Hoje, quando acordei, ao abrir os olhos me deparei com uma escuridão terrível. Não havia sombra ou resquício de luz, somente o breu. Esfreguei os olhos com as mãos, na esperança (ingênua) de que eu conseguiria afastar aquela escuridão (e o medo que eu sentia).
Não resolveu. Tateei o chão, em busca de algo que pudesse me ajudar. Nada tinha. Fui em busca de paredes, mas tudo que minhas mãos encontraram foi o vazio. Não faço ideia, sequer, há quanto tempo estou aqui – com certeza, mais do que conseguiria contar nos dedos, a sensação é essa. Mas o tempo é tão confuso... como poderia confiar nele? Há momentos que passam tão rápido que eu mal posso aproveitá-los, e há outros em que me sinto tão perdida que parece que percorri o mesmo labirinto por meses – quando na verdade se passaram poucos minutos.
Todos os dias, travo batalhas na minha mente. A escuridão que recaí sobre meus olhos é perfeita para criar fantasias: e nelas, eu estou sempre em busca de algo. Esse algo, eu não sei nomear, apenas sentir: é um quentinho que percorre todo o corpo, é sorrir deliberadamente, é abraçar sem motivo e sentir com intensidade. O que é isso? Eu não sei, cada um nomeia como prefere. Eu gosto de chamar de “aquilo que procuro sem jamais encontrar”. Pelo menos, tenho tempo de sobra pra imaginar como seria encontrar o que tanto procuro.
Todos os dias me esforço para lembrar, entre uma fantasia e outra, que existe um curso natural da vida, no qual tudo um dia acaba e o sol renasce esplêndido. É tão difícil lembrar que já fez sol... mas sei que um dia ele ressurgirá para aquecer meu espírito e inundar todo meu corpo. Enquanto isso, sigo de olhos fechados, enfrentando a escuridão a meu modo. Sorrindo carinhosamente, abraçando-a algumas vezes. Aos poucos, aprenderei amar o sol e a lua, mas também a ausência de luz. Para que o universo continue funcionando, é preciso que cada um faça sua parte – seja iluminando ou esquentando a vida, até mesmo um buraco negro desempenha seu papel ao sugar tudo que está ao seu redor. As vezes é preciso recomeçar do zero.
É. Acho que é aqui que estou.
Eu me lembro agora.