Agora, eu sou um vampiro e você é a minha presa. Você me ofereceu o seu pescoço; eu me atraquei, agarrei, chupei, puxei, beijei e aproveitei cada centímetro do seu corpo. Eu suguei a sua energia. Você sugou a minha. Somos duas almas buscando alívio, mas o que resta depois de compartilharmos nossas essências é nada mais do que um abismo; porque nada pode nos livrar de um vazio que nós mesmos decidimos alimentar.
Não nos aproximamos. Você estica o braço para me tocar, mas eu me afasto. Me limito a pegar o essencial. Papel. Caneta. Agora me concentro em descrever a sua silhueta nas palavras: cada perfeição do seu corpo de mulher paira agora no meu texto; assim como o modo que nos tocamos como animais, o momento que buscamos prazer como famintos e urramos como selvagens.
Você se levanta e começa a vestir as roupas de renda que eu arranquei. Ergo os olhos para me embriagar com a sua nudez, antes de voltar a escrever. Você já está pronta para sair, quando eu solto a indagação que pica a minha mente por toda a noite.
— O que você buscava?
Você hesita por um mísero circuito de tempo.
— Amor.
Não consigo prender o meu riso.
— Lamento. Não iria achá-lo. Não em mim.
Você abre a porta. O casaco vermelho combina com as marcas do seu batom fixadas na minha pele.
— Você está enganado. — E lança um único olhar para o papel nas minhas mãos. — Eu achei.
A porta se fecha silenciosamente.

