Albert era um homem cinza. Acho que essa era a melhor colocação que poderia existir. Desde criança, ele era estranho: gostava do que era morto, do que não se mexia muito, dos dias chuvosos e de contos aterrorizantes. Era amante de casos suicidas e casos sem solução.
E também era apático — incapaz de chorar até mesmo no funeral de sua mãe e de seu pai. Ele apenas respirava e vivia seu dia: acordar, comer, trabalhar e dormir.
Ainda assim, ele tentou se relacionar com pessoas. Conseguia fingir ser amigo de um ou dois, beber duas cervejas na sexta-feira e ir embora antes das 21 horas. Foi nesses encontros que conheceu sua namorada. Bem, ele nunca quis namorar, mas a convenção social quase exigia que um homem de 30 anos estivesse com alguém — e, depois, se casasse.
Ele casou com muita resistência e sob pressão da família da moça, que era de família rica. E, como era mais nova que ele, quase diria que estava apaixonada.
Quando o tempo passou, deu graças aos céus por ser estéril — odiava a ideia de ter crianças chorando aos seus ouvidos, que viviam sem som ao seu redor. Ele só apreciava o som da chuva ou de músicas fúnebres do século passado.
E um fato curioso: ele jamais sorria. Não de verdade. A realidade é que apenas replicava sorrisos, que mais se assemelhavam a carrancas tortas, sem jeito. Sem vida.
Ele apenas se sentia bem quando algo ruim acontecia — e não sabia explicar o porquê. Quando seu vizinho barulhento infartou na noite de Natal, ele suspirou de alívio. Todos choravam, mas ele apenas apreciou seu vinho tinto em seu canto cinzento. Estava feliz por não haver mais o irritante “Jingle Bells” todo ano. Agora poderia comemorar aquela data comercial vazia com uma taça de vinho, um pedaço de bolo quase sem açúcar e ir dormir às 22 horas, como fazia todos os dias.
Um dia, acordou em uma manhã nublada, e tudo o que encontrou ao lado de sua cama fria foi uma carta parda que dizia:
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"Eu encontrei uma pessoa e estou com ela há alguns meses. Cada dia que cheguei atrasada foi porque estava com ele.
Albert, sejamos francos: nosso casamento é uma fraude e sabemos disso. Você sempre frio e triste, pensando que a vida era vazia e sem sentido, tendo aqueles sonhos medonhos dos quais sentia prazer em contar… Eu sempre detestei tudo isso e só fiquei porque não sabia como partir, já que fui eu quem quis que ficássemos juntos. Senti certa pena desse seu jeitinho de coitado — isso é atrativo para a maioria das garotas jovens.
Agora posso dizer adeus, e espero que me perdoe. Tudo bem se não me perdoar.
Eu nunca consegui entender o que vi em você. Tentei tanto fazer com que me amasse, sorrisse para mim... Até nossas malditas noites de amor mais se assemelhavam a ritos sem graça. Viver com você é causticante, silencioso e ácido.
Mamãe estava certa e eu não a ouvi…
E ainda penso o que fazia nas madrugadas em que saía e só voltava ao amanhecer.
Bem, é isso. Não me procure.
Assinado: Eleonora."
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Ah… ela citou seus passeios noturnos. Já fazia um tempo que ele havia começado com aquilo. Na verdade, tudo começou com um sonho terrível: uma pessoa desmembrada e sem coração em uma rodovia, e ele apenas a observava. Foi ali que ele sorriu ao acordar — pela primeira vez.
Desde então, começou com essa obsessão. Procurava casos como o da Dália Negra e outros. Achava excitante e, até mesmo, conseguia ter prazer ao ver aquilo. Teve mais orgasmos assistindo a sangue em documentários do que em todas as noites com sua esposa.
Tudo o que fazia seguia seu ritual padrão: um banho gelado, um café sem açúcar, vestindo o mesmo sobretudo de vinte anos atrás e as mesmas luvas — que logo seriam incineradas. As olheiras eram visíveis, assim como a escuridão ao seu redor. Sempre sozinho. Sempre no escuro.
— Mais um dia 10 de novembro… — disse ele, saindo de seu casebre em meio ao mato. Caminhou zombeteiro às três da manhã, em meio às árvores secas, procurando qualquer pessoa — de preferência, uma mulher. Sempre precisava ser uma mulher.
Ele amava casos trágicos com mulheres. Tudo começou quando sua mãe o abandonou. Desde então, tornou-se incapaz de amar uma dama. Era apenas… oco.
Assoviava, de forma assombrosa, uma canção que só ele sabia:
"Pobre homem, doce homem
sem coração, feito de carne e ossos
sem propósito, ele precisa de amor
mas um dia achará
um achará?
até lá, permanecerá vazio"
Depois de um tempo, achou, no meio da estrada, sua primeira vítima: uma moça alta, não tão bela, mas que parecia pensativa, tão zombeteira quanto ele. Cabelos compridos caíam sobre o rosto, um vestido branco e curto, maquiagem pesada, saltos. Parecia estar vindo de alguma daquelas festas de chácara — havia muitas naquela redondeza.
Ela era um grande banquete.
Ele se aproximou sorrateiro. Não havia ninguém ali, e Albert sabia disso. Então, ficou frente a frente com a tal dama, que, distraída, o olhou.
— O senhor precisa de ajuda? — disse ela, com a voz meio embargada, meio risonha.
Pobre coitada. Estava bêbada. Coração adormecido pela bebida era mais fácil… que sorte.
— Não, querida, mas você parece precisar da minha ajuda. Céus, seus olhos estão vermelhos… andou chorando? — fingiu pena, de forma convincente.
— Ah… bem, talvez. Desculpa, só quero voltar para casa. — Ela se afastou inicialmente, mas logo cambaleou e precisou parar.
— Claro, claro… — a voz dele soava melodiosa. — Quer que eu a acompanhe? Parece perigoso uma mocinha tão doce andar sozinha. Existem pessoas más por aí.
Ela não poderia recusar. Ele tinha boa aparência, apesar do tempo ter corroído tudo de bom em sua alma. Superficialmente, ainda parecia perfeito. Parecia confiável. E ela também não tinha como pensar muito — estava tão cansada…
— Tudo bem… — disse, com um sorriso, e passou a caminhar com ele. Mal sabia que era em rumo à morte.
— Qual seu nome, moça?
— Angel.
— Um nome bonito.
— E o seu?
— Hm… me chamo John.
Albert não foi criativo com um nome novo — ele admitia. Mas já havia usado tantos…
Enquanto caminhavam, Angel falava sobre o que a deixava triste: terminara com o noivo, perdera o emprego, a melhor amiga era uma vadia… Tudo tão vão e patético. Um coração tão pobre e carente de atenção — eram os melhores.
Albert tentava não sorrir com a narrativa triste da pobre donzela, mas era inevitável. Disfarçava com palavras amigáveis de superação e conseguia mantê-la entretida. Ela não notou, mas já estavam longe do caminho de casa, indo parar em um cemitério belo e barroco, pobremente abandonado.
Horas se passaram em meio à conversa sobre sentimentos, e ela enfim se deu conta:
— Onde estamos? Não me lembro desse lugar.
— Isso não importa mais…
Um movimento rápido. Uma imobilização meticulosa. Um pescoço quebrado em segundos. Um corpo morto. E tudo o que havia agora era um rosto pálido e manchado de lágrimas que sequer tiveram tempo de cair.
Ele se ajoelhou junto ao corpo, acariciou os cabelos dela como se fossem de uma amada distante e deu um sorriso vazio.
— Meu nome é Albert… Uma pena que você nunca saberá. Pelo menos você teve um bom ouvinte para falar sobre o que sentia. Acho que, pela primeira vez, eu quase senti pena. Bem… quase.
Pegou a faca em seu sobretudo e rasgou a frente daquele belo vestido branco. Uma pena… parecia caro. Abriu a caixa torácica de forma suja — não poupou punhaladas, nem rasgos. Sujou o belo corpo e o belo jardim abandonado, enquanto os santos barrocos observavam com olhares tristes.
Por fim, quebrou as costelas de forma rude com um alicate que também guardava no pesado sobretudo, espalhou os ossos de forma aleatória e arrancou, com suas próprias mãos, o coração puro e triste de Angel.
— Nunca mais sofrerá por amor ou pela sociedade injusta e falsa, meu amor. — Segurava o coração que já não pulsava e, por fim, fechou os olhos da vítima, deixando agora lágrimas de sangue em seu rosto. — Agora, não sofrerá com mais nada.
Que grosseiro… borrou a maquiagem de uma dama mediana. Ela seria notícia por uns bons meses. Quem sabe se tornaria um documentário? Não… ele exagerou. Ninguém ligaria tanto assim.
Saiu dali, sorrateiro. Fez o sinal da cruz — mesmo sem crer em Deus — quando viu a igreja ao longe e caminhou em direção ao vazio.
— Enquanto sou incapaz de ter um coração… preciso arrancar o dos outros — sussurrou, pensativo. — Uma pena que ninguém fará o mesmo favor por mim. Morrerei em uma cova como qualquer um, sofrendo neste mundo podre… Mas poupo o sofrimento do próximo. Sou quase como um novo santo! Santo Albert… — riu, pela primeira vez em tanto tempo. — Tão patético…
Logo amanheceu. Ele teria que fingir ser o pobre Albert novamente: o abandonado pela esposa, o traído pelos amigos, o amaldiçoado pelo patrão, o que dava medo em crianças com seu olhar sério, o que sorria de forma vazia e esparsa para o carteiro…
E o que teria que fingir choque ao notar, no noticiário, o cruel assassinato ocorrido naquela noite.
Até lá, ele seria ele mesmo.
O arrancador de corações.
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