Seus pensamentos bagunçados enquanto ele se lembrava de tudo o que aconteceu há algumas horas atrás. Levantou-se rapidamente e correu por toda casa com uma imensa dor em seu peito, em busca de Fletcher.
Após terminar o trajeto, se viu de frente para a mesa de café da manhã, perfeitamente intocada.
Com os olhos marejados, se sentou na mesa, servindo o cereal em seu prato.
Ele preferia pensar que tudo não passou de um sonho. Não apenas aquela noite, mas sim todos os seis anos que passara ao lado de Fletcher. Qualquer coisa, até mesmo o fato de aquilo ser fruto de sua imaginação seria melhor que a realidade.
Ashton não o amava, nunca o amou e nem seria capaz de amar. Ele precisava abandonar aquela insuportável tristeza em seu peito e encontrar um amor, um amor a dois.
Mas a pergunta que todos se fazem mas ninguém, nem mesmo Calum sabe a resposta é: ele conseguiria fazer isso?