Reler meus velhos textos é uma experiência de autoanalise. Impressiona-me como certas coisas mudam, certas coisas se mantêm iguais, e como todas elas dependem de quem está as enxergando.
É perceber a estranheza das palavras e das ideias e das histórias que são tão minhas. Parecem vir de outro ser, ou de um ser que nunca existiu na terra, que falava coisas sem conhecimento de mundo. Mas aí me surpreendo, porque quando vejo o nome do autor, me reconheço. Naquelas palavras que não uso mais, naquelas histórias que não são mais compatíveis com meus princípios, com aquela luta que não quero mais lutar. Não sou mais eu, mas estou aí.
No entanto, naquela estranheza toda, eu noto que os dilemas são os mesmos. Trabalho, relacionamentos, sonhos, desejos, medos, frustrações: está tudo aí. Como pode tudo tanto mudar e tudo continuar tão igual? Isso é uma coisa que de fato me impressiona. A mesma rotina, as mesmas experiencias, a mesma vida, mas com um olhar diferente, um jeito novo de viver o dia-a-dia.
Ter esses registros de quem eu era e de onde eu estava há tempos atrás é uma grande sorte. Feliz dos que assim o regozijam. Hoje, embora não me reconheça em certos textos, me sinto privilegiado em poder saber o quanto eu mudei. E, sem sombra de dúvidas, na análise de hoje, mudei para melhor.
Espero daqui alguns anos poder me reconhecer novamente mesmo sendo ainda mais diferente do que já fui. Espero também ver que os dilemas também sejam outros. Que a rotina que me faz sorrir e me faz chorar seja uma rotina mais fácil, sem tantas frustrações e privações. Reler meus velhos textos para me ver longinquamente mais perto de mim.