Tarde de uma semana comercial: a do dia das mães, eu estava no centro, cercado por lojas dos dois lados da rua. Obviamente como um bom cidadão, estava na calçada andando e procurando algo para minha querida mãe. Eu consegui uma hora de folga logo após o primeiro período do meu trabalho para dar uma olhada nas lojas e bazares. Não tinha todo o tempo do mundo para dar a atenção que gostaria na seleção dos possíveis presentes, e mesmo se tivesse, nenhum chegaria aos pés daqueles que minha mãe me dá, afinal ela é uma mãe. Andando apressado passei e parei por muitas vitrines, sempre observando e pensando no que comprar, nenhuma coisa realmente me agradou, eu estava perdido. Em certo momento me deparo com três sujeitinhos andando na calçada em minha frente. Eles não estavam com pressa, e de uma forma lenta e despreocupada eles andavam. Raiva! Algumas pessoas simplesmente não têm o que fazer, não trabalham, não têm compromissos, eu queria ter paciência para lidar! Tenho uma mulher, dois filhos, e uma mãe para cuidar, tenho uma família para sustentar, tirei tempo do meu trabalho para gastar dinheiro com minha mãe e daqui uns minutos tenho que voltar.
Nesses momentos não sei o que fazer, eu não sabia se atravessava, se empurrava, se conversava para eles darem licença, um simples "com licença" talvez já resolvesse tudo. Mas eu estava fervendo, minha alma era fogo, eu ia ser ríspido com os três sujeitinhos se falasse. Não é algo que eu desejo, é algo apimentado que sai da minha boca nas horas de raiva. Decidi ficar em silêncio e seguir o ritmo dos três. Talvez eu não teria tempo para comprar o presente de minha mãe naquele dia, mas é melhor isso do que ser só mais um mal-educado por aí. Eu os olhava, e eles conversavam animadamente, caminhavam com uma paz nos passos, com um sorriso de satisfação por estarem fora num dia de sol, a amizade dos três era inegável, por um momento aquela vista me deixou em paz, uma felicidade contagiante perseguia os três enquanto andavam. Eu estava impaciente atrás deles e eles não percebiam, nem ligavam, a alegria os blindava do exterior de seus seres. Eles andavam devagar, e observando me peguei pensando como se em uma epifania, será que eles realmente então devagar?
Percebi que eles andavam aproveitando o momento, sorrindo com cada detalhe, e o sol refulgia em seus cabelos e em suas faces, e mesmo assim eles não tapavam seus olhos da luz. Seus passos eram suaves, suas vozes eram descontraídas, seus risos eram uma música nostálgica e bonita, e por onde eles pisavam eu via humanidade. Eles não estavam devagar, eu que estava rápido demais. Não somente eu estava, mas o mundo está, a maioria das pessoas estão. Todos estão ocupados demais com seu trabalho, em enriquecer, e guardam seu dinheiro que se acumula em seus cofres nunca utilizados, por talvez pensar que vão usar para algo mais útil depois, mas não percebem que o depois não existe. A vida dos homens é curta para viver de bens, para não andar lentamente e aproveitar cada momento, sentir a luz do sol queimar os pelos do braço. Eu não estava mais andando rápido, mesmo não tendo tempo para perder, meu trabalho começaria logo, mas eu não me preocupava com isso. Eu entrei numa vibração positiva juntamente com os três sujeitinhos.
E na calçada ensolarada eu estava caminhando lentamente, parando em frente de cada vitrine, entrando em cada loja, aproveitando o momento de folga mesmo com o tempo acabando. Pronto para voltar ao meu trabalho, de mãos vazias, mas tranquilo, eu não precisava dar presentes para minha mãe. O maior presente que ela pode receber é tempo. Tempo para vê-la, cuidá-la como ela sempre fez comigo. Tempo é o maior presente que alguém pode receber. A vida só é valiosa porque temos data de validade.