vó, eu queria conversar
sobre a última loucura que fiz
e como eu consegui sobreviver
ao seu adeus
vó, queria poder te mostrar como minhas unhas cresceram
desde a última vez que te vi
e como minha língua ficou ainda mais afiada,
minha mente ainda mais estilhaçada,
como sempre tentei esconder
coisas que só a senhora entenderia
e não julgaria
faz um mês,
na verdade, mais
que não consigo ir na sua casa
e antes disso,
fiquei tantos e tantos sem ir...
quando o passado vai parar de me assombrar?
queria que eu tivesse tido tempo
te de perguntar.
parece ser um crime
falar sobre a dor
e sobre amor
sem gaguejar
cada parede se desfaz em minha mão
quando menos percebo, me lembro
que te vi
na minha mente
me sussurrando
alguma coisinha boa
ou um xingo...
a dor chega até a não fazer mais sentido!
é como se eu, a partir daquele momento
sentisse o real golpe de realidade:
é, não,
não sou alguém de mentira, que segue um roteiro
esta dor é real
e as pessoas morrem mesmo,
as pessoas que eu amo,
não são imortais
e agora eu sei
o que muitas outras pessoas sabem
e nunca conseguiram colocar em palavras
meu coração se afoga
meu rosto de pavor,
se contorce
minhas lágrimas caem no teclado
provocando curto
nada, sobre isso,
nunca se resolve!!!
fico me preparando
para a próxima óbvia morte...
e o que fazer?
o que fazer?
não quero que seja mais ninguém
nem os de sangue,
nem os escolhidos,
nem os amados que em meu coração
foram enterrados,
mais ninguém
não quero mais sentir
essa dor por ninguém
mas é impossível, não é?
sou uma artista melodramatica
e extremamente chorona
eu sempre vou sofrer
e sempre vai doer, cada vez mais
seja por esta,
seja por outras...
por que diabos
nunca me
ensinaram que o
tempo só causa dor?