Ondas de areia.
Lovely
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 24/08/22 16:03
Editado: 24/08/22 16:20
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 11min a 14min
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Este texto foi escrito para o concurso "Explorando Novos Mundos" Concurso Explorando Novos Mundos - "Escreva um Conto de Ficção Científica, retratando um novo universo, nunca explorado antes e as particularidades do mesmo." Ver mais sobre o concurso!
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Notas de Cabeçalho

Vocabulário de Dukan

Com pouca variação, mas devido o período de duração dos dias no planeta novas nomeclaturas foram empregadas. Desde a conquista espacial de 2214, a moeda de Dukan passou a ser unificada em conjunto dos planetas do sitema XYAI01

Turã(s): Dia

Cazina(s): Hora

Geu(s): Minuto

Fow(s): Segundo

Loric(s): moeda em papel

Cetric(s): centavos feitos de cobre

Kroue(s): unidade de temperatura

Teru(s): metros

Capítulo Único Ondas de areia.

-Tetra, como está o clima hoje?

-Boa cazina Tynx. Em Dukan faz 59 kroues, a temperatura do ambiente é de 64 kroues. Possíveis tempestades de areia e queda de lixo espacial.

-Quais são os dados de leitura desta madrugada ?

-Processando. Dados não encontrados.

-Tetra, quais são os dados de leitura de ondas desta madrugada?

-Dados eliminados as 05 cazinas e 06 geus e 43 fows devido a queima de receptores.

- Isso só pode ser brincadeira – sentei em meu computador e abri o programa - NEM FERRANDO ESSA POEIRA DE MERDA NESSE PLANETA DETONOU TUDO– respirei fundo e bati a testa na mesa, olhei o computador e iniciei a análise - Aparentemente vamos precisar de memória, processador para suporte, pastas de temperaturas e receptores. A questão é: de onde eu vou tirar dinheiro?

- Loja de penhor a 10 terus, fecha as 16 cazinas.

- Vou vender você. Estou indo até o Fales. Tranque tudo.

Dukan nunca foi um bom mundo. Junte areia vermelha com clima variável e ciclos solares imprevisíveis e receba o pior mundo do universo. Por algum acaso alguém achou que isso seria o vislumbre da salvação, “ah, mas ele era um gênio", cara eu tenho TOTAL certeza que esse gênio nunca pisou nesse protótipo de planeta. Por trezentos anos sobrevivemos em um lugar que só serve como posto de combustível para espaçonaves. Formigas num terrário tem mais dignidade do que dukanianos. As escavações cada vez mais intensas em busca do combustível Perseph, “capaz de aguentar a combustão das espaçonaves que viajam a velocidade da luz salpicado com almas e sonhos de cada trabalhador, abasteça aqui!”, trouxeram consigo tremores e as tempestades de areia.

Mas, depois de um tremor intenso algo deu início a uma propagação de ondas orgânicas, começando no subsolo e submergindo a superfície violentamente, como algo se movimentando entre as camadas do planeta. Desde então, eu e Tetra estamos investigando. O objetivo? Enriquecer o suficiente para subornar uma nave de carga e cair fora desse lugarzinho.

- Boa cazina Fales, muito movimento hoje?

- O que vai ser dessa vez?

- Tudo dessa lista.

- Vai custar 1807 lorics e chega em 6 turãs.

- Eu não tenho esse tempo, não tem nada a pronta-entrega?

- Nada que possa pagar.

- Posso pagar com trabalhos braçais – exibi meus músculos e ele revirou os olhos - OU você coloca na minha conta.

- Não tenho serviço pra você.

- Não sabe de nenhum trabalhinho que possa me indicar?

- Olha, se quiser saber, recebi uma notificação de recrutamento, mas acho que não faz o teu tipo.

- Quem está recrutando?

- Um grupo militar. Está na cidade buscando alguns serviços, pagam 4000 lorics a cazina.

- ISSO É MARAVILHOSO, onde eu me inscrevo?

- Pode encontrar-los no Moulin, mas tem que ir sozinha.

- Eu, ir até lá e falar diretamente com militares sem nenhuma proteção ou segurança? Pode encomendar todas as peças.

- Encomendas só com pagamento adiantado.

- Eu tentei – peguei minha lista e bati a poeira da minha roupa – boa sorte para mim.

O Moulin era o restaurante mais decente de toda a região, comida fresca e cilindros de oxigênio a disposição, o que poderia ser melhor? Porém, se você não tem muito dinheiro ou não usa uma farda e muito menos tem os amigos certos, entrar no Moulin não passa de um dos delírios mais loucos. Fui recebida pela brisa dos deuses com um abraço geladinho. Octaky estava na entrada recepcionado as pessoas.

- Boa cazina Oct! Vim pra conversar com os mili--

- BOA CAZINA PEQUENA TYNX, que prazer ter você aqui – ele veio me dar um beijo na bochecha - agora fala bem baixinho senão eu vou ficar encrencado.

- Primeiro: Fales me mandou pra cá, segundo: eu sou mais alta que você.

- O Fales? Só pode tá de brincadeira. – ele olhou sob meus ombros por um minuto- estão no porão, entre pela cozinha que vão te mostrar o caminho.

- Valeu – fiz sinal de arminha e pisquei um olho para ele - tchauzinho.

Atravessar as portas da cozinha fez um arrepio subir pela minha espinha, as pessoas cochichando só piorou o sentimento de mal presságio. Um homem vestido de garçon me recebeu na porta dos fundos, depois de uma revista pude entrar. O porão era gelado e, se não fosse pelos cinco oficiais sentados atrás de uma mesa larga de metal, eu me sentiria no paraíso. Havia outras pessoas, mas era tão escuro que mal conseguia identificar cada um. A tensão no ar podia ser engolida se alguém bocejasse.

- Pelo menos aqui está fresquinho né? – Falei pro oficial ao meu lado que ignorava minha existência.

- Imagino que você seja a Tynx – um homem alto, de cara cansada e com uma constelação na farda me encarou – ou Marshmellow, DRKV, Vaseliss ou qualquer nome que use nos servidores.

- Esse cara sou eu, ao seu dispor senhor. Não sabia que era famosa.

- Não é. Fales te mandou.

- Isso aí.

- Ele disse que você não saberia como se portar na frente de uma autoridade e aparentemente não mentiu. – Depois de uma breve conversa com os outros oficiais ele se levantou – Os sargentos irão cuidar da seleção dos outros e você vem comigo.

No fundo da sala havia uma grande porta dupla de metal, ladeada por dois soldados armados. Todo o ambiente era de um silencio agoniante e só escutava os “claks” dos sapatos.

- Eu me chamo Rowan, sou General e organizo a proteção de Dukan. A seis meses estamos monitorando os dados que seus receptores vêm captando e as anotações que tem tomado.

- Fales armou pra mim vir para cá?

- Nós armamos.

- E vocês não vão me pagar nada.

- Nem um cetric.

- Que mané desgraçado-extrato-de-poeira-mentiroso.

- Seu vocabulário é encantador, Zrag vai apreciar sua presença.

- Esse é o cara mal?

- Sugiro que passando pela porta você pense bem nas suas palavras e ações. É sua cabeça em jogo.

- Piada de mal gosto. – Ele me encarou – ah, não é piada, saquei.

Entrei numa nova sala onde uma mulher usando farda cinza impecável me aguardava. Era um ambiente menor, mas com a mesma aparência do último. Dessa vez havia apenas 2 cadeiras.

- Sente-se. – olhou para mim, curiosa – como já deve saber estamos recebendo ondas diferentes nos últimos meses. Tivemos empecilhos para interpretação e captação, até descobrirmos que algumas pessoas estavam conseguindo interceptar através de receptores contrabandeados. O que fez para decifrar as ondas?

- Programação, demorei umas semanas para ajustar os receptores, funcionava muito bem.

- De fato, foi uma pena queimá-los. Não me olhe assim, Fales disse que desta forma você viria até nós – ela riu, mostrando presas acavaladas assustadoras – queremos seus serviços voluntários. Estamos organizando uma breve expedição com alguns cientistas e você será a nossa analista.

- Acho que vou passar o título.

- Não estou perguntando ou sugerindo. – Ela apontou para porta – Esse é um programa militar secreto e se não desejar colaborar, saiba que precisamos apenas do seu cérebro – ela me olhou com uma cara meiga e entregou um fichário roxo – estes são os dados para a expedição, leia ele e quando terminar o General Row virá te buscar.

RELATÓRIO DUKAN N45601

“Estamos na 11º turã. A cratera não expandiu, mantendo a circunferência de 15 metros. O ambiente está 10 kroues a menos que ontem e é possível sentir a progressão do frio. Os soldados não suportam a proximidade devido a falta de roupas adequadas. [...]”

43ª turã

[...]Com a interceptação de dados de cientistas sem registro conseguimos construir um padrão, parece algum tipo de comunicação (?), iniciaremos o plano de construção da exploração. [...]A padronagem demonstrar buscar comunicação específica[...]

- O que acha? – Row entrou na sala, com uma farda simples.

- Se eu tivesse lido isso antes nem precisava da armação, ameaça e blablabá.

- Zrag gosta de fazer assim. Queremos que participe da expedição com os outros .Será daqui a 3 turãs.

- 3 turãs? Eu não estou minimamente preparada para fazer isso.

- Ninguém está e provavelmente nunca estaremos. Estamos sem tempo, faremos alguns testes para garantir que será uma missão segura. Entrarão alguns metros dentro da cratera para interceptação e interpretação das ondas.

- Por que não foram atrás de mim ou dos outros antes? Porque estão decidindo isso tão repentinamente?

- O plano inicial era este, mas alguns preferiam tentar resolver a seu modo.

- Quantas pessoas e quanto tempo isso vai levar?

- Dois cientistas em capsulas separadas, ficarão na cratera por 7 turãs .

- Nem quero imaginar – me levantei e estralei os dedos - Que comecem os jogos.

Os turãs passaram como uma tempestade, o treinamento de resistência ao frio, as horas de planejamento da capsula, tudo foi embora quando vi a cratera profunda, vazia, gelada. Com as simulações e testes me tornei obcecada pelas ondulações e vibrações, a alteração e estabilização de temperatura, o ensurdecedor silencio que ecoava.

-Estão todos prontos – Row me entregou meu capacete e luvas – aperte o botão caso precise.

Minha capsula foi montada a dedo com todos os equipamentos que escolhi inclusive pude ligar Tetra ao sistema principal. Estávamos aguardando uma pausa na vibração para todos entrarem em segurança. Durante os testes nenhuma roupa parece o suficiente para o frio que gradativamente piorava enquanto desciamos e então recebemos aquecedores internos.

- Boa cazina Tetra, qual a temperatura de hoje?

- Boa cazina Tynx. Em Dukan faz 67 kroues. A temperatura do ambiente é de -16 kroues.

Aos poucos cada um descu e estacionando sua capsula. Num esquema de pernas aracnoideas, vincávamos nas paredes da cratera e davamos início a interceptação. Os primeiros turãs foram calmos, as ondas vinham suavemente, sem um padrão específico e em momentos alternados, me perguntava em como os outro dois estavam e se tinham captado algo que não consegui, porém no 6º turã um grande tremor surgiu e ondas eclodiam fazendo as capsulas ligarem os sinais de alerta. O botão não funcionava, a comunicação foi interrompida, alguém tinha que ter reparado nisso mas por horas se manteve o silêncio. Conseguia sentir a capsula deslizando pela parede e soltando as garras gradativamente . A queda foi lenta, mas ao invés de ser esmagada pelo impacto a capsula mergulhou e submergiu. Água?

Era possível enxergar pelo visor pequenas luzes e uma grande porção de água sem começo ou fim, depois de algumas cazenas atolou em algo e decidi sair. Era terrivelmente frio e escuro, porém a partir do momento que a minha visão adaptou pude perceber grandes tuneis de uma altura que não conseguiria quantificar. Cada um tinha seu arco entalhado com coisas em uma língua desconhecida. Depois de tentativas frustradas de tentar me aproximar desisti e voltei a capsula para tentar estabelecer contato. Estava me aproximando quando percebi o movimento das águas e vibrações ensurdecedoras seguidas do surgimento de um grande barco navegado por um homem que pareceria facilmente um dukaniano comum se não fosse pelos olhos sem cor. Ele parou o navio e estendeu uma rampa, calmamente ele veio em minha direção e estendeu a mão úmida.

- Bem-vinda de volta, querida. Sentimos sua falta.

❖❖❖
Notas de Rodapé

Esse foi um dos textos que mais expremeram meu cérebro e eu amei cada partezinha. Espero que tenham apreciado.

Apreciadores (2)
Comentários (2)
Postado 29/08/22 15:32

Foi um saco ver você fazendo isso, mas deu pro gasto.

Postado 29/08/22 15:41

não adianta tentar fingir que não me ama

Postado 05/10/24 01:09

Amei a criatividade do vocabulário Dukan. A história daria um ótimo romance, filme ou jogo :D .

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