Sempre tive uma inclinação
A objetos pontudos
Cortantes, perigosos
Passar pelo arame farpado
Sem me esfarrapar
Fusos de rocas de fiar
- Será a sina feminina?
Anéis de pregos coroando
A circunferência de
meu dedo indicador
Alfinetes atravessando as gengivas
Piercings causando
dores cósmicas
deliciosas e ritualísticas
Marteladas sutis nas unhas
Sangue coagulado entre as cutículas
Palitos finos para rasgar
O couro cabeludo
que coça coça coça
Agulhas para perfurar espinhas
E tantas outras perigosas anedotas
Inúmeras
Lâminas fatais
Em minha pele fina
- Já aposentadas
Ouvi suas vozes outrora,
Mais altas em minha mente
Já saboreei
O fio de luz cortante
Que refletia quando
As pegava entre os dentes
Uma metáfora, algumas possibilidades
Desde que eu era criancinha
Às vezes fica quase impossível
Não me render às suas
Risadinhas...
Até onde eu consigo ir?
Quanto posso experimentar
Dessa dor auto infligida
A única que não vem de dentro
De minha alma perseguida
Mas venho me contendo
Respirando fundo
Escrevendo lancinantes poemas
Uma pena, elas dizem
Uma linha estrídula
Em minha epiderme
Poderia resolver
antigos problemas
- E mordazmente, causar
Mais alguns...
Mas venho me contendo
Me contando
Nessas glaciais palavras
Que me saram na medida
Que me estripam
Pregos enrolados
Ao redor dos dedos
Respiro fundo,
atravesso a ponte
sem me arremessar na via expressa
Me contento.